Pacote de grandes obras movimenta mais de R$ 250 bi
São mais de R$ 250 bilhões num pacote que inclui desde a transposição
do rio São Francisco até a construção da usina nuclear Angra 3, do Rodoanel de São
Paulo às hidrelétricas Teles Pires e São Luiz do Tapajós, do Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro a sete plataformas para a produção de petróleo
do pré-sal. A lista é encorpada ainda com as obras dos estádios e de
acessibilidade para a Copa do Mundo de 2014 ou o Cinturão das Águas do Ceará e
outros programas de saneamento que começam a transformar a paisagem de muitas
cidades brasileiras.
Todos esses empreendimentos dão
emprego a mais de 200 mil operários e movimentam uma estrutura de máquinas e
equipamentos compatíveis com a dimensão dos desafios que representam.
Só a construção de Angra 3, em
Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro, mobiliza 3 mil operários em
dois turnos de trabalho: dia e noite. A estimativa é que até o fim a obra
represente uma jornada de 50 milhões de homens/hora. A parte civil do projeto,
retomado em 2010 depois de 23 anos, vai absorver 200 mil m³ de concreto, 80 mil
toneladas de cimento e 35 mil toneladas de aço. Os investimentos iniciais
pularam de R$ 9,9 bilhões para R$ 12 bilhões.
A terceira usina nuclear do
país terá uma potência de 1.405 MW, energia suficiente para abastecer Brasília
e Belo Horizonte, simultaneamente. Trata-se de um projeto crucial para a
complementação térmica da capacidade energética do país, diz Leonam dos
Santos Guimarães, chefe de gabinete da presidência da Nuclebras.
O empreendimento está atrasado
sete meses, por causa de recursos à Justiça de empresas derrotadas na licitação
para a montagem dos equipamentos. A entrada em operação, inicialmente prevista
para 1º de dezembro de 2015, passou para 1º de julho de 2016.
Até lá já deverá estar em
funcionamento boa parte do novo parque hidrelétrico do país. A Hidrelétrica
Teles Pires, no Mato Grosso, que terá capacidade instalada de 1.820 MW e um
reservatório com 151,8 km², deve começar a operar em junho de 2015. A obra começou
em 2005 e, de acordo com a Companhia Hidrelétrica Teles Pires (CHTP), emprega
cerca de 5 mil operários em dois turnos de trabalho com jornadas de nove horas
e meia.
A construção prevê o uso de mil
equipamentos - entre caminhões, escavadeiras, centrais industriais e guindastes
- e deverá consumir 120 mil toneladas de cimento. O tamanho da empreitada pode
ser medido pela conta de energia, que chega a R$ 25 milhões, pelas 20 carretas
que desembarcam cimento, aço e equipamentos todos os dias ou pelo volume de
argila e rocha retirados do canteiro de obras: 10 milhões de m³ por mês - o
suficiente para encher três vezes e meia o estádio do Maracanã.
Nas obras das hidrelétricas de
Santo Antonio, com custo previsto de R$ 16 bilhões, Jirau, com R$ 9,6 bilhões,
ambas em Rondônia, e Belo Monte, no Pará, orçada em R$ 25,8 bilhões, o aparato
é proporcional ao volume de investimentos. A construção de Belo Monte mobiliza
mais de 20 mil operários. No ano que vem, quando estiver no pico, serão 30 mil.
Os quatro canteiros em plena selva só são acessados por hidrovias ou pela
Transamazônica, que fica interditada seis meses do ano por causa das chuvas.
Para buscar mantimentos duas
balsas fazem toda semana uma viagem de 96 horas pelo Rio Xingu, entre Vitória
do Xingu e Belém, e voltam carregadas com 1.500 toneladas de suprimentos. A
empreiteira Andrade Gutierrez já enfrentou desafio logístico pior. Nos quatro
anos de construção dos 270 quilômetros do gasoduto Coari-Manaus sobre cursos
d'água e áreas alagadas precisou manter 1.200 operários só para cuidar que nada
faltasse aos outros 4.200 que executavam as obras nas condições adversas da
selva amazônica. Em 16 grandes obras que executa agora no país tem de gerenciar
1.327 máquinas, equipamentos e veículos e 61.447 operários.
O mercado de grandes
obras nunca esteve tão aquecido como nos últimos dez anos. A expectativa é
otimista com o programa de concessões do governo federal que prevê
investimentos de R$ 220 bilhões em rodovias e ferrovias, 55% a serem executados
nos próximos cinco anos, diz Leandro Aguiar, presidente da Andrade
Gutierrez, que tem no portfólio pelo menos mais quinze grandes construções,
entre elas Angra 3 e os estádios Nacional, de Brasília, e Beira-Rio, de Porto
Alegre.
Nem todas as grandes
construções andam no ritmo esperado. O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj) também virou uma dor de cabeça para a Petrobras. As obras começaram
em 2008 e a previsão inicial era de inauguração no ano passado. Ficou para
2015. O último atraso foi provocado por 11 dias de greve dos operários. O polo,
instalado em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, vai processar 150 mil
barris de óleo pesado por dia em produtos petroquímicos. O investimento, de R$
12,7 bilhões, pode agora passar dos R$ 20 bilhões.