Da cana ao concreto
Você já ouviu falar que as cinzas provenientes de alguns processos como a queima do bagaço de cana-de-açúcar ou da incineração do lodo de estações de tratamento de esgoto podem ter um destino ambientalmente adequado e se transformar num importante insumo na fabricação de argamassa e concreto para uso na construção civil? Pois bem. Algumas iniciativas mostram que isso é possível, sim!
Uma pesquisa iniciada, em 2007, na UFSCar, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mostrou que a substituição de 30% a 50% em massa da areia natural pelas cinzas não apenas preserva as características físicas e mecânicas de um concreto de boa qualidade, como também traz benefícios como o ganho de resistência. Coordenada pelo engenheiro civil e professor da Universidade, Almir Sales, o estudo teve como foco específico as cinzas resultantes da queima do bagaço de cana.
Para chegar à conclusão de que elas, de fato, poderiam substituir bem a areia, o pesquisador realizou uma série de ensaios a partir de amostras colhidas em quatro usinas de São Paulo, que revelaram que as cinzas possuem um perfil muito próximo ao da areia natural, com uma porção cristalina e alto teor de sílica. Além disso, os ensaios revelaram a presença de grande quantidade de metais pesados nas cinzas analisadas, o que apresentaria risco de contaminação do solo e do lençol freático ao serem utilizadas na adubação das plantações (procedimento comum).
Avanços no setor de saneamento
A Veolia Water Technologies, empresa especializada em soluções de tratamento de água integrado, efluentes e reuso, desenvolveu uma solução que também colabora com este movimento. Trata-se do Pyrofluid, um incinerador de leito fluidizado (fluidizado (onde o tempo é mantido por um fluxo ascendente de ar), que atua na queima de lodo em estações de tratamento de esgoto.
Segundo o Gerente de Aplicações e Processos da Veolia Water Technologies, Sérgio Hilsdor, a tecnologia vem para resolver os problemas de disposição deste tipo de sedimento. Porém, mesmo com um uso bastante difundido no exterior, o Pyrofluid ainda caminha a passos lentos no Brasil. “Vemos um grande potencial nas companhias de saneamento básico brasileiras, pois a nossa tecnologia ajudaria a reduzir o descarte de lodo em aterros, o que é um problema real em nosso país”, diz Hilsdor.
O mais interessante é que, além de prometer eliminar o lodo das águas por meio do tratamento térmico, a solução da Veolia Water pode proporcionar a reutilização do resíduo proveniente da incineração: as cinzas. Segundo a empresa, dependendo das características físico-químicas das mesmas, elas podem ser recicladas para uso na construção de estradas e incorporadas em concreto especial como, por exemplo, o concreto de desempenho automático. Além disso, o resíduo também pode ser utilizado na produção de energia renovável por meio do vapor proveniente da queima do lodo.
Redação: Há Propósito Comunicação