Design urbano ajuda a construir cidades mais inteligentes e sustentáveis
Terra
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05 de outubro de 2018
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Uma cidade sustentável exige muito mais do que o uso de materiais ecologicamente corretos e sistemas isolados de eficiência hídrica e energética. Um sistema urbano realmente eficiente do ponto de vista da sustentabilidade precisa de algo que considere o todo - uma solução que necessariamente passa pelo design.
O caso da construção civil é simbólico. Para medir a viabilidade e sustentabilidade de novas edificações, são consideradas avaliações ainda mais amplas que o uso conveniente de eletricidade, água, gás ou saneamento básico. A cidade de São Paulo, por exemplo, regula desde 1999 a atividade de coleta de resíduos desta indústria. Alguns órgãos de controle, como a Green Building Council Brasil (GBC Brasil), que oferece a Certificação LEED, estabelecem especificações para que um empreendimento possa ser considerado verde.
Para a arquiteta Ana Simão, é preciso ir além: mais do que prédios inteligentes, uma cidade sustentável precisa ser pensada de maneira integrada e abrangente. Não basta que apenas as construções utilizem iluminação econômica e água de reúso, mas que a infraestrutura como um todo seja pensada de forma coordenada, valorizando energeticamente os resíduos de maneira contínua, afirma.
Apesar das orientações de instituições públicas ou privadas que partem de iniciativas ambientais, habitacionais ou comerciais, muitas cidades não observam boas práticas de adensamento. O mais comum é que bairros se formem e cresçam seguindo vocações espontâneas. Municípios fortemente residenciais passam a ser considerados meros dormitórios e exigem grande deslocamento para locais de trabalho ou compras, sobrecarregando o sistema de mobilidade urbana, seja por transporte coletivo ou carros particulares. São Paulo foi se formando lote a lote, há poucos bairros com zoneamento misto. É preciso pensar o adensamento e as estruturas urbanas em conjunto, destaca Verônica Polzer, arquiteta, pesquisadora, professora da Universidade Mackenzie e consultora em gerenciamento de resíduos sólidos.
Comunicação eficiente é uma das ferramentas mais importantes para estruturar uma cidade sustentável. Verônica cita o exemplo de instalações de gás ou saneamento básico: se as concessionárias trabalhassem de forma integrada com as empresas fornecedoras de energia, uma perfuração no asfalto para manutenção poderia ser o momento ideal para enterrar os fios que passam pelos postes levando eletricidade ou sinal de internet. Para ela, o importante é juntar esforços para resolver problemas. Isso é que é sustentável e inovador.
NOVOS DESENHOS, ANTIGAS TECNOLOGIAS
As soluções mais eficientes muitas vezes são encontradas em práticas simples e tradicionais, embora precisem de nova roupagem e outras aplicações. É o caso do tijolo de adobe, que é artesanal, natural e gera menos resíduos, mas é produzido no próprio canteiro da obra e precisa ser protegido contra umidade. É um ótimo material, térmico, acústico e funciona muito melhor do que o que temos na construção civil hoje, informa Verônica.
Certos modelos de tijolos ecológicos já estão sendo aproveitados em larga escala. Apesar de serem um pouco mais caros, eles não passam pela etapa de queima e se colam uns aos outros, ou seja, não empregam argamassa. E um detalhe pode fazer toda a diferença, do ponto de vista sustentável. Algumas marcas oferecem tijolos com um furo no meio, o que permite o encaminhamento de pilares e vigas entre os tijolos, facilitando o trabalho e gerando menos detritos ao final do processo.
E quem não sabe a diferença que faz ter uma plantinha em casa ou no escritório? As paredes verdes apareceram recentemente para ajudar a cidade a respirar melhor e tomaram conta da paisagem. A prefeitura de São Paulo adotou a prática para ruas e avenidas a partir de 2016, cobrindo grafites e pichações com vasos de onde brotam folhas e flores. Verônica, no entanto, alerta para o fato de que essas paredes não foram pensadas para receberem o peso e a umidade das plantas, de maneira que danos na estrutura dos muros e medianeiras ainda não podem ser avaliados. Além de precisarem de manutenção constante, as paredes verdes têm alto custo para implantação. Neste sentido, é melhor pensar em telhados verdes, como fez o Shopping Eldorado. Se tiver infiltração, pode-se corrigir sem risco para a estrutura, afirma.
Outro exemplo de inovação que favorece a sustentabilidade é o uso do container. Ele revolucionou o transporte de carga, mas o equipamento para uso terrestre tem uma vida útil que pode variar entre oito e 20 anos apenas. Depois disso, precisa ser descartado e pode ser recondicionado para uso na construção civil, reaproveitando o material. Acho fantástico. É uma solução fácil, limpa, rápida e acessível para quem precisa de moradia, explica a arquiteta.
Apesar de seu uso ser ainda tímido no Brasil, muitas iniciativas no exterior já incorporam o uso dos containers para áreas amplas. É o caso da vila de estudantes na cidade universitária Le Havre, na França. Lá, prédios de quatro andares foram montados a partir de containers usados, dando lugar a 100 apartamentos de 24 metros quadrados por unidade.
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