Durante todo o século XX, o Brasil focou no desenvolvimento de sua matriz de energia elétrica nas hidrelétricas, levando esta a ser a principal fonte de energia elétrica no país. Em 2020 as hidrelétricas foram responsáveis por fornecer 65,2% de toda a eletricidade consumida no Brasil. Com isso, sempre que passamos por um período longo de seca como o que acontece neste momento (o pior período de seca dos últimos 90 anos), enfrentamos também uma crise energética no país.
As ações para expansão do nosso sistema elétrico visando evitar estas crises energéticas e diminuir os riscos de novos apagões sofrem cada vez mais com atrasos na sua elaboração e execução devido a questões burocráticas e ambientais. Isto acaba acarretando numa corrida para contratação emergencial de geração de energia, praticamente advindas somente de termoelétricas, uma energia mais cara e mais poluente.
Esta situação exige novas alternativas para garantir o suprimento de eletricidade de maneira mais rápida e sem a necessidade de obras de grande porte, como novas usinas, linhas de transmissão e subestações ou mesmo o aumento da geração em termoelétricas já existentes, sejam incentivadas e implantadas.
Neste sentido, as ações de eficiência energética voltadas ao consumo final de energia elétrica podem ser uma boa opção para minimizar o risco de um possível colapso no sistema elétrico nacional. A eficiência energética busca a redução do consumo e intensidade energética, ou seja, produzir mais utilizando menos. Estas ações estão ligadas intimamente à proteção do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, mas se justificam principalmente pela economia de energia proporcionada por elas e por não precisarem de grandes obras para serem implantadas.
A eficiência energética nada mais é então do que o uso de novas práticas e equipamentos capazes de reduzir o consumo e o desperdício de energia, tanto em nossas residências como em indústrias, comércios, escolas, entre outras instalações. Ela pode ser praticada sem grandes revoluções no seu dia a dia, com medidas simples, fontes alternativas e soluções tecnológicas que reduzem a dependência e o consumo de energia elétrica.
Dentre as ações simples de eficiência energética que podem ser adotadas no nosso dia-a-dia estão a substituição de equipamentos antigos por novos e mais eficientes (as lâmpadas LED hoje consomem em média 50% menos que as lâmpadas fluorescentes compactas, que foram símbolo de economia de energia na grande crise energética de 2001), a manutenção de equipamentos (uma geladeira com problemas nas borrachas de vedação ou um ar condicionado com seus filtros sujos podem gerar até 30% de aumento na sua conta de energia elétrica) e o uso adequado dos equipamentos (por mais eficiente que possa ser, uma lâmpada acessa em uma sala vazia não atende ao seu propósito).
No Brasil atualmente destacam-se como principais programas e políticas públicas de eficiência energética o Procel e o Programa de Eficiência Energética em Prédios Públicos, a certificação para edifícios LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e o Programa de Eficiência Energética (PEE) da ANEEL.
O PEE ANEEL é o que possui o maior volume de recursos, acima de R$ 500 milhões anuais, mas a maioria de suas ações acabam sendo voltadas para alguns dos setores que menos consomem energia no país, como o setor residencial de baixa renda, poder público e instituições filantrópicas, funcionando assim muito mais como um programa social do que um programa de eficiência energética. O setor industrial, o que mais consome energia e com um dos maiores potenciais de economia de energia, recebeu até hoje pouco mais de 4% de toda a verba já investida no PEE ANEEL.
Logo, precisamos ampliar os incentivos e programas para acelerar a adoção de ações de eficiência energética em nosso país, além de otimizar a utilização destes recursos nos setores com maior potencial de economia de energia. Assim, conseguiremos diminuir em um curto espaço de tempo os impactos desta crise energética na economia brasileira, reduzindo custos e melhorando a competitividade do nosso setor empresarial.