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Um olhar sistêmico sobre a sustentabilidade na construção civil

*por Alexandre Schimming

A projeção de crescimento da construção civil no Brasil em 2021 subiu de 2,5% para 4%, segundo estudo recente realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). A elevação se deve ao aquecimento do mercado imobiliário, com baixas taxas de juros e facilitação de crédito, segundo a instituição. O cenário é positivo e abre uma série de oportunidades para empresas que querem investir no setor e para grandes players já consolidados no mercado. Este é o momento ideal para darmos um passo além em importantes discussões do setor, como é o caso da sustentabilidade.

A construção civil está pronta para evoluir tanto quanto outros segmentos em direção a demandas de ESG (sigla do inglês para meio ambiente, social e governança). Como engenheiro, entendo o desafio que se agiganta quando falamos em ações reais para tornar o setor mais verde. Por isso, soluções sistêmicas são tão importantes para garantir uma mudança efetiva dentro da construção civil brasileira. 

Muito tem se falado em digitalização dos canteiros e até em IoT (Internet das Coisas) para modernizar processos e projetos. Pouco ainda se articula sobre a importância do engajamento de todo o ecossistema da obra nas questões da sustentabilidade. A maior parte do mercado ainda não entendeu como é fundamental que toda a cadeia de trabalhadores esteja envolvida com esse tipo de decisão. De desenvolvedores a empreiteiros, de CEOs a fornecedores, todos aqueles envolvidos em um projeto devem saber quais são as práticas de sustentabilidade de um empreendimento, o porquê da escolha delas, quais os resultados esperados e qual a participação de cada um nesse processo. Compartilhar e aproximar as decisões da força de trabalho vai potencializar impactos e dar realidade para o desejo dos investidores e consumidores cada vez mais exigentes. 

Outro ponto de atenção para caminharmos em direção às premissas do ESG é estendermos o conceito de Lean Construction para todas as etapas do projeto. Mais tempo de planejamento, utilização de sistemas construtivos pré-industrializados - como a madeira engenheirada -, redução de desperdícios, otimização de prazos que vão desde a construção propriamente dita até o escalonamento de transportes, por exemplo. Na Artesano Urbanismo, levaremos para o canteiro de obras a utilização de energia fotovoltaica e implantaremos um sistema de coleta de água que abastece uma horta orgânica que gerará alimento para os trabalhadores. Ambas as soluções atenderão, após a entrega, aos moradores. Todas as ações e eventos relacionados à obra serão monitoradas por um software desenvolvido especificamente para termos visibilidade de tudo que acontece no projeto. Em resumo, sendo mais racional, somos mais eficientes e, consequentemente, mais sustentáveis.

Tão importante quanto engajarmos pessoas e repensarmos processos, é substituirmos de maneira profunda a lógica da compensação ambiental pela do não impacto. Antes de pensarmos em regenerar uma área ou pagarmos a conta das emissões de carbono que fizemos para o desenvolvimento de um empreendimento, precisamos priorizar gerar o mínimo possível de impactos ambientais e sociais. Isso porque não basta mais pagar a conta da degradação, que soma a um passado de descuido e acaba tendo pouca efetividade na preservação. Precisamos dar o próximo passo. 

Para isso, a Artesano Urbanismo calculou quanto de carbono uma obra semelhante poderia emitir e mapeou de que maneira é possível mitigar esse impacto. Com base em indicadores para o processo de prospecção, montamos um time de fornecedores que compactuam com a nossa visão. Um exemplo é a terraplenagem. Da escolha do terreno até a entrada das máquinas, tínhamos a certeza de que precisávamos reduzir o uso de combustíveis. Nosso empreiteiro aceitou o desafio de aumentarmos a composição de biodiesel nas máquinas, além do percentual utilizado no diesel comum, - nosso objetivo é aumentar o percentual de combustíveis não-fósseis gradativamente. Isso mostra que além de buscar soluções criativas é preciso, primeiramente, influenciar o mercado e conectar saberes para chegarmos a ações exequíveis, que podem ser replicadas e, dessa forma, estabelecer uma transformação efetiva em cadeia. 

O compartilhamento dessas soluções cria um círculo virtuoso, com empresas e colaboradores capazes de entender o cenário complexo a que cada ação se integra e contribuir para o aprimoramento contínuo de toda a rede. Sustentabilidade não é uma decisão pontual e isolada. Exige pensamento e execução sistêmicos para gerar impacto positivo em toda a cadeia de stakeholders. O futuro da construção civil transpassa as novas tecnologias e está conectado com a nossa capacidade de engajar, aprimorar e direcionar esforços para escolhas mais conscientes e efetivas que atendam a clientes que valorizam cada vez mais o respeito ao meio ambiente. Não basta “um novo morar”. É preciso “um novo construir”. 

*Alexandre Schimming é engenheiro formado pela Universidade de São Paulo - USP - e gerente geral de obras da Artesano Urbanismo