O principal entrave para a exploração econômica dos chamados minerais terras-raras no Brasil não é o impacto ambiental causado pela atividade, na avaliação de especialistas do setor mineral que participaram na quinta-feira (29) de audiência pública na Câmara. Segundo os debatedores, o País ainda engatinha na lavra e beneficiamento desses minerais por falta de corpo técnico capacitado e de investimentos em pesquisa. O termo terras-raras é empregado para designar o grupo de elementos químicos utilizado na produção de componentes eletrônicos de alta tecnologia (displays de televisores, super-ímãs, componentes para produção de energia limpa, como a eólica, etc). No entanto, a lavra desses minerais usa produtos altamente corrosivos, como o ácido sulfúrico e a soda cáustica, e, em alguns casos, gera resíduos radioativos, como o tório e o urânio. Segundo o diretor do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) – órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia –, Ronaldo dos Santos, existe legislação e diversos protocolos que regem a exploração sustentável de minerais, incluindo os elementos de terras-raras. Ele explica que a redução dos riscos da atividade depende da adoção de medidas protetivas já previstas em resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e, no caso específico de elementos radioativos, nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM). “Não se pode abrir mão de que essa exploração seja absolutamente sustentável e limpa. E para ser limpa temos que usar a melhor tecnologia e os melhores procedimentos de preparação, de acondicionamento, de imobilização e de co-processamento, até que isso atenda os padrões internacionais de controle ambiental e de saúde”, disse. Santos destacou, no entanto, que uma das principais dificuldades do País é o envelhecimento dos quadros de pessoal, sobretudo engenheiros, sem que haja reposição. “Se a universidade, que é o celeiro, não tem esses talentos o horizonte que se projeta é temerário”, disse ele, ressaltando que o Cetem conta hoje temos 3 servidores e 3 bolsistas trabalhando com terras-raras. Chance de desenvolvimento O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF), que propôs o debate sobre os impactos ambientais da mineração de terras-raras na Comissão de Meio Ambiente, defendeu que a proteção do meio ambiente não seja invocada para impedir o País de desenvolver tecnologias já dominadas por nações mais conscientes da importância estratégica dessa exploração. “Não existe indústria poluente, existe indústria porca. Há tecnologia e foi bem demonstrado que hoje é possível fazer a exploração, desenvolver indústria e ramos de produção sem deixar uma cratera contaminada com radiação que vai prejudicar uma comunidade”, disse o deputado. Ele concordou que a exploração de terras-raras esbarra na capacitação profissional e em investimentos em pesquisas e tecnologias e não em questões ambientais. “O Brasil precisa preparar profissionais que tenham capacidade de fazer a prospecção, a exploração e a separação desses minerais agregando tecnologia e valor”, completou. Refém Para o pesquisador e doutor em Química da Universidade de São Paulo (USP), Osvaldo Antônio Serra, o Brasil deve urgentemente atentar para a necessidade de produzir terras-raras, sob pena de ficar refém de outros países em relação a matéria-prima para refinar petróleo e gerar energia eólica. “Sem terras-raras não tem combustível limpo, não tem etanol e fica difícil refinar o petróleo e produzir veículos híbridos e componentes de alta tecnologia de alto valor agregado”, disse. Ele explicou que para produzir cada torre de energia eólica são usados cerca de 500 quilos de neodímio – um dos elementos de terra-raras – e que com 250 torres é possível produzir a mesma quantidade de energia de Angra II. “O mercado mundial [de terras-raras] representa cerca de 4 bilhões de dólares, mas o mercado de produtos que utilizam terras raras é de 4 trilhões de dólares”, completou. |