Gestão Pública: como usar a tecnologia para combater a corrupção
Ao acompanhar as propostas dos candidatos, o discurso é macro e não dá lugar a assuntos sobre o uso da tecnologia no combate à corrupção. O tema Inteligência Digital aplicada por meio do conceito de Modelagem das Informações de Construção, ou BIM (Building Information, junto a Modeling), junto a outras abordagens correlatas, como o VDC (Virtual Digital Construction) e o Digital Twin, são inexistentes no atual debate político, porém deveriam estar nas manchetes, já que são tecnologias efetivas na busca por transparência, gestão e controle dos investimentos.
Quanto mais simples e direta for a apresentação da prestação de contas e mais fácil for sua análise, mais cidadãos poderão entendê-las de forma direta, ou seja, mais cidadania teremos. Este é uma potencial contribuição do BIM, ainda que não explorada por nossos políticos.
Hoje, relatórios gerenciais e contábeis sobre custos e avanços de obra não são compreensíveis pela grande maioria da população. Esta falta de clareza pode levar a dúvidas sobre o motivo de um orçamento ter estourado. Erro de projeto? Orçamento mal feito? Imponderáveis inerentes à engenharia? Decisões administrativas, políticas ou jurídicas que afetaram os custos? Corrupção? Para resolucionar esses casos, há discussões em tribunais de conta e entre os gestores, assim como denúncias na imprensa, mas, geralmente, poucas conclusões que permitem separar o joio do trigo.
Agora, imaginem um projeto em 3D associado com o planejamento da obra e um gráfico do desembolso financeiro planejado, tudo animado, mês a mês, comparando o planejado com o realizado. Vou mais além: quão interessante seria se, na tela do celular, de qualquer cidadão, ao passar pela obra ou acessar o site do governo, poder tirar uma foto do QR Code associado à obra e obter essas informações? Isto é o BIM na dimensão 5D, sem marketing, sem assessoria de imprensa, sem custos adicionais, o “i” da informação fluindo em prol da transparência.
Um outro exemplo é a aplicação do “Irmão Digital” ou Digital Twin. Trata-se de uma cópia digital da obra, que recebe dados de forma contínua do mundo real por meio de sensores. Teríamos como analisar dados de forma muito mais eficaz, monitorar, entender e consertar problemas antes que ocorressem, além de possibilitar simulações e projeções. O custo adicional de criar o irmão digital ao se contratar a obra física é muito baixo. Sua correta aplicação mudaria o patamar dos serviços públicos na saúde, transporte e educação.
Alguns vão pensar que tudo isto é um grande devaneio, que o Brasil não tem nem o básico, logo não se deve pensar em sofisticações. Porém, são estas inovações que estão permitindo fazer “mais com menos”, que estão revolucionando o mundo e que permitem o pequeno fazer mais que o grande. Vamos em frente!