Arte e Luxo em Aço
CBCA
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28 de junho de 2018
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Ao lado, estruturas tubulares em aço, com formato que lembra uma árvore com quatro galhos, viabilizam a redução do número de pilares necessários à sustentação da construção. À direita, a Casa das Crianças, com a ampla varanda e a rampa de acesso que servem o espaço
DESDE TEMPOS REMOTOS, os chamados “Gabinetes de Curiosidades” ou “Quarto das Maravilhas” eram concebidos como espaços apropriados para guardar e exibir coleções particulares de diversos tipos, como objetos de arte, artefatos antropológicos, espécimes animais ou botânicos. Era o embrião do colecionismo, um processo que se iniciou na Europa, no século 16, com as grandes navegações e suas notáveis descobertas, dando origem a museus e galerias, e até hoje apresenta desdobramentos. É o caso do projeto residencial assinado pelo arquiteto Miguel Pinto Guimarães em Itaipava, no Rio de Janeiro: a família dispunha de uma casa de fim de semana e encomendou uma ampliação que, prioritariamente, visava a construção de um espaço para abrigar uma bela coleção de automóveis de luxo. Assim surgiu o novo desenho, estruturado em aço, com amplos espaços, cumprindo sua função e tirando partido da bela paisagem natural da serra carioca.
Para acomodar a coleção de carros, o projeto teve de prever, além de um grande vão para guardar e exibir as peças, uma área para manobras dos veículos e uma rampa de acesso com inclinação mínima, uma vez que os carros em questão são muito baixos. As necessidades representaram um desafio em função da declividade do terreno adquirido, contíguo ao que já dispunha o cliente. “O terreno era bastante inclinado. Para a obtenção do maior pátio de manobras possível, a maior parte da ‘garagem’ foi localizada sobre o talude descendente”, conta o arquiteto.
A partir desse condicionante, a opção pela estrutura em aço foi feita. “A determinação de montagem em grande altura sobre um talude bastante inclinado, a necessidade de um canteiro de obra menor e de uma obra mais limpa, que possibilitasse que o projeto paisagístico pudesse ser implantado junto com a construção, foram os principais motivos para a escolha do aço”, completa. As estruturas em aço foram produzidas em peças de menores dimensões e soldadas no local da obra, devido à dificuldade de se acessar o terreno desde a estrada.
Assim, o “Gabinete de Curiosidades” é composto por um grande salão de exibição, com 12 m de vão e cobertura metálica, além de oficina, área de convivência, cozinha, banheiro e varanda com lareira externa, que permite ampla vista para a natureza. É formado pela interseção de três volumes: um fechado e revestido de telhas metálicas amarelas para a oficina, uma caixa de vidro para a garagem e dois planos em balanço que formam a varanda e sua cobertura. Materiais naturais, como pedra bruta para revestir as paredes e madeira para o piso, mimetizam a arquitetura à natureza do entorno.
Esbeltas estruturas em aço compõem a sala de exibição da coleção de carros, com vão de 12 m e ampla vista para a paisagem da serra
Toda a sustentação é feita por pilares tubulares em aço, que remetem à forma de árvore: um tronco central com quatro galhos simétricos
sustentam o piso. “A estrutura em aço projetada nos permitiu um número mínimo de pilares ao transformar em apenas um pilar central cada quatro pontos de apoio necessários”, descreve o arquiteto. O desenho dos pilares foi elaborado para diminuir a quantidade de apoios e evitar a construção de arrimos no terreno, permitindo seu declive natural.
Paralelamente, a família encomendou a construção de uma “Casa das Crianças”, um espaço reservado ao divertimento dos filhos. Como a topografia do terreno e o projeto estrutural da garagem resultaram em um conjunto de grande personalidade, a “Casa das Crianças”, também estruturada em aço, foi encaixada em outro desnível, sem demandas de estruturas arquitetônicas para os conectarem, evitando, assim, o conflito visual entre as partes.
A Capela com apelo escultural é formada por pórticos metálicos de seção tubular, em um desenho delicado e de grande expressividade
“Os espaços entre as construções foram preservados para, sempre que possível, evitar a necessidade de arrimos, que agridem o meio ambiente. Dentro do generoso espaço disponível, cada construção pôde ser executada sem a influência da proximidade entre uma e outra”, conta o engenheiro Gilberto do Valle, sócio da Projest Consultoria e Projetos, que responde pela engenharia estrutural do projeto.
As construções são ligadas por um convidativo caminho de pedra, que leva à escada do quarto de brincar e à varanda externa, semelhante
ao palanque da garagem. A opção pelo aço conferiu diversos benefícios ao projeto: “as estruturas metálicas tornaram a obra limpa, quase sem desperdício de material, de execução mais rápida e de aspecto arquitetônico leve”, o engenheiro completa.
Por fim, o projeto foi concluído com a Capela, construída sobre um lago de pouca profundidade e uma estrutura inusitada. Formada por pórticos metálicos de seção tubular, um em seguida do outro, com espaçamento de 50 cm entre si, simulando um movimento em curva, o desenho sugere, com grande expressividade, uma dinâmica amplificadora, como se o que se entoa dentro da Capela se amplificasse para o mundo externo. (A.L.)
Projeto arquitetônico: Miguel Pinto Guimarães Arquitetos Associados
Área construída: 358 m² (garagem) e 247 m² (Casa das Crianças)
Aço empregado: Perfis laminados ASTM A572 GR50 (ABNT NBR 7007 AR345); Chapas de aço ABNT NBR 7007 MR250; Perfis de secção tubular ABNT NBR 7007 AR350 COR
Volume de aço: 27,5 t (garagem) e 14,8 t (Casa das Crianças)
Projeto estrutural: Projest Consultoria e Projetos SC Ltda.
Fornecimento da estrutura de aço: Perfer Estrutura Metálica Ltda.
Execução da obra: CMN Engenharia Ltda.
Local: Itaipava, RJ
Conclusão da obra: 2013