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Programa Mulher: Por que discutir a participação feminina na Engenharia é tão importante?

Desde que os cursos de Engenharia nasceram oficialmente, lá em 1792, esse campo profissional foi direcionado essencialmente aos homens. Ainda que seja muito difícil encarar esse fato, o cenário da época propiciava comportamentos do tipo. Nos tempos de hoje, a realidade já não é a mesma e essa disparidade vem diminuindo com mulheres cada vez mais presentes em profissões do ramo tecnológico e científico. 
 
Enquanto engenheira civil, sei que a realidade no mercado de trabalho da área tecnológica é dura para as mulheres. Ainda existe muito estranhamento, pouca receptividade e aquela típica cobrança de provação diária das nossas competências, habilidades e responsabilidades.
 
Por outro lado, ao assumir a coordenação do Comitê Gestor do Programa Mulher do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), sinto-me fortalecida por viver no momento em que a participação das engenheiras, agrônomas, geocientistas e tecnólogas nesses ambientes é trabalhada em iniciativas sólidas, focadas no empoderamento das profissionais e na equidade entre os gêneros. 
 
O Programa Mulher foi instituído no Crea-SP em 2021, a partir do exemplo já desenvolvido pelo Sistema Confea/Crea/Mútua, formado pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e a Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea (Mútua). Em junho do mesmo ano, firmamos a composição do Comitê Gestor responsável por planejar e executar as ações em São Paulo e, desde então, assumimos metas baseadas na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 5, para:

  • Aproximar as mulheres jovens do Conselho e das Entidades de Classe;
  • Trazer novas profissionais para dentro do Conselho (atualmente, são 365 funcionárias, contra 312 funcionários) e das Entidades de Classe;
  • Aumentar a representatividade de mulheres conselheiras (a diretoria do Conselho soma três mulheres entre os 14 membros) e inspetoras (temos apenas 244 inspetoras, enquanto inspetores são 1.412);
  • Ampliar o número de mulheres nos cargos de liderança dentro do Conselho e das Entidades de Classe (são 22 presidentes mulheres e 176 homens); e
  • Contribuir para a equidade salarial entre homens e mulheres. 

Como? Esse é o principal desafio! O primeiro passo foi realizar uma pesquisa para mapear dados e, assim, soubemos que estamos falando de 51 mil mulheres registradas no Conselho. Com o Comitê, o Crea-SP estende seu compromisso para além do mapeamento e diagnóstico, incentivando atitudes reais de transformação.
 
Nossa responsabilidade é também identificar possíveis casos de vulnerabilidade e estabelecer uma rede de apoio para acolhimento das situações de discriminação de gênero, além de promover oficinas de capacitação e palestras para conscientização e multiplicação dos conceitos de equidade e protagonismo estabelecidos pelo Programa Mulher. E isso não exclui a participação masculina, afinal eles também estão inseridos nesse ecossistema e devem ser agentes da construção de uma Engenharia e de uma sociedade mais justa e participativa. 
 
Então, é uma honra anunciar que, em pouco tempo, já conseguimos avanços significativos. Desenvolvemos e lançamos a cartilha sobre o Programa Mulher do Crea-SP, e protagonizamos e realizamos encontros, reuniões e eventos voltados para as mulheres, trazendo à tona questões como empreendedorismo, e representatividade principalmente em cargos de liderança.
 
Por fim, o lembrete que faço questão de deixar é o de que temos, sim, muito caminho pela frente. Muitos obstáculos para romper e muitas guerras para travar, mas façamos isso com competência e dignidade, pois a luta da mulher engenheira representa a luta de toda a área tecnológica. 
 
*Poliana Siqueira é engenheira civil e coordenadora do Comitê Gestor do Programa Mulher do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP)