A sobrevivência do ser humano neste planeta depende da água. Em muitos países o gerenciamento dos recursos hídricos tem sido objeto de uma política de estado altamente valorizada. Tudo isso a demonstrar que a dependência nas forças do mercado, não promoverá sozinha resultados satisfatórios, e que será sempre necessária alguma forma de intervenção por parte dos governos, a fim de implementar uma política de proteção e valorização desses recursos. Há que salientar ainda que a água passa por um ciclo hidrológico complexo, envolvendo chuva, absorção, escoamento superficial e evapo-transpiração, que torna as atividades ligadas aos recursos hídricos altamente interdependentes. Acontece porém, que os governos nunca tratam os recursos hídricos de maneira abrangente, fragmentando as decisões referentes ao assunto, posto que fornecimento de água para a população, energia elétrica, irrigação e transporte, são tratados por órgãos totalmente diversos, sendo assim também as decisões, fragmentadas e diversas. Não existe uma decisão única com relação ao uso da água, fazendo surgir problemas de coordenação e decisão a respeito de assunto tão importante. Nessas decisões de estado, dificilmente acontece a participação dos usuários, estando eles afastados do planejamento e gerenciamento dos sistemas de tais recursos, fazendo nascer projetos não confiáveis, viciados, que acabam por não atender os verdadeiros interesses dos consumidores. A nível mundial, a agricultura é, de longe, o maior usuário de água 69%, em comparação aos 23% na indústria e aos 8% no uso doméstico. Nos países em desenvolvimento, no entanto, o percentual utilizado na agricultura é até mesmo mais alto, 80%. A chuva é a fonte primária de água doce, sendo certo que sua vazão anual é de 50 vezes maior que o estoque normal mantido em rios, lagos e reservatórios. O controle da poluição e a qualidade da água que é oferecida à população tem deixado muito a desejar em vários países em desenvolvimento. O consumo de água poluída é a principal causa de muitos problemas de saúde, levando a óbito milhões de pessoas anualmente. Além dos danos econômicos e ambientais oriundos da poluição da água, é de registrar o sofrimento das pessoas. A pobreza é agravada substancialmente pelo não tratamento dos esgotos e do uso inadequado de águas poluídas nas fontes alimentícias, trazendo doenças e limitando o acesso à água limpa e saudável. Essas doenças debilitam as pessoas, com conseqüências negativas, diminuindo a sua produtividade, em especial nas áreas rurais. O lançamento de efluentes industriais não tratados, a lixiviação de produtos químicos agrícolas e as práticas inadequadas de uso da terra em agricultura, florestamento e mineração, causam grande degradação à terra e aos recursos hídricos. Novos tipos de poluidores têm surgido, representados por produtos químicos sintéticos não degradáveis, que são invisíveis, tóxicos e persistentes, de difícil tratamento e de alto custo. Mesmo existindo mais de 300 acordos entre países, buscando solucionar assuntos específicos sobre recursos hídricos, e mais de 2.000 acordos tratarem de provisões de água, é muito raro o gerenciamento coordenado de bacias fluviais internacionais, resultando perdas econômicas, degradação ambiental e conflitos entre países. Esse, infelizmente, é o saldo negativo da falta de uma política séria de gerenciamento dos recursos naturais colocados à nossa disposição. No mundo em que vivemos atualmente, onde a cada dia que passa os problemas ambientais se agravam, trazendo toda sorte de impactos, os profissionais das mais variadas áreas do conhecimento humano unem-se, para através da Hidrologia, ciência que cuida e estuda a água nos seus mais variados aspectos, buscar conhecer a verdadeira situação e propor ações visando combater as anomalias das ocupações irregulares das bacias hidrográficas. É sabido que as ocupações dessas bacias se deram de forma apenas a atender interesses dos usuários, sem que levassem em conta a necessária preservação ambiental. Hoje as conseqüências deixaram de ser em escala da bacia hidrográfica para atingir o seu ápice, vez que a problemática é a nível planetário. É justamente aí que entra em ação as ricas propostas da chamada Hidrologia Aplicada, que tem como objetivos imediatos detectar problemas na utilização dos recursos hídricos, na preservação do meio ambiente, bem como na ocupação da bacia. Todas essas irregularidades acabaram por nos ensinar que é preciso planejamento e gerenciamento da bacia hidrográfica, requerendo ações públicas e privadas coordenadas no sentido de do bom uso desses recursos naturais. As nossas cidades estão inchadas. Mais de 80% da população brasileira vive na zona urbana. O Brasil urbanizou-se sem planejamento, em conseqüência disso temos uma grande produção de sedimentos, enchentes e uma péssima qualidade de água que é oferecida à população. Enquanto isso, na zona rural acontece a expansão das fronteiras agrícolas com impactos violentos e destruidores do meio ambiente. São lançados na natureza grande quantidade de produtos químicos, agrotóxicos potentes, além dos sedimentos e nutrientes que terminam nas águas dos rios, que são assoreados pelos sistemáticos manejos da terra. Tanto na zona urbana quanto na rural, o desrespeito à natureza se faz de forma totalmente desequilibrada. As cidades jogam nos mares, rios, lagos, reservatórios e aqüíferos os esgotos sem tratamento, os resíduos industriais. No campo, os defensivos agrícolas, venenos da lavoura, de um modo em geral, e sedimentos vão todos para o leito dos rios, poluindo-os. O trabalho do Hidrólogo visa primordialmente o abastecimento de água, os aproveitamentos hidrelétricos, irrigação e regularização para navegação. O poder público constituído há que propor eficiente trabalho com relação ao abastecimento de água potável e estruturas de saneamento, proteção contra enchentes, drenagem, assim como provimento de água para atividades produtivas, de maneira economicamente viável, ambientalmente sustentável e socialmente equitativa. Essa nova abordagem deve ser planejada para atingir esses objetivos mais eficazmente, enquanto mantém e preserva o meio ambiente hídrico. A sociedade e um modo geral, tem uma idéia totalmente equivocada com relação à quantidade de água disponível para uso em nosso planeta. Em resumo: as pessoas acreditam ser infinitamente abundante a sua existência, sendo a sua renovação natural, todavia, a situação é bem diversa e bastante complicada. Somente para se ter uma idéia, 97,5% de toda água da Terra é salgada, apenas 2,5% da água do planeta é doce. De toda água do planeta, 1,72% são água doce congelada nas calotas polares e geleiras e 0,75% estão em forma de água doce subterrâneas; restando apenas 0,02% de água contida em plantas e animais e só 0,01% de toda água do planeta está disponível em rios, lagos e represas. Se pegarmos uma garrafa com 1,5 litro de água e a dividirmos proporcionalmente, como a encontramos no planeta, a quantidade de água doce disponível seria equivalente a uma única e insignificante gota. Existe uma previsão da ONU, Organização das Nações Unidas, salientando que, caso persista o descaso e irresponsabilidades com os recursos hídricos, metade da população mundial não terá acesso à água saudável a partir do ano de 2025, portanto, daqui a treze anos. Na verdade, esse problema já atinge hoje 20% da população da Terra, qual seja, mais de um milhão de pessoas. Esses mesmos estudos apontam que considerando o crescimento populacional à razão geométrica de 1,6% a.a., em 2053 poderá ocorrer o esgotamento da potencialidade dos nossos recursos hídricos. Dessa forma, fica patente e claro a premente necessidade de pesquisas, estudos sistemáticos sérios, acompanhados de uma tecnologia ágil e eficiente no sentido da exploração equilibrada e racional desse bem, responsável pela vida em nosso planeta. O nosso país é justamente aquele que possui a maior quantidade de água doce do orbe, contando com uma reserva de 12% a nível mundial. Vivemos uma situação deveras diferenciada, vez que, enquanto na região da Bacia Amazônica (Norte e Centro-Oeste) temos o precioso líquido em abundância, o contrário ocorre no Nordeste Brasileiro, que sofre com a escassez e a falta de infraestrutura nas localidades da região. Já o Sul e Sudeste enfrentam conflitos de uso, onde a poluição e a degradação das bacias são visíveis e sentidas. Há que parar para pensar. O nosso país detém 12% de toda água doce da superfície terrestre, no entanto, ocupa o vergonhoso 50º lugar no ranking mundial da saúde hídrica. Não estamos cuidando das nossas águas. Estamos nos envenenando através da sujidade que despejamos dentro dos rios, lagos e mar. Bebemos veneno por tabela. Os professores Daniel Ferreira de Carvalho e Leonardo Duarte Batista da Silva, desenvolveram um estudo sobre Hidrologia e enfocam que “o continente da América do Sul conta com abundantes recursos hídricos, porém existem consideráveis diferenças entre as distintas regiões nas quais os problemas de água se devem, sobretudo ao baixo rendimento de utilização, gerenciamento, contaminação e degradação ambiental. Segundo a FAO a Argentina, o Peru e o Chile já enfrentam sérios problemas de disponibilidade e contaminação da água por efluentes agro-industriais. A situação brasileira não é de tranqüilidade, embora seja considerado um país privilegiado em recursos hídricos. Outra questão refere-se ao desperdício de água estimado em 40% por uso predatório e irracional. Por exemplo, em Cuiabá o desperdício chega a 53% de toda água encanada e na cidade de São Paulo a população convive com um desperdício de 45% nos 22.000km de encanamentos, causados por vazamentos e ligações clandestinas”. *Antônio Padilha de Carvalho, geógrafo, mestrando em Hidrologia/UFMT, Presidente do CLUBE GEO- Instituto de Defesa do Meio Ambiente e colabora com o DC Ilustrado. |