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3 desafios para a mobilidade sustentável nas cidades brasileiras

WRI BRASIL - 13 de novembro de 2018 1144 Visualizações
A Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), a exigência dos planos de mobilidade, investimentos em infraestrutura cicloviária, sem falar nos serviços de nova mobilidade que a cada dia ainda ganham as ruas. Nos últimos anos, o setor passou por avanços incontestáveis, mas ainda são muitos os desafios.
 
 
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 Acesso à estação do VLT, no Rio de Janeiro (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil)
 
 O cotidiano de quem circula pelas ruas de nossas cidades todos os dias ainda revela uma série de obstáculos a serem superados. A fim de entender quais desses desafios são considerados mais eminentes, perguntamos aos nossos seguidores no Facebook:
 
Qual é a maior dificuldade de mobilidade que você enfrenta no dia a dia da sua cidade? 
 
As respostas não vieram das mesmas cidades. Responderam leitores de São Gonçalo, Ribeirão Preto, Itaquaquecetuba, Vitória, Salvador. No entanto, mesmo considerando distintos contextos geográficos, sociais e econômicos, é possível observar que muitos dos desafios são comuns.

Calçadas
 
A maneira como o ambiente urbano é desenhado influencia a maneira como as pessoas o utilizam. Assim, se uma rua possui calçadas em boas condições e com espaço adequado para a circulação dos pedestres, é natural que as pessoas caminhem mais nesse local. Por outro lado, calçadas precárias, obstruídas ou até inexistem desestimulam ou inviabilizam a caminhada – acabando por incentivar, em consequência, o uso do carro.

Uma dificuldade no que diz respeito à construção e à manutenção das calçadas é que a regra sobre de quem é essa responsabilidade varia de cidade para cidade. Em algumas, é obrigação do proprietário do imóvel adjacente; em outras, do poder público. Ainda, existem os casos em que o dever é dividido entre ambas as partes. No Brasil, a maioria dos municípios se encontra no primeiro modelo. Seja qual for o caminho escolhido, porém, as cidades precisam ter em mente de que as calçadas são fator decisivo para incentivar a mobilidade ativa e para garantir que a prioridade dos pedestres seja exercida também na prática.

Como já escrevemos aqui, a qualidade das calçadas está associada ao conforto percebido durante a caminhada e pode determinar a disposição que as pessoas têm de usar ou não a caminhada como meio de transporte em seus deslocamentos diários. Mais do que isso, é um direito do pedestre, estabelecido no Artigo 68 do Código de Trânsito Brasileiro.

No guia 8 Princípios da Calçada, o WRI Brasil reúne em uma mesma publicação as referências mais relevantes sobre construção de calçadas que atendam às necessidades do planejamento urbano e oferece recomendações para que os projetos de infraestrutura para pedestres sejam mais qualificados. A qualidade das calçadas pode ser potencializada, não apenas para atrair mais pedestres, mas também para tornar-se um espaço agradável, onde as pessoas querem estar e conviver.

Acesso ao transporte coletivo
 
 Carlos Eduardo Kacinskas, Itaquaquecetuba.
A estação de trem fica a apenas 3 km de casa, mas uma parte do caminho é por uma estrada que não possui calçada, o que obriga os pedestres que se aventuram por ali a andar no acostamento dela. Falta uma ciclovia e um bicicletário, então o jeito é pegar um ônibus municipal que ironicamente custa R$4,10 - 10 centavos a mais do que o trem, porém a passagem de trem da direito a usar toda a rede da CPTM e do Metrô.

Do mesmo modo que a qualidade das calçadas pode incentivar ou desincentivar a opção pela caminhada, as condições de acessibilidade no entorno de estações e terminais impactam a experiência do usuário de transporte coletivo, podendo estimular ou desencorajar a escolha pelo modo. Muitas vezes, infraestruturas urbanas mal construídas ou mal posicionadas nessas áreas tornam-se obstáculos, isolando os sistemas de quem precisa deles. A falta de segurança no acesso às estações também é um determinante: se caminhar até a estação não for seguro, quem tiver condições pode facilmente dar preferência ao transporte individual motorizado.

Os trajetos a pé percorridos pelas pessoas antes e depois de utilizar o ônibus ou o metrô podem mudar a decisão das pessoas por utilizar esses modos de transporte. Assim, investir na qualidade e na segurança dos acessos às estações de transporte coletivo de massa representa pouco no orçamento total de um projeto, mas tem impacto direto na qualidade da operação. Desse entendimento, nasceu o guia Acessos Seguros. A publicação é uma fonte técnica e confiável para administrações municipais e profissionais de planejamento urbano e mostra como o desenho urbano é parte importante da satisfação das pessoas com o transporte coletivo.

Infraestrutura cicloviária
 
Margarita Morales, Vitória.
Vitória é parte ilha e parte continental, mas poucos km de circulação entre bairros e é triste ver que ainda seja tão perigoso andar de bike.

A falta de infraestrutura adequada para o uso da bicicleta também foi apontada como um dos principais desafios de mobilidade para as cidades brasileiras. Embora o aumento das ciclovias tenha feito crescer também as vendas de modelos de bicicletas urbanas, utilizadas para os deslocamentos nas cidades, sabemos que muito ainda pode melhorar para quem gostaria de optar pela bicicleta como meio de transporte.

Investir em infraestrutura cicloviária gera economia, contribui para a criação de novos empregos e estimula o comércio local. Para isso, as bicicletas precisam ser prioridade de planejamento e ações, como estabelecido pela própria Política Nacional de Mobilidade Urbana. Uma maneira de fazer isso, é promovendo a integração modal. Dos ônibus e metrôs que permitem o transporte de bicicletas a estações integradas, a conexão eficiente dos diferentes modos – em uma rede integrada que permita a mudança de um para outro sem dificuldade – desponta como resposta para os desafios de mobilidade urbana.

Em Fortaleza, o investimento em infraestrutura para as bicicletas tem gerado resultados positivos. Diferentes modelos de programas de compartilhamento e a ampliação da malha cicloviária, entre outras medidas, contribuem para o sucesso da capital cearense, que trabalha cada vez mais para melhorar a segurança viária e a mobilidade.

Rodrigo Antonelli, Ribeirão Preto.
Falta de faixas de pedestres em avenidas movimentadas, calçadas ruins (ou até ausência de calçadas), pouca arborização para sombreamento.

Outro desafio citado pelos leitores foi a necessidade melhorar as condições de acessibilidade e infraestrutura para pedestres em geral – pontos diretamente relacionados aos mencionados acima. Calçadas, infraestrutura cicloviária e acesso seguro e adequado às estações e terminais de transporte coletivo são fatores fundamentais na cadeia da mobilidade sustentável. Para reverter a predominância do transporte individual motorizado nas ruas, as cidades precisam investir nas medidas necessárias que garantem não só a priorização, mas condições seguras e confortáveis para os modos de transporte sustentáveis.