Os bons ventos que sopram no pequeno município de Maragogipe, cidade próxima à Salvador, estão ajudando o país a se tornar uma referência latino-americana na produção de energia limpa, renovável e alinhada às urgentes demandas do século 21 por sustentabilidade e redução nos impactos gerados pelas mudanças climáticas. Da mesma forma que a economia e as matrizes energéticas precisam se adaptar, o estaleiro Enseada, do grupo Novonor, passou por uma transformação estrutural para atender os novos ares e se tornar um complexo logístico e industrial que tem servido com uma referência em infraestrutura para a logística necessária à energia eólica offshore — tendência mundial e com importantes avanços geopolíticos na COP27 (Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas), realizada em novembro. Atualmente, o espaço que figura entre um dos maiores portos do Nordeste brasileiro armazena 40 aerogeradores que vão ajudar a alavancar os atuais 22 GW, disponíveis em território nacional por meio dos equipamentos instalados, para mais de 30 GW nesses próximos 10 anos. A presença do Enseada para receber essa infraestrutura é estratégica na região, já que só o estado baiano contempla 70% das futuras instalações.
Fonte imprescindível na geração de energia limpa, a solução eólica tem, nos últimos anos, conquistado uma presença cada vez mais sólida, o que se reflete na própria indústria de fabricação e montagem de equipamentos no país, resultado de investimentos que impulsionam a sustentabilidade em outras frentes como, por exemplo, geração de emprego e renda para milhares de famílias, com avanços sociais, ambientais e socioeconômicos que vão ao encontro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Na área dos negócios, não é diferente. Existe uma grande tendência noBrasil de que a migração da energia eólica para campos offshore gere novas oportunidades de avanço no setor e, consequentemente, potencial energético. Com uma costa litorânea privilegiada de 9,2 mil quilômetros, a instalação dos aerogeradores em alto mar já é uma realidade. O Conselho Global de Energia Eólica (Gowa), por exemplo, considerou 2021 como sendo um dos melhores desde que os primeiros aerogeradores foram instalados no mar. No ano passado, mais de 20 GW foram criados no mundo por intermédio do modelo offshore, graças ao trabalho realizado por países como China e Bélgica. O ano também marcou o lançamento do parque Gemini, na Holanda. Com 150 turbinas de vento, a 85 quilômetros da costa do país.
Durante a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), um grupo de países formado por Alemanha, Bélgica, Colômbia, Estados Unidos, Holanda, Irlanda e Reino Unido fechou um importante pacto com a Gowa. As nações se comprometem a acelerar os investimentos justamente em energia eólica offshore. O compromisso foi puxado pela Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), para mobilizar as iniciativas pública e privada na remoção de barreiras, como noticiado pela EPBR. De acordo com o órgão, a geração desse tipo de energia precisa ultrapassar os 2 mil GW nas próximas três décadas.
Segundo a Irena, esse processo de descarbonização deve limitar em até 1,5°C o aumento da temperatura global até o final do século 21. Nesse cenário, o Brasil está se posicionando como um promissor mercado eólico offshore, em que as características dos investimentos e dos players envolvidos muitas vezes é distinta dos projetos onshore. Entre as diferenças está o tamanho das turbinas eólicas, que, no caso do offshore, tem aumento expressivo do seu tamanho, tanto em termos de altura quanto em área de varredura, além de demandarem diferentes estruturas de fundação ou flutuação. Mas independentemente dos acordos multilaterais na geopolítica internacional, o mercado precisa superar uma série de desafios. O principal é justamente migrar a capacidade instalada em terra para o oceano e de forma competitiva, ao passo que será necessário renovar e requalificar a infraestrutura existente para atender a demanda pelos novos e maiores aerogeradores.
Esse processo precisará ser otimizado ao máximo para que o mercado eólico offshore seja efetivamente sustentável, uma vez que a geração eólica seguirá competindo com outras fontes de energia. E o Enseada, que já nasceu offshore e fruto de um investimento da ordem de US$ 1 bilhão, tem todos os atributos necessários para protagonizar a energia do futuro.
Ricardo Ricardi é CEO do Enseada