Conheça o simulador automobilístico criado por engenheiros brasileiros
No topo de um conjunto com nove estruturas mecânicas, o “esqueleto” de um Jeep Renegade paira a poucos metros de uma imensa tela curvada. Sentar-se no banco do motorista requer a subida por uma pequena escada móvel. Ao sinal dos controladores na sala de comando, dei a partida e logo o cockpit já balançava para lá e para cá. Frear me deu enjoo — algo normal para condutores virtuais de primeira viagem.
De tão imersiva que foi a experiência de pilotar o sofisticado simulador, primeiro do gênero no Hemisfério Sul, todo o entorno logo desapareceu. A realidade passou a ser apenas a da pista à minha frente, e sair dela causou trepidações, como se eu trafegasse com um carro de verdade por um terreno acidentado. Capotar é proibido: pode danificar o equipamento de R$ 18 milhões. O sistema reinicia antes disso. Ali é possível passear por qualquer pista do mundo, e alterar os parâmetros para simular a dirigibilidade de qualquer veículo.
Desenvolvido em parceria entre a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e a PUC Minas, o SIMCenter (Centro de Simulação de Dinâmica Veicular) foi financiado pelo BNDES em 2014 por meio do Inovar-Auto, programa federal para estimular a inovação na indústria automobilística. O equipamento de última geração foi construído dentro da universidade e inaugurado em outubro do ano passado. “O próprio governo jogou a sementinha de que havia a necessidade de trazermos benefício para a sociedade”, diz Gustavo Costa, engenheiro de simulações virtuais da FCA. O laboratório já tem sido requisitado por engenheiros dos EUA e inclusive está aberto para outras empresas e universidades.
A parceria é um ganha-ganha. Para a empresa, o simulador reduz o custo e o tempo entre o desenvolvimento de um novo projeto e a construção do primeiro protótipo. “Lá a gente tem a possibilidade de pilotar o carro quando ele ainda está no papel”, afirma Costa. “É como se pegasse um ser humano e colocasse dentro do computador para testar o veículo antes de ele existir.” Altere uma mola da suspensão, por exemplo, e o piloto sentirá a diferença.
Já para a universidade, ter à disposição da comunidade acadêmica uma ferramenta de testes tão realista e sofisticada é um prato cheio para pesquisas nas mais diversas áreas. Além das áreas mais óbvias de engenharia e tecnologia, há todo um leque de estudos biológicos e até sociais. Pode-se testar como é dirigir com sono ou falando ao celular. “Conseguimos fazer uma pesquisa profunda sem expor o condutor a situações perigosas”, diz Janes Landre, professor da PUC Minas e coordenador do laboratório. Outras opções incluem o estudo da efetividade da sinalização de trânsito e até de propagandas. “À medida que vamos discutindo, descobrimos novas possibilidades de uso.”