O petróleo que transforma
Em tempos que o mundo gira em torno da discussão por energia limpa, e que os combustíveis fósseis permanecem com o crédito de vilão número 1 do aquecimento global, pensar em crescimento a partir da cadeia de petróleo e derivados parece sacrilégio, mas não é. Para que se tenha o tão almejado desenvolvimento é preciso que a economia cresça, e quem lidera o crescimento é o setor privado para o desespero dos socialistas de plantão. Dizem os economistas clássicos, por sua vez, que as vantagens comparativas são um importante elemento para explicar o padrão de crescimento, e estas também podem surgir da formação de capital em uma determinada região.
E o que isto tem a ver com Pernambuco? Décadas atrás polêmicas se formaram em relação a construção de mais um porto por estas paragens, além do uso de recursos oriundos de privatizações para investimento em malha rodoviária que privilegiaria basicamente os empresários de uma determinada área. Tais investimentos foram por muito tempo considerados desnecessários, sem propósito, ambientalmente destrutivos e lesivos ao patrimônio do estado. Como resposta foi colocado, anos a fio, que Pernambuco deveria aproveitar sua posição central entre os centros de consumo Nordestinos para se firmar como HUB de transporte, centralizando distribuição para o mercado interno e, quiçá um dia, para o mercado externo.
Hoje temos o porto de Suape, temos a duplicação da BR 232 no sentido Leste-Oeste e da BR 101 no sentido Norte-Sul, e temos uma refinaria que caiu de paraquedas. Embora saibamos que a Petrobras jamais vai conseguir recuperar o que foi investido, é fato que ela também não irá fechar a refinaria e, desta forma, cabe as empresas locais aproveitarem as vantagens advindas deste novo arranjo na economia local. Elas estão a fazer isto? Sim, com certeza.
Com base nos dados do Valor Econômico acerca da receita líquida das empresas em 2017 fica evidente que as empresas ligadas a produção e refino de petróleo, bem como distribuição de combustíveis, já se consolidaram como as maiores de Pernambuco entre as que tem sede neste estado. Por larga margem as três maiores são desta área: Total Combustíveis (distribuição), Petrogal (produção) e Petrovia (distribuição). Também das seis maiores, apenas uma (Compesa) não é desta área, e das 15 maiores apenas duas são estatais (Compesa e Copergás). Combinadas as receitas líquidas destas 15 empresas chegam a quase 15% do PIB pernambucano.
Este é um caso típico onde uma vantagem comparativa é guiada pela intervenção do poder público e apropriada adequadamente pelo setor privado. Sendo devidamente aproveitada, deverá gerar renda de forma sustentável por bastante tempo. Finda a estratégia? Longe disso. Pernambuco está apenas começando a se mostrar viável como HUB de distribuição para o mercado Nordestino, e há entraves a se resolver. Elementos como o arco metropolitano, ramais ferroviários e a retomada da navegação de cabotagem continuam em aberto para serem tratados na esfera pública e privada.
Mas isto não quer dizer que o Estado fica colocando dinheiro que servirá para os empresários ficarem mais ricos? Sim, é isto mesmo, porém é preciso que se mude o contexto desta informação. O Estado investe para criar emprego e renda, e quem cria isto é o setor privado e ele faz isto para lucrar mais. Quando se cria infraestrutura que permite que as empresas cresçam, elas produzem mais, empregam mais, pagam mais impostos e a massa de salários aumenta. É daí que vem o retorno do investimento público. É certo que a questão distributiva não é tratada com estas estratégias, é tratada em separado. Porém, importante ressaltar, é muito melhor brigar para distribuir riqueza que para repartir pobreza.
* Professor do Departamento de Economia da UFPE