Para atestar a sustentabilidade dos empreendimentos com um padrão internacional, o USBGC (United States Green Building Council) desenvolveu a certificação ambiental LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) que atribui pontos a cada item de sustentabilidade conquistado na obra, distribuídos em seis categorias. Quanto à primeira categoria, de terrenos sustentáveis, a escolha de um lote para o empreendimento é um momento decisivo. A viabilidade ambiental do terreno deve ser analisada no início da fase de projeto, antes de qualquer atitude. Priorizar a preservação de áreas naturais e a localização em bairros já bem consolidados constituem importantes diferenciais. O LEED premia o empreendedor que vai contra a especulação imobiliária que retém terrenos bem supridos de infraestrutura e vizinhança somente para valorização, avalia a arquiteta e analista da Master Ambiental Carolina Prates Mori. A proximidade a dez serviços básicos é um dos critérios que mais rende pontos para o LEED. Também porque inibe a necessidade de automóvel para deslocamentos simples, como ir à farmácia ou à padaria. Essa consolidação é atestada, principalmente, pela conexão entre os moradores, o empreendimento e os serviços oferecidos em um raio de 800 m, fator que contribui com a mobilidade urbana. Se o projeto incentivar o uso de transportes alternativos, a pontuação é ainda maior. Além de estabelecer uma boa relação urbana, algumas características do terreno devem ser observadas, como a eventual existência de contaminação do solo, que constitui passivo ambiental. Neste caso, conforme os parâmetros para certificação LEED, o empreendedor que investir na recuperação do local ganha pontos. Proteger ou restabelecer o habitat natural são atitudes valorizadas para a certificação. Um habitat natural implica no uso de espécies nativas no paisagismo, o que também pode diminuir a necessidade de irrigação, já que estas plantas estão acostumadas ao regime de chuvas local. Outro impacto que o LEED procura reduzir é a poluição luminosa. Esta é responsável pelo ofuscamento da abóbada celeste. Já percebeu como na cidade não conseguimos ver as estrelas como no campo? E como fazer isso? Adotando luminárias nunca direcionadas para fora das janelas ou para cima nos espaços externos, exemplifica a arquiteta. Dentre os quesitos relacionados à localização, o que mais evidencia a postura sustentável - por valer mais pontos - é o fácil acesso ao transporte público. Para isso, a obra deve se localizar pelo menos a 400 metros de pontos de ônibus com mais de duas linhas ou a 800 metros de trens e metrôs. Incentivar o uso de veículos de baixa emissão ou maior eficiência, além de reservar vagas aos caroneiros também são apreciadas. Dentro do lote, é importante estimular o uso compartilhado de veículos e manter vagas para transportes alternativos, como bicicletas e veículos elétricos, salienta.noticia-construcao-sustentavel-bueiros O controle e manejo das águas pluviais são um aspecto característico de terrenos sustentáveis. Concretizando essa preocupação, foi criado o Plano ESC (Erosion and Sedimentation Control), para evitar impactos relacionados à erosão e à sedimentação durante a obra. Um exemplo prático é a adoção de filtros nas bocas de lobo do entorno, que impedem a entrada de sedimentos da obra nas galerias pluviais e bueiros e assim evitam que sejam carreados ao corpo hídrico ou provoquem o entupimento da rede de escoamento da cidade. Além disso, Quanto menor a impermeabilização do terreno, menos a obra vai provocar aumento de enxurradas, complementa Carolina. O empreendedor deve optar por manter áreas de infiltração da água no solo maximizando o espaço aberto permeável. O LEED estabelece o quesito 25% de área permeável, número calculado a partir da porcentagem definida pela legislação local. Por exemplo, em Londrina, Paraná, onde a determinação legal é de 20%, um terreno com 1000 m² deverá manter 250 m² de área permeável. Outro critério advém da minimização do efeito ilha de calor, que se refere ao calor produzido nos centros urbanos devido às superfícies escuras das construções. Uma das sugestões da arquiteta é a cobertura vegetal dos telhados. No entanto, para que haja funcionalidade, é necessário estruturar a obra para suportar a carga, priorizar o plantio de vegetação resistente nativa, como, por exemplo, a Portulaca grandiflora (onze-horas), e promover sua manutenção. Ao cumprir esses critérios, o empreendedor ganha pontos na categoria terrenos sustentáveis para obtenção da certificação LEED. Para que consiga pontuação suficiente, é preciso investir nos itens das demais categorias, que serão tema das próximas matérias. E, como não poderia faltar, disseminar as diretrizes e posturas sustentáveis adotadas pelo empreendimento conta bastante! *Fernando João Rodrigues de Barros é engenheiro civil formado pela PUC-RJ, especialista em Planejamento e Gestão Ambiental pela Universidade Cândido Mendes (RJ) e mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento pela UEL. Atua há 35 anos nas áreas imobiliária, da construção civil e industrial. É responsável técnico da Master Ambiental – empresa londrinense de auditoria, consultoria e licenciamento ambiental – e presidente, por três gestões seguidas, do Conselho Municipal do Meio Ambiente. |