Não é de hoje que o vice-diretor executivo do Deutsche Bank, Caio-Koch-Weser, defende um modelo de gestão em que o setor privado seria o responsável por iniciativas de combate aos efeitos negativos das mudanças climáticas. Ex-membro de um grupo criado pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, para debater sobre o financiamento de medidas de combate e adaptação ao aquecimento global, ele reiterou em entrevista à Deutsche Welle que não acredita que a ONU seja o melhor fórum para as negociações relativas ao estabelecimento de um preço global dos chamados créditos de carbono, ou permissões para emitir gases poluentes. Como alternativa à ONU, Koch-Weser defende que medidas de combate ao aquecimento global sejam abordadas de baixo para cima, partindo do setor privado, que criaria mecanismos inovadores a serem levados à política apenas num segundo momento – e não o contrário, como acontece atualmente. Para o economista nascido no Paraná e criado na Alemanha, a China já entendeu onde está o desafio, com uma preocupação cda vez maior com a qualidade do crescimento econômico. Para fazer disso uma oportunidade em vez de somente um custo, os chineses respondem de forma rápida a mecanismos como a implementação de padrões de eficiência energética, avalia Koch-Weser. O especialista em Finanças também fez parte do governo alemão (1999-2005) como Secretário de Estado das Finanças. Sua mudança para o setor privado, em 2006, chegou a ser investigada pelo Ministério das Finanças alemão por suposto conflito de interesses. Atualmente, Caio Koch-Weser é, entre outras funções, presidente do conselho da Fundação Europeia para o Clima. Leia abaixo a íntegra da entrevista: Deutsche Welle: No passado o senhor descreveu a si mesmo como um pessimista em relação à habilidade da Organização das Nações Unidas (ONU) e dos governos de definirem um preço global para os créditos de carbono. Por quê? Caio Koch-Weser: Eu não estou convencido de que a ONU seja o melhor fórum para as negociações e para que se chegue rapidamente a um acordo, a menos que isso seja amparado por outras iniciativas, de baixo para cima. Eu acredito que teremos um momento decisivo em 2015, com a 21ª Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a ser realizada em Paris. Nós deveríamos fazer todo o possível para fazer disso um sucesso, mas precisamos de sistemas inovadores – de grupos, de grupos de países com pensamento similar ou de indústrias com pensamento similar e que tenham projetos de transformação – para avançar. Em seguida, poderemos ir até os políticos e cobrar para que nos eles nos deem um quadro regulatório para podermos trabalhar seguindo esses parâmetros. O senhor exorta corporações a realizar investimentos em infraestrutura verde. O que imagina concretamente quando usa esse termo? Eu imagino que grandes quantidades de financiamento podem fluir para a economia verde e para o desenvolvimento sustentável verde. De forma global, muito dinheiro já está sendo gasto, mas nós precisamos de parâmetros políticos confiáveis. Portanto, precisamos de transparência e de mecanismos que funcionem a longo prazo com credibilidade e segurança. Sou um grande seguidor do lema me dê um preço para o crédito de carbono e eu entrego a redução de emissões de CO2. Acho que essa máxima vai funcionar se o preço do crédito de carbono for estável, confiável e duradouro. Neste sentido, eu penso que nós podemos ver uma grande onda de inovação, inclusive na China, onde eles já entenderam o problema dessa forma e estão se movendo nessa direção. Para eles, a composição e a qualidade do crescimento econômico estão se tornando muito mais importantes do que apenas a taxa de crescimento. O senhor parece bastante otimista quanto ao potencial que a China pode ter para influenciar o preço do crédito de carbono… A China deveria fazer ainda mais, mas a sua nova liderança entendeu que poluição, carvão e custos de transporte – assim como a qualidade de vida urbana – vêm se tornando as maiores preocupações dos cidadãos chineses. Eu penso que eles vão criar um círculo virtuoso focado na urbanização ecológica e na redução de poluição e de problemas de saúde. Para fazer disso uma oportunidade em vez de somente um custo, os chineses respondem de forma rápida a mecanismos como cap and trade [limite e negociação, em tradução livre, ou um mecanismo de mercado que cria limites para as emissões de gases de um determinado setor ou grupo. Depois de os limites serem estabelecidos, são lançadas permissões de emissão e cada participante do esquema decide como cumprir estes limites]. A China também está aberta à taxação de carbono e à implementação de padrões de eficiência energética. Neste sentido, estou otimista. Eu acredito que eles entendem melhor do que algumas democracias ocidentais onde está o desafio e onde poderiam encontrar uma oportunidade. Formando clubes de setores com diretrizes parecidas, como os setores de renováveis e de eficiência energética, existe uma abordagem de baixo para cima que complementa as negociações da ONU. Eu não gostaria de soar muito negativo em relação à ONU, mas ela não pode realizar o trabalho sozinha. Então o setor corporativo deveria ter mais oportunidades de desempenhar um papel de liderança no combate às mudanças climáticas? Sim, mas também no sentido de desenvolver as próprias ideias. Eu acho que não podemos esperar que a sociedade civil exija dos governos a configuração de um quadro de políticas e que só depois as empresas entrem no jogo. Nós precisamos de um ritmo diferente no futuro, com uma sociedade civil fazendo exigências justificadas, e no qual grandes representantes do setor privado se unam e gerem ideias transformadoras e conceitos. Depois disso, o caminho levaria aos políticos, aos quais se diria: para que isso e aquilo aconteça, nós precisamos dessa e daquela reforma regulatória, ou desse ou daquele incentivo ou política. Atualmente os governos costumam agir sob pressão e é necessário haver mais iniciativa de natureza estratégica que venha também do setor privado com alianças inovadoras. |