Assume níveis gravíssimos a relação entre Brasil e Estados Unidos, pois, ao contrário do que declarou o presidente Barack Obama, a espionagem não se resume a temas de segurança, mas inclui energia. E, em desacordo com nota da agência de segurança norte-americana (NSA), a espionagem em energia não visa apenas a evitar crises mundiais, mas parece ter conotação empresarial. Com isso, há chances de adiamento do bilionário leilão de Libra, pois todos os dados guardados a sete chaves na estatal da Avenida Chile devem agora estar à disposição dos gigantes norte-americanos, em Houston. Não se sabe até que ponto os ianques compartilham informações empresariais com os seus aliados, integrantes da aliança política e militar, a Otan. Antes mesmo desse escândalo, já havia reações duras ao leilão. O ex-diretor da Petrobras Ildo Sauer afirma que Libra tem 50 bilhões de barris confirmados e, com pequeno investimento, a Petrobras poderia saber se no local há mesmo reservas de até 300 bilhões de barris. “ O governo está vendendo Libra por preço aviltado, para estancar uma crise específica no balanço de pagamentos”, diz. Em artigo no Jornal dos Economistas, do conselho e sindicato da classe fluminense (Corecon-RJ e Sindecon-RJ), o senador Roberto Requião, em texto de co-autoria de Raul Bergmann, diretor da entidade dos engenheiros da estatal (Aepet), afirma: “O Governo Dilma está promovendo um leilão para entregar o campo de Libra, já descoberto, com risco zero, diretamente às multinacionais do petróleo”. Para Requião e Bergmann, o governo está prestes a receber uma “ninharia” por um campo que poderia valer US$ 1 trilhão. O valor a ser recebido por Libra é estimado em US$ 15 bilhões, bom para fechar as contas externas, mas insignificante ante o potencial real de lucros para a nação, garantem Requião e Bergmann. Já Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia, diz que, propositadamente, exauriram a capacidade financeira da Petrobras, na hora dos leilões. Segundo Metri, um benefício para o Brasil, que seria o conteúdo local – produção no país de plataformas e equipamentos – é duvidoso, pois “a Agência Nacional do Petróleo não divulga descumprimentos da exigência de conteúdo local”. Marcelo Simas, professor de Geopolítica do Petróleo na UFRJ, analisa que a energia está coligada à estratégia econômica e bélica mundial. Os Estados Unidos estão dando incentivos ao xisto (shale gas) para reduzir sua dependência do Oriente Médio, com sucesso. Lembra que, em 2005, o gigante norte-americano dependia de 60% de petróleo importado, e hoje essa participação se limita a 45%. Informa que, em 2035, os Estados Unidos terão apenas 10% de importações líquidas de energia. E conclui que, com o fim das importações norte-americanas, restará para o Brasil vender óleo do pré-sal para China e Índia, “motivo pelo qual devemos acelerar o pré-sal”. |