Pacote de ferrovias pode ajudar porto de Eike Batista
Estadão
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11 de abril de 2013
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Além da cobiçada
parceria com a Petrobras, o empresário Eike Batista depende do governo para viabilizar
outra peça crucial do projeto do Porto do Açu.
São as estradas de
ferro que faltam para ligar o Açu ao resto da malha ferroviária do País. Os
trechos devem ser licitados no pacote de concessões tocado pela Empresa de
Planejamento e Logística (EPL), prometido para sair até setembro.
Pelas regras do novo
modelo ferroviário, Eike não precisará colocar nenhum centavo no projeto - a
não ser que deseje. Todo o risco será do governo federal. Vai funcionar assim:
uma empresa constrói as ferrovias, o governo compra toda a capacidade de
transporte e faz a revenda para empresas interessadas em usar os trilhos. Se
não houver demanda, o governo paga a conta.
Esse esquema vale
para todas as novas ferrovias brasileiras. Mas, no caso do empreendimento de
Eike, o governo tem uma preocupação especial. Em Brasília, o discurso oficial é
que o Porto do Açu é estratégico no esforço para tirar o transporte
de carga marítima do sufoco.
Além disso, nos
bastidores, funcionários do governo afirmam que o fracasso de Eike pode afetar
a imagem do País com investidores. Eike precisa de gente que use o porto
dele. Para isso a ferrovia tem de chegar até lá, afirma um alto
funcionário do governo.
Se tudo der certo, o
porto será beneficiado por dois trechos. O mais adiantado, orçado em cerca de
R$ 4 bilhões, vai conectar o terminal ao Rio de Janeiro e Vitória, num trajeto
de aproximadamente 1.000 quilômetros. O outro, com estudos em fase preliminar,
vai ligar o porto ao Centro-Oeste do País.
Na primeira rota, o terminal conseguiria atrair clientes industriais,
cargas de minério de ferro e açúcar, além de atender o Comperj, o grande
complexo petroquímico em construção pela petrobras. O segundo trecho permitiria
o escoamento de grãos do Centro-Oeste, que hoje usam os portos congestionados
de Santos (SP) e Paranaguá (PR).
Desde o início do
projeto, um investimento de R$ 4 bilhões em São João da Barra (litoral Norte do
Rio), Eike vem se mexendo para tirar os acessos ferroviários do papel. Ele
tentou várias vezes convencer a Vale, que já tem a concessão de alguns trechos
ferroviários nas redondezas, a fazer o serviço. Sem sucesso na gestão de Roger
Agnelli, voltou à carga com Murilo Ferreira, hoje no comando da mineradora.
Como a Vale tinha
obrigações a cumprir com o governo - ainda por conta da privatização da Rede
Ferroviária Federal -, o empresário queria que essas pendências fossem
liquidadas com as obras da ferrovia que liga o Rio ao porto do Açu.
A proposta não foi
adiante e o projeto foi parar no pacote ferroviário lançado em agosto pela
presidente Dilma Rousseff, orçado em R$ 91 bilhões. Pelo cronograma da EPL, os
projetos devem entrar em audiência pública nas próximas semanas.
Como tudo que Eike
criou nos últimos anos, o Açu nasceu como um novo modelo de negócio para
integrar porto e indústria - algo parecido com o que o governo de Pernambuco
está fazendo no Porto de Suape.
Pelos planos do
empresário, além de capacidade para receber os maiores navios do mundo, o
terminal será o ponto de chegada de um mineroduto da Anglo American, terá um
estaleiro do próprio Eike (OSX) e um distrito industrial com empresas de vários
setores.
Uma das âncoras do
projeto seria a siderúrgica da chinesa Wuhan, que acabou desistindo do negócio
por causa dos atrasos no projeto. A LLX, a empresa de logística de Eike e
responsável pelo porto, afirma ter assinado um novo contrato com a siderúrgica
ítalo-argentina Ternium, mas fontes do setor ainda duvidam da concretização do
negócio.
A construção dos
acessos ferroviários não resolveria todos os problemas de Eike, que vive uma
crise de confiança que já derreteu mais de R$ 50 bilhões do valor de suas
empresas. Mas poderia melhorar a imagem de seus empreendimentos.