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Cidades também adoecem

Escrito por Werney Serafini - 25 de setembro de 2013 1022 Visualizações
Cidades também adoecem
 
Segundo o coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Carlos Dora, as cidades também ficam doentes. 
Sofrem do que chama de ‘doença urbana’. Uma enfermidade não transmissível, mas que causa mortalidade. Seus vetores são a poluição do ar que provoca doenças do coração e do pulmão; a falta de atividade física que provoca obesidade, diabete, doenças cardíacas e câncer; e o trânsito, com os acidentes.
Tem muito a ver com a mobilidade urbana e os efeitos ‘colaterais’ do transporte que é utilizado.
Para ele, o transporte coletivo em canaletas exclusivas é a melhor alternativa. Por ser separado do trânsito geral, proporciona ganhos em saúde para a população. Entretanto, reconhece que ganho em saúde já foi obtido com a utilização da bicicleta na locomoção individual.
A Organização Mundial de Saúde possui softwares que possibilitam calcular quanto que os investimentos em pistas cicláveis proporcionam para a saúde. Tudo quantificado em moeda, isto é, ganhos expressos em dinheiro e obtidos a partir da diminuição das consultas médicas na rede pública, do tempo gasto na locomoção para o trabalho, das internações nos hospitais, menos medicamentos e por aí afora.
Um transporte coletivo organizado e em faixas exclusivas oferece rapidez e conforto para o usuário. Pode, inclusive, suplantar o transporte individual feito com automóveis. Além de proporcionar melhores condições para a população caminhar ou pedalar em uma cidade limpa, com menos poluição no ar, com menos risco de acidentes no trânsito e, não só com o acidente em si, mas com o temor de sofrê-lo ao atravessar correndo uma rua ou avenida.
Nesse sentido, a segurança está envolta num circulo vicioso. O medo de que o filho possa sofrer um acidente no trajeto para a escola, faz o pai levá-lo de carro. Quanto mais pessoas adotarem esse procedimento, mais carros estarão nas ruas e mais risco de acidentes. Isso se retroalimenta. A verdade é que as cidades são projetadas para o automóvel e não para as pessoas.
Um ‘bom’ sistema de transporte deve prever espaço para os pedestres e as bicicletas. Assim proporcionará não só os ganhos com a saúde, mas também igualdade e equidade. Deve possibilitar, também, o estabelecimento de indicadores para medir o grau de sustentabilidade nas cidades. 
Os sistemas precisam ser factíveis, em outras palavras, ter eficiência operacional: veículos limpos, que circulem com rapidez e segurança e que deem acesso para os pedestres e ciclistas. O critério de escolha qualitativo, ou seja, equipamento adequado, que passe no horário indicado, que tenha informações, dê segurança, acesso e principalmente, planejado com cuidado. Esse conjunto é que dará característica ao ambiente urbano.
Na Europa andar de bicicleta é do cotidiano. Considera-se lá que um bom sistema de ciclovias indica a existência de transporte de qualidade e ambientalmente correto. As ciclovias estão em lugares agradáveis e dão espaço para os pedestres. Antes existia o receio de que o espaço cedido aos pedestres e ao transporte coletivo prejudicasse os negócios. Foi exatamente o contrário, melhorou o comércio, sobretudo para segmentos como restaurantes, bares e prestadores de serviços.
Essa é uma visão moderna de mobilidade urbana, coerente com os novos tempos. Não importa se a cidade é pequena, litorânea ou serrana. É preciso planejar seu desenvolvimento sob a luz desses critérios, que nem sempre são percebidos. Não repetir o erro de tantas outras que privilegiaram o automóvel – símbolo de sucesso, crescimento e progresso econômico – em detrimento do transporte coletivo. Hoje estão congestionadas, poluídas, inseguras e sem perspectivas para o futuro.
O que ainda se vê em muitas cidades balneárias e turísticas é investimento de recursos para ampliar a circulação dos automóveis.  Nada ou muito pouco, em ciclovias para as bicicletas e calçadas para os pedestres.  Em Itapoá, o lazer é a praia, que sofre de outra grave enfermidade, a ‘doença da erosão’.
O desanimador é que sai governo, entra governo e pouco acontece, tudo fica como antes. Até o discurso é sempre o mesmo.