Os primeiros passos da digitalização, no início da década de 90, não foram fáceis. Conceitos tecnológicos que hoje não nos parecem tão complexos, para a época, eram quase utópicos. Por exemplo, ter uma rede interna ou configurar um sistema operacional eram tarefas complicadas. Soma-se à complexidade dos softwares com máquinas que eram montadas de forma amadora e a cultura do uso de plataformas piratas.
Além disso, os sistemas eram mais precários, pois, para aprender a desenvolvê-los, não era possível contar com a ajuda de tutoriais no Youtube. O acesso aos livros também ficava restrito às pessoas com maior poder aquisitivo, o que dificultava o processo de aprendizagem dentro das áreas de tecnologia.
Com a evolução do desenho, ainda na década de 90, saímos do papel e da prancheta para fazer uso do escaneamento e da vetorização de plantas. A partir daí, começaram a surgir as integrações dos desenhos físicos com a digitalização dos projetos, momento em que a união do físico e do digital dentro da engenharia passou a ser chamada de phydigital.
Entre a consolidação dos desenhos assistidos por computador (CADs) e a atual onda do BIM (Building Information Modeling), tivemos o advento da internet. Com a novidade, muitas das barreiras que existiam anteriormente foram derrubadas, cedendo espaço para que novos serviços e aplicações, como as plataformas de colaboração e a digitalização do processo de coordenação, fossem desenvolvidos.
Mas, em meio às inovações tecnológicas, o BIM ainda é uma proposta mais audaciosa. Por isso, não se fala em implantar o BIM, mas sim em criar uma jornada sobre essa metodologia. Conceitos como nível de maturidade passaram a ser necessários para a criação de benchmarks entre empresas, setores e mercados.
A parte mais simples de ser implantada em um processo BIM são os desenhos 3D, que podem ser entendidos como uma evolução dos CADs. Além disso, essa é a área mais fácil de se compreender. Antes, os desenhos contavam com apenas duas dimensões. Hoje, já é possível falar em até dez dimensões. Com a evolução, novas variáveis foram acrescidas aos tradicionais eixos cartesianos, como o tempo, o dinheiro ou créditos de carbono, tema tão discutido na era do ESG (Ambiental, Social e Governança).
Nessa evolução, a parte mais complexa da jornada de implementação do BIM está nos processos associados ao fluxo de informação ao longo do ciclo de vida de um empreendimento. Existe uma grande inovação em como especificar, contratar, produzir e receber os dados para planejar, projetar, construir e operar uma obra.
Em uma jornada rumo à implementação BIM, é preciso mudar algumas peças, como as relações com clientes, propostas de valor, entregas e processos. Neste cenário, os dados se tornam a etapa de maior valor dentro de um negócio. A complexidade aumenta à medida que a adoção de novas ideias tem, como consequência, o envolvimento de toda a cadeia de produção, ou seja, não impacta apenas uma empresa.
Portanto, o BIM é um desafio que vai muito além de adquirir uma nova tecnologia ou contratar um serviço. Essa é uma jornada que precisa ser encarada de forma plena, como um processo, dentro do que hoje chamamos de Transformação Digital.
*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS - Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e do ADN (Autodesk Development Network) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).