A canção de Vinicius de Moraes e Toquinho fala em aproveitar o sol que arde em Itapuã e depois sentir o arrepio do vento que a noite traz. Mas não é só para o ócio e para a preguiça que servem o sol e o vento da Bahia. Ao contrário, eles podem gerar muita energia. Mais especificamente, o sol e o vento da Bahia podem, separadamente, gerar energia para abastecer o país inteiro. As grandes vantagens dessas duas energias são que elas são limpas e inesgotáveis. O potencial dos ventos, ou a energia eólica, já começou a ser explorado e o setor já soma investimentos de R$ 8,5 bilhões no estado. Já a energia solar começa a dar os primeiros passos e ainda não foi destino de montantes tão significativos. Uma das empresas que está começando a perceber esse potencial é a alemã Donauer. “O sol da Bahia é o melhor do Brasil para a geração de energia”, diz o diretor da empresa, Marco Nowak. Segundo ele, o melhor sol está localizado na Chapada Diamantina e no entorno do município de Juazeiro. “Lá, tem menos nuvem, menos chuva, menos poeira e a luminosidade é forte”, descreve o executivo. Ao contrário do que o senso comum pode pensar, o calor do sol não é importante para a geração da energia. “O que a gente precisa é da luminosidade. Lá na Alemanha faz 0°C e o país é líder mundial em geração de eletricidade solar”, exemplifica. Mais do que isso, Nowak explica que temperaturas muito altas chegam a ser nocivas. “Mas como a luminosidade aqui é muito boa, acaba compensando”, diz. Segundo ele, a Bahia tem aproximadamente o dobro de insolação dos melhores lugares da Alemanha. A Donauer doou aproximadamente R$ 630 mil para a instalação de um sistema de energia solar fotovoltaico no projeto Tamar, na Praia do Forte. O sistema será inaugurado nesta quinta-feira. “Só o semiárido nordestino tem potencial para abastecer a América Latina inteira. A Bahia sozinha abasteceria o Brasil”, projeta. Investimentos Quem também está começando a fazer projetos de energia solar é a Renova Energia, já presente no estado com a energia eólica. “Estamos acreditando na energia solar, mas ela ainda não tem um preço muito competitivo. Como a eólica, vamos precisar de um investimento inicial, para depois colher os frutos”, diz Ney Maron de Freitas, diretor de Sustentabilidade e Comunicação da empresa. Segundo especialistas, a energia solar leva de oito a dez anos para começar a se pagar. “A eólica que é a bola da vez. Aproximadamente 15% de todo o potencial do Brasil está na Bahia”, conta ele. Ao todo, a empresa já investiu R$ 1,2 bilhão no Complexo Alto Sertão 1, no Sudoeste do estado. Agora constrói o Complexo 2, com investimento ainda maior: R$ 1,4 bilhão. “Até o ano que vem, vamos gerar energia para abastecer 1,9 milhão de pessoas, o que não é nem 2% do potencial do estado”. “A necessidade do país é de 120 gigawatts (GW). Hoje produzimos 2,9 GW, mas nosso potencial é de mais de 300 GW”, afirma Élbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Segundo ela, os ventos para serem bons precisam ser unidirecionais e com velocidade superior a 6 metros por segundo. “Aqui na Bahia, os ventos têm velocidade média de 10 m/s”, conta ela. Ao contrário do sol, quanto mais forte for o vento, mais energia será gerada. Complementar Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Energia e Mudança do Clima, Oswaldo Soliano, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará têm os melhores ventos do Brasil. “Na Bahia, os melhores ficam nas regiões da Chapada e de Sobradinho, o que é muito bom, porque é uma área relativamente inóspita, onde não há muito problema ambiental”, explica. Ele lembra, no entanto, que nem a energia eólica e nem a solar podem ser usadas como únicas fontes de energia. “Porque são intermitentes, se o vento parar, por exemplo, a energia para de ser produzida. O ideal é que haja uma complementaridade”. “Em períodos de sol, as hidrelétricas poderiam ficar só acumulando água para quando parar de chover”, sugere Ney, da Renova. Das 66 usinas de energia eólica leiloadas, 28 estão na Bahia Dos 66 projetos de energia eólica arrematados no 5º Leilão de Energia Reserva, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 28 foram na Bahia. Se forem contabilizados os parques do Nordeste, o número é ainda mais impressionante: 62. Em outras palavras, foram arrematados 567,2 megawatts em projetos localizados, principalmente, nas regiões de Sobradinho e Caetité. A Chesf é a responsável por quase metade dos projetos em solo baiano. Em parceria com a Brennad Energia, vai implantar três parques em Sento Sé e outros oito em parceria com as empresas Sequoia Capital e Casa Forte, no município de Pindaí. Enquanto isso, o parque já implantado pela Renova no município de Caetité continua sem funcionar. Isso porque, apesar de o parque estar pronto, a Chesf ainda não finalizou as linhas de transmissão que ligarão a energia produzida na região de Caetité ao Sistema Integrado Nacional. “A previsão é que as linhas sejam finalizadas pela Chesf até o final desse ano”, explica o diretor da Renova, Ney Maron de Freitas. Segundo ele, até 2014, a empresa já terá 15 parques funcionando. Pituaçu já utiliza energia solar e Fonte Nova deve iniciar em 2014 A geração de energia solar ainda engatinha no estado, mas, aos poucos, ela se fará presente sobretudo na vida dos amantes do futebol. É que essa semana a Coelba e a Fonte Nova Negócios e Participações (FNP) assinaram convênio para implantação de uma usina solar na Itaipava Arena Fonte Nova, com capacidade de gerar 750 MWh por ano, o equivalente ao consumo médio de três mil brasileiros. A usina solar deve entrar em funcionamento até a Copa do Mundo de 2014. O investimento é de cerca de R$ 5,5 milhões e toda a energia gerada será consumida no estádio. O Estádio de Pituaçu, por sua vez, é o primeiro da América Latina a ser totalmente iluminado por esta fonte de energia, desde o ano passado. Lá foi criado o Centro de Visitação Pituaçu Solar, que será aberto à visitação em meados deste mês. A visita ao centro começa com uma breve apresentação e introdução da história do estádio, bem como a explicação da importância do sol enquanto fonte de energia renovável e geração de energia solar fotovoltaica. Em um circuito montado, os visitantes terão oportunidade de vivenciar equipamentos interativos, como vídeos, painéis, maquetes que ilustram desde o percurso do sol até o acompanhamento em tempo real da geração de energia no estádio. O centro deve receber, principalmente, excursões escolares. Mão de obra para instalar placas solares ainda é escassa Um dos maiores entraves para a implantação de placas de geração de energia solar é a falta de mão de obra especializada. “A gente acaba tendo que botar engenheiro para subir no telhado. Como ainda não tem muito mercado, as escolas ainda estão começando a se preparar”, explica o especialista em energia Osvaldo Soliano. “Como aconteceu com a energia eólica, o mercado tem que existir primeiro para atrair fabricantes e cursos especializados”, emenda Ney Maron, da Renova. Segundo o diretor da Donauer, Marco Nowak, a falta de mão de obra faz com que a própria empresa tenha que treinar os eletricistas para instalar o sistema. “Mas como é muito simples, em duas semanas eles já estão aptos”, garante. Para quem tiver interesse pelo assunto, Soliano dá aulas no MBA em Energias Renováveis e Eficiência Energética, da Unijorge. O curso é direcionado, principalmente, a profissionais que estejam ligados direta ou indiretamente ao sistema energético brasileiro, tais como engenheiros, arquitetos, físicos, químicos, economistas e administradores que façam uso importante de energia. A duração é de 18 meses e as aulas acontecem de 15 em 15 dias (sextas e sábados), no campus do Stiep. |