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SC: Geologia em alta

Publicado no Diário Catarinense - 28 de agosto de 2013 1544 Visualizações
SC: Geologia em alta
 
 Responsável pelo estudo da terra e dos minérios que a compõem, a Geologia é uma área que recentemente tem recebido bastante atenção dos órgãos ligados à engenharia e à construção civil. Os cuidados com o meio ambiente e o aumento populacional tem tornado quase impráticavel o crescimento organizado sem uma minuciosa análise de todos os fatores envolvidos, da rigidez do solo ao tratamento do aterro sanitário. 
O geólogo Rodrigo Del Omo Sato, ex-presidente da Associação dos Geólogos de SC (Agesc) e fundador da Sociedade Meteorítica Brasileira (SMB), recebeu a vestibulanda Mariana Pereira Koerich para falar sobre sua profissão e explicar a importância de se compreender a fundo o solo antes de explorá-lo. 
O bate-papo 
Mariana Pereira Koerich — Como funciona a relação entre teoria e prática o curso de Geologia? 
Rodrigo Sato — Como em qualquer ciência, a teoria é bem importante, mas tem que haver muito campo - e muito mesmo! Não dá para levar a montanha até o laboratório e estudá-la, então é preciso ir até lá e botar a mão na massa. Esse é justamente um dos principais problemas que os cursos novos estão enfrentando: estudar Geologia é caro porque há muita saída de campo, e os alunos eventualmente precisam ficar dias fora para conhecer os diversos tipos de terreno antes de se formar. Antigamente, achava-se uma fonte de minério ou de petróleo por um processo de tentativa e erro; hoje, com a evolução da tecnologia, conhecemos mais a fundo as diversas sutilezas da terra e sequer se abre uma jazida se não houver maneira de recuperar o local posteriormente. 
Mariana — Como é o curso de Geologia da UFSC comparado aos de outras universidades? 
Rodrigo — O que eu tenho percebido não apenas na UFSC é a constante falta de professores. É muito bom ter uma faculdade aqui, mas como o mercado está super aquecido, os salários também têm aumentado progressivamente e a carreira acadêmica está ficando menos interessante. E isso não acontece apenas nas universidades: pode-se dizer que tem havido um esvaziamento em órgãos que precisam dos geólogos devido às inúmeras possibilidades que estão se criando fora do âmbito público. 
Mariana — Muita gente vê na Petrobrás o principal campo de atuação do geólogo. Como é trabalhar lá? 
Rodrigo — Depois da descoberta do pré-sal, a Petrobrás tem feito uma campanha muito grande para a contratação de mais geólogos. É uma carreira interessante, mas eu não a seguiria. Um geólogo da Petrobrás se especializa em petróleo, que é um dos campos mais promissores dentro da carreira, mas quem são os único permitidos a explorar petróleo no Brasil? A própria Petrobrás ou as empresas que recebem concessão do governo, diferentemente de quem quer retirar minérios como o ferro. A carreira dentro da Petrobrás é excelente para quem pretende passar muito tempo na empresa e se tornar um grande especialista, talvez até a sua aposentadoria. 
Mariana — E em Santa Catarina, como estão as perspectivas? 
Rodrigo — No Estado inteiro, deve haver um pouco mais que 150 geólogos, o que é um número bem baixo. Posso falar com mais propriedade de Florianópolis, onde há anos se bate há anos na mesma tecla do mapeamento preventivo. Infelizmente, parece que é mais fácil remediar um acidente causado pela falta de prevenção do que de fato preveni-lo. No fim de 2011, um pedaço de rocha de 200 toneladas se soltou e destruiu quatro casas no Morro da Mariquinha, inclusive matando uma pessoa; quanto custou consertar o local? E quanto teria custado fazer um mapeamento anterior de todo o morro? Com certeza é muito mais barato e eficiente fazer estudos anteriores, mas até hoje ainda temos apenas alguns geólogos de risco em SC. A região do Vale do Itajaí também tem bastante espaço para atuação, especialmente para quem trabalha com deslizamentos e prevenção a enchentes, por exemplo. 
Por dentro da carreira 
ÁREAS DE ESPECIALIZAÇÃO 
Como a Geologia é uma área multidisciplinar, o espaço para o profissional é imenso: a hidrogeologia, por exemplo, estuda a água subterrânea; a geotecnia estuda a instabilidade de declives e ladeiras; a geofísica investiga o solo através de imagens para determinar que processos devem ser usados na exploração dele; a geomedicina trabalha com a relação entre os minérios e a saúde; a mineralogia se dedica ao estudo das propriedades físicas e químicas dos minérios. O geólogo também pode atuar na Paleontologia (ciência que estuda o passado da Terra pela análise de fósseis) sem especialização posterior, ao contrário de outras áreas. Outras possibilidades estão surgindo no mercado, mas como salienta Sato, todas são novas e começam agora a encontrar seu espaço em meio a disciplinas já consolidadas. 
DISCIPLINAS E TEMPO DE DURAÇÃO 
A graduação em Geologia da UFSC oferece 30 vagas por ano, e o ingresso acontece apenas no vestibular de verão. O curso é integral e a as disciplinas básicas são focadas na Matemática, Química, Física e Geografia, e as específicas trabalham com diversas áreas de atuação como a Mineralogia, Geometria, Paleontologia, Geologia Marinha e Costeira e Geologia Ambiental. A graduação dura cinco anos, e os dois últimos semestres são voltados a disciplinas optativas e ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). 
DO QUE PRECISA GOSTAR 
O perfil do geólogo é muito amplo, e depende de que área específica cada profissional seguirá. Entretanto, Sato explica que a principal exigência é disposição para botar o pé na rua: O nosso campo é o próprio lugar, o chão, as pedras. O geólogo precisa subir montanha, entrar no rio, fugir de boi bravo, explica Sato. Para os que não gostam disso, também há bastante campo para estudos laboratoriais, como a análise de minérios, mas a atividade também exige versatilidade por parte do pesquisador. Tem que ser uma pessoa que não goste de rotina, resume o geólogo. 
OPÇÕES DE ATUAÇÃO 
O trabalho do geólogo se concentra em dois focos: no âmbito público, há trabalho em órgãos de engenharia e de planejamento urbano, como o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), a Agência Nacional de Petróleo e a Petrobrás, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) ou o Ministério de Minas e Energia. Já no privado, o mercado se concentra em empresas de engenharia civil, sanitária, de mineração, de agricultura e agropecuária e de ecoturismo. 
MERCADO DE TRABALHO 
Rodrigo Sato explica que o primeiro grande momento da Geologia no Brasil foi durante o Regime Militar, quando grandes obras do governo (como a Hidrelétrica de Itaipu e a Usinas Nuclear de Angra dos Reis) exigiam um número elevado de análises geológicas. Durante as décadas de 1980 e 1990 a profissão esteve em baixa, mas a crescente preocupação com o meio-ambiente tem feito a área despontar: Há duas décadas, ninguém sabia dizer o que fazia a Geologia. Hoje, não se pode fazer nenhum tipo de exploração, obra de saneamento ou análise de solo sem a presença de um geólogo. 
REGISTRO E REMUNERAÇÃO 
O trabalho do geólogo é fiscalizado pelo CREA e o salário base da categoria é de oito salários mínimos e meio (R$ 5.840) para uma jornada de oito horas diárias. Um concurso da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil em junho deste ano abriu 206 vagas para pesquisadores em geociências com salários de R$ 6.235, com atuação em 13 capitais. A iniciativa privada, entretanto, tem sido mais lucrativa, com honorários estipulados pela Agesc e rendimentos mensais que podem ultrapassar os R$ 10 mil.