A tecnologia é um caminho sem volta, e negócios que não se adaptarem a essa necessidade vão sofrer.
Transformação digital não é aprender usar o Zoom em tempos de pandemia. Muitos acham que, só porque foram obrigados a usar videoconferência e trabalhar de forma remota, então digitalizaram a empresa em tempo recorde. Ledo engano. Na verdade, percebo que isso mostra o quanto há atraso quando falamos de uma real mudança nesse sentido.
A realidade é que a tecnologia é um caminho sem volta, e negócios que não se adaptarem a essa necessidade vão sofrer. Por outro lado, ganham muito aqueles que percebem que, no fim das contas, estamos falando sobre usar o poder da informação em favor do cliente.
O principal objetivo da transformação é como utilizar, de forma simples, a tecnologia, a informação para resolver os problemas dos clientes. A transformação precisa ser centrada nos clientes, não nos problemas da própria empresa. E isso não é privilégio das empresas já digitais ou de tecnologia.
De fato, quanto menos digital é o negócio da empresa, mais impactante pode ser a transformação. Empresas não digitais têm nas mãos uma grande oportunidade de agregar tecnologia e informação ao portfólio.
Em uma rápida busca sobre “transformação digital”, a gente encontra muitas notícias sobre como negócios estão revolucionando seus resultados porque adotaram uma essência verdadeiramente digital. Isso no varejo, na indústria, nos bancos, na construção civil, no setor imobiliário, alimentício, onde mais pudermos sonhar.
Ou seja, transformar não é só criar um canal a mais de marketing digital e, sim, fazer com que todo o processo seja alinhado pela tecnologia e pela informação. De nada adianta uma comunicação maravilhosa, se seu produto/serviço e os caminhos para chegar a ele são falhos.
Não precisa ser empresa de tech para ser tech
Naturalmente, para as startups e fintechs, essa mentalidade é intrínseca, pois a tecnologia é o produto, é a base da existência – inclusive, meu amigo Gustavo Caetano, CEO da SambaTech, referência em transformação digital, tem um podcast dedicado a esse tema.
Um setor que, por exemplo, vem se transformando é o imobiliário, e a pandemia acelerou esse processo. Vimos isso no lado comercial, sem a possibilidade do contato presencial, com toda a gestão do marketing digital para atrair o cliente e as soluções bem feitas de realidade virtual para visitas de imóveis a distância.
O setor de imóveis também apostou em alternativas digitais para o processo burocrático de compra, com aplicativos de simulações, validações de crédito, além de plataformas digitais de busca de documentos e assinaturas em cartórios, entre outros passos. Empresas tradicionais e startups tem apresentado boas novidades nesse setor.
Na construção civil, que é minha área de atuação – e que escrevi um artigo específico sobre essas inovações no setor –, posso falar também de algumas transformações digitais. A questão é que, por mais que seja um negócio de milhares de anos, de cimento, areia e água, a tecnologia pode transformar e resolver problemas dos clientes.
Então, cito dois exemplos práticos de como a empresa em que atuo hoje, a Consolis, tem trabalhado para que a transformação digital permita novas perspectivas aos clientes, com um impacto mais positivo.
Economia circular: viaduto reutilizável
A utilização da tecnologia em um produto de milhares de anos (construção de pontes e viadutos) pode resolver o problema do cliente e contribuir para a sociedade.
O exemplo do vídeo abaixo é da primeira ponte com o conceito de economia circular, em que a tecnologia de smart sensors, aliada aos elementos pré-fabricados e modulares, permitiu a construção de um viaduto eficiente e que pode ser reutilizado depois em outro local. A ponte foi feita no ano passado na Holanda.
https://www.youtube.com/watch?v=CQmRZUSPqqM
Smart sensors para concreto
O segundo exemplo que está no vídeo abaixo é como podemos construir estruturas melhores com concreto, utilizando smart sensors capazes de trazer informações para ajudar a resolver os problemas dos clientes, como:
Manutenção de ferrovias;
Informações em tempo real sobre túneis;
Monitoramento do comportamento de um estádio de futebol.
https://www.youtube.com/watch?v=5yI_cGa4aDM
A questão que quero levantar aqui é que, para as empresas tradicionais, não estamos falando para pararem de fazer o que fazem. Na verdade, a proposta é como fazer melhor, mais rápido, mais barato, com mais informação e com impacto mais positivo na sociedade e no meio ambiente.
Assim, negócios deixam de fornecer apenas produtos e serviços, às vezes comuns, e passam a outro nível de proximidade na resolução dos problemas dos clientes.
Desafio de liderança
Um dado da International Data Corporation, citado pela Serasa Experian, afirma que 70% das empresas listadas no Fortune 500, montaram times dedicados à transformação digital. Ou seja, para digitalizar, a mudança precisa ser na mentalidade geral. É preciso, acima de tudo, talentos para fazer isso.
Como usar a tecnologia, os dados gerados com a ajuda dela, para transformar negócios tradicionais? Não é possível sem liderança, gestão de pessoas e posicionamento.
Treinar pessoas para se adaptarem ao novo cenário, reforçar suas características mais humanas – soft skills – é o caminho da integração com os dados, os recursos tecnológicos.
Enquanto a máquina assume o papel de reunir informações preciosas sobre o que irá gerar resultados, são os humanos que têm o poder de tomada de decisão, procura de soluções e criatividade. Uma coisa não substitui a outra.
Entendo o medo que muitos têm da tecnologia, pois mudanças geram resistência. Por isso, para digitalizar, gestores precisam reestruturar processos e movimentar a cultura empresarial com essa mentalidade.
Mudanças têm de ser com foco nos problemas de todas as partes envolvidas, mas especialmente dos clientes. É como falei acima: fazer melhor, mais barato, mais rápido e com impacto mais positivo na sociedade e meio ambiente, focado em problemas reais do cliente. Esse deve ser o objetivo dessa onda de transformação das empresas.