Em 1859, teve início a chamada Era do Petróleo. Após a introdução do petróleo, os energéticos mais comuns até então passaram por mudanças expressivas em seu consumo. Entre 1860 e 2022, o consumo de carvão aumentou cerca de 40 vezes. O consumo de lenha dobrou.
Ao contrário do que parecia intuitivo, a introdução de uma nova fonte de energia não provocou redução do consumo das fontes até então dominantes. A grande novidade não fora a introdução do petróleo. Fora o avanço rápido e amplo da Revolução Industrial, que começara na Inglaterra em meados do século XVIII. E que, em meados do Século XIX, já estava incorporada nos EUA, em outros países da Europa e no Japão.
O petróleo acelerou ainda mais um processo que crescia a taxas exponenciais. A fartura material promovida pela Revolução Industrial era absolutamente inédita e distinta do que o mundo até então experimentara.
A transição energética pela qual passa o mundo hoje tem raízes diferentes daquelas do início da Era do Petróleo, que foi motivada pela busca de substituto para óleo de baleia, então usado para iluminar casas. A transição atual é muito mais ambiciosa.
Trata-se, agora, de evitar uma possível catástrofe ambiental, decorrente do excesso de emissão de gases do efeito estufa na atmosfera. Os combustíveis fósseis têm enorme peso nestas emissões e, portanto, é preciso reduzir seu consumo.
Contudo, há diversas dimensões e desafios entrelaçados para a missão que o mundo enfrenta.
Um deles diz respeito a questões sociais. A fartura material que o uso de petróleo promoveu é irreversível. É difícil, se não impossível, supor que pessoas aceitem abdicar do conforto e outros benefícios decorrentes da fartura de energia em nome de um conceito complexo e distante como “reduzir emissões”. Ainda há milhões de pessoas no mundo consumindo menos energia do que seria minimamente digno. O consumo mundial de energia tende a continuar crescendo, porque a população tende a aumentar e porque mais pessoas aumentarão seu consumo individual de energia.
A esse fato, deve-se acrescentar que as fontes fósseis representam cerca de 80% da matriz mundial. Para substituí-las, ainda há muito a ser feito em termos de desenvolvimento de outras fontes. Analogamente ao que ocorreu com o carvão, a introdução de fontes renováveis não necessariamente vai causar redução relevante do consumo de fósseis. O mundo ainda vai conviver com o petróleo por muitas e muitas décadas. Talvez por muitos séculos.
Neste contexto, o Brasil pode despontar como grande produtor e exportador de petróleo. Além de razões positivas de ordem política, regulatória e tecnológica, o país dispõe de muitas reservas a serem exploradas, entre elas a que se estima existir na Margem Equatorial. A recente (e recorrente) negativa do Ibama em aprovar o início de campanha exploratória na região é deletéria em vários sentidos.
Ela atrasa ganhos sociais com fartura de energia e de empregos decorrentes dos investimentos em exploração e produção. Ela atrasa o aumento de arrecadação e, portanto, o desenvolvimento socioeconômico da região. Ela atrasa e frustra novamente a possibilidade de o setor brasileiro de óleo e gás exercer seu potencial de legar ao país estabilidade e imunidade às flutuações que a transição energética vai provocar na economia do mundo e, por conseguinte, do Brasil.
Com efeito, é o setor de petróleo que vai financiar parte expressiva dos investimentos necessários ao desenvolvimento das inovações que vão pavimentar a transição energética. Entre outras inovações estão, por exemplo, os avanços das tecnologias para captura, uso e armazenamento de dióxido de carbono (CCUS, na sigla em inglês) em reservatórios de petróleo.
Não há transição energética viável sem a indústria de petróleo e o atraso no licenciamento da Margem Equatorial é uma grande restrição a este processo.