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As principais obras de Lina Bo Bardi

Blog da Arquitetura - 23 de novembro de 2017 14377 Visualizações
As principais obras de Lina Bo Bardi
Museu de Arte de São Paulo e seu vão de setenta e quatro metros de comprimento e figura entre as principais obras de Lina Bo Bardi.
A italiana Lina Bo Bardi é uma referência muito importante da história da arquitetura brasileira do século XX. Foi uma figura feminina forte, de ideias vanguardistas, de conceitos sólidos, de muita expressão artística, cética projetista e pensadora moderna. Seu trabalho ultrapassou os limites das paredes dos prédios, passando pelos jardins e móveis até chegar a vida dos usuários, transformando entornos e convidando a todos para fazerem parte dos espaços. Alguns até podem ter chamado sua arquitetura de “pobre”, mas acontece que Lina só foi contra o tradicional, simplificando as formas e atrelando sua arte ao comportamento popular. Neste post, destacamos as principais obras de Lina Bo Bardi.
O Blog da Arquitetura selecionou um pequeno grupo de obras que melhor exemplificam as ideias e o estilo de arquitetura de Lina Bo Bardi. Confira!
Obras de Lina Bo Bardi: Museu de Arte de São Paulo
Nos anos cinquenta, Pietro Maria Bardi, marido de Lina, foi convidado pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand para dirigir o Museu de Arte de São Paulo. Depois disso, em 1957, a arquiteta passaria a responder pelo projeto das novas instalações da instituição, na Avenida Paulista. O terreno havia sido doado a prefeitura com a condição de que nada tapasse a bela vista para a Avenida Nove de Julho. Foi na tentativa de respeitar essas exigências que a arquiteta pensou num volume totalmente suspenso sobre uma grande praça aberta, a qual ficou conhecida como o “vão do Masp”.
“Bom, para mim, pessoalmente, como arquiteta, arquitetura é estrutura. Quer dizer, a estrutura de um edifício é elevada ao nível da poesia, como parte da estética. Não há nenhuma diferença. Um arquiteto deve projetar a estrutura como projeta arquitetura, no sentido doméstico da palavra” – Lina Bo Bardi.
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O volume do Masp fica a cerca de oito metros do chão, do nível zero, na Avenida Paulista. (imagem extraída de Wikimedia)
Lina projetou para o Masp um edifício de linhas retas, superfícies ásperas, sem acabamentos e adornos, seguindo o estilo modernista, mas sem se esquecer da cultura local. De todos os elementos desta arquitetura, o que mais se destaca são as grandes colunas vermelhas de sustentação, deixando a vista livre pelo térreo, como era desejado. No interior, existem salas amplas, funcionais e práticas. O acervo crescente do museu é exposto na ala da pinacoteca, em cavaletes transparentes feitos em vidro e concreto – que, aliás, foram assim projetados pela profissional para que houvesse um diálogo harmônico entre a arquitetura do prédio e as obras em exposições.
“Uma arquitetura simples, uma arquitetura que pudesse comunicar, de imediato, aquilo que no passado se chamou de monumental, isto é, o sentido ‘coletivo’ de Dignidade Cívica”. Em documentário sobre a arquiteta, Lina ainda afirma: “não procurei a beleza, e sim a liberdade. Os intelectuais não gostaram, mas o povo gostou”.
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Planta baixa dos dois pavimentos existentes dentro do volume do Masp. (imagens extraídas de Arquitetura Brutalista)
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Planta de Corte do Masp, mostrando todos os pavimentos, níveis acima e abaixo da Avenida Paulista. (imagem extraída de Lina Bo Bardi Toguether)
Obras de Lina Bo Bardi: SESC Pompéia
 “A forma e a função perfeita é o Masp. A resposta cultural perfeita é o Sesc Pompeia. É uma verdadeira indicação do que o País pode fazer com as suas memórias e as suas questões urbanas. O Masp e a Pompeia são duas profecias.”– Jacob Klintowitz, crítico e amigo de Lina, em entrevista de Carta Capital.
O Sesc Pompéia é uma das principais obras de Lina Bo Bardi, e foi projetado na década de 1970. Esta obra, que é uma das mais importantes da sua carreira, trata-se, na verdade, da adaptação de uma antiga fábrica de tambores – e arredores – localizada na Vila Pompeia, em São Paulo. A arquiteta se inspirou no movimento brutalista e em exemplares da arquitetura moderna americana e brasileira baseadas em processos construtivos artesanais. A marca deste projeto são a rua aberta, que atravessa o complexo de ponta a ponta; as janelas disformes, em formato de batata; as passarelas de ligações; e o espelho d’água entres os espaços edificáveis. Mas há outros detalhes, além destes, bastante impressionantes.
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Complexo do Sesc Pompéia. (imagem extraída de SESC SP)
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No lado esquerdo, as passarelas de ligação entre os edifícios principais do Sesc Pompéia. No lado direito, um de seus espaços internos, com destaque para o espelho d’água. (imagens extraídas de Spcity e Info Art SP)
“Entrando pela primeira vez na então abandonada Fábrica de Tambores da Pompeia, em 1976, o que me despertou curiosidade, (…) foram os galpões distribuídos racionalmente conforme os projetos ingleses do começo da industrialização europeia (…). Na segunda vez em que lá estive, num sábado, (…) (encontrei) um público alegre de crianças, mães, pais e anciãos passava de um pavilhão a outro. (…) É essa a atmosfera que quero manter aqui” – Lina Bo Bardi.
O interior do complexo Sesc Pompéia contém espaços comunitários próprios para o convívio entre pessoas, para o lazer e a promoção cultural. Há teatros, quadras esportivas, piscina, área de exposições, oficinas, lanchonete e até choperia. Os ambientes parecem inacabados – Lina dizia que são “feios” mesmo – com o propósito de serem construídos e reconstruídos quando for preciso, para que a arquitetura possa ganhar novos significados. Por tudo isto e muito mais é que o Sesc Pompéia se tornou um dos grandes polos de São Paulo. Em 2016, o trabalho de Lina foi nomeado como a sexta melhor construção em concreto do mundo, através do jornal britânico The Guardian.
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Planta Baixa do Sesc Pompéia. (imagem extraída de Archdaily)
Obras de Lina Bo Bardi: Igreja do Espírito Santo
Inaugurada em 1981, a sede da Paróquia do Divino Espírito Santo, em Uberlândia, tem formato circular e foi baseada nas formas das obras romanas – aliás, Roma é a origem de Lina. Sua implantação foi distribuída em quatro platôs. Há um espaço para celebrações, um templo, uma residência religiosa e um salão comunitário, além de um campo de futebol na área externa. Todo o conjunto foi construído com a adaptação de processos construtivos e com materiais da própria região, como barro e madeira.
Desde o início, este projeto se destacou por seu caráter comunitário. Lina Bo Bardi viajou muitas vezes de São Paulo para Minas Gerais para revisar todos os detalhes da obra. Mas, erguer a igreja só foi possível graças a participação dos moradores locais, num sistema de mutirão. Este era, justamente, o desejo da arquiteta, que estas pessoas participassem de tudo e que no futuro pudessem, ali, conviver e se reunir para confraternizar. E assim foi e ainda é nos dias hoje.
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Planta Baixa da Igreja Divino Espírito Santo, em Uberlândia. (imagem extraída de Pinterest)
O telhado da nave principal é sustentado por doze pilares em madeira. Não há forro nesta parte, todos os elementos ficam aparentes e o revestimento final foi feito com telhas do tipo ‘capa-e-canal’. O restante do volume apresenta, nas partes essenciais, vigas e pilares feitos em concreto armado aparente. Já o fechamento das paredes é em tijolo, também aparente.
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Na imagem pode-se ver os diferentes volumes circular do conjunto da Paróquia do Divino Espírito Santo. (imagem extraída de Pinterest)
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Vista interna da Igreja do Divino, projetada por Lina. (imagem extraída de Escola Cultura e Preservação)
Obras de Lina Bo Bardi: Teatro Oficina
O Teatro Oficina está localizado no bairro do Bixiga, na cidade São Paulo. Ele foi construído na década de 1960 e chegou a ser um local de importantes celebrações culturais ligadas ao Tropicalismo – movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência de correntes artísticas modernas. Porém, em 1966, um incêndio acabou afetando consideravelmente sua arquitetura. Em 1984, ele o prédio chegou a ser reformado. Mas só depois da virada das décadas de 1980 para 1990 é que Lina Bo Bardi comandou um projeto de revitalização do lugar. Infelizmente, esta foi uma das últimas obras da arquiteta.
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Teatro Oficina, atingido por um incêndio em 1966. (imagem extraída de Espaço Cenográfico)
Lina transformou o Tetro Oficina. Antes, ele possuída um palco mais tradicional, com plateia ao redor. A projetista recriou todo o espaço interno, deixando os corredores mais estreitos e longos, formando galerias através de andaimes. Agora, as paredes são envidraçadas e o teto retrátil. O local parece mais amplo. A ideia de Lina era que o público não apenas assistisse espetáculos, mas interagisse com os artistas, com a arte. Este conceito foi bastante inovador para a época.
As ideias de Lina Bo Bardi para o Teatro Oficina acabaram vencendo a Bienal de Praga em 1999. Já em 2015, o jornal britânico The Guardian, escolheu seu projeto como o melhor teatro na categoria projeto arquitetônico.
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Vista interna do Teatro Oficina. (imagem extraída de UOL) Plantas de corte, longitudinal e transversal, do Teatro Oficina – também uma das principais obras de Lina Bo Bardi. (imagem extraída de Archdaily)
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Plantas de corte, longitudinal e transversal, do Teatro Oficina – também uma das principais obras de Lina Bo Bardi. (imagem extraída de Archdaily)