Sonda chinesa faz primeiro pouso no lado distante da Lua
Esta é uma das primeiras imagens feitas pela sonda chinesa do chamado lado escuro da Lua - que não é sempre escuro. [Imagem: EPA/CNSA]
Lado oculto da Lua
A sonda chinesa Chang'e-4 pousou na Bacia do Polo Sul-Aitken, como é conhecida uma enorme cratera que fica no lado oculto da Lua, às 10h26 do horário de Pequim - pouco depois da meia-noite em Brasília.
É o primeiro pouso de uma nave no lado não visível do nosso satélite.
A sonda carrega instrumentos para analisar a geologia dessa região nunca explorada, além de um rover, que deverá estender o alcance das análises.
Como está fora do campo visual da Terra, as fotos e informações estão sendo enviadas por meio de um outro satélite chinês que orbita a Lua.
Além da importância histórica do pouso, o sucesso da missão é um marco no ambicioso programa espacial chinês - esta é a primeira vez que o país consegue um feito nunca realizado pelas potências espaciais tradicionais.
Lado escuro da Lua?
O termo lado escuro da Lua é inadequado e nada tem a ver com falta de luz - os dois lados da Lua experimentam o dia e a noite. A expressão se refere ao lado da Lua que não pode ser visto da Terra.
Por causa de um fenômeno chamado rotação sincronizada nós só conseguimos ver uma face da Lua. Isso quer dizer que o tempo de rotação da Lua é igual ao seu período orbital. Ou seja, o tempo em que a Lua gira em torno de seu próprio eixo é igual ao tempo que ela leva para girar ao redor da Terra. Essa sincronia entre rotação e translação faz com que só possamos observar um lado da Lua.
O outro lado tem uma crosta mais grossa, com mais crateras e com menos mares - planícies basálticas escuras formadas pelo impacto de meteoritos na superfície lunar.
O lado da Lua sempre virado para a Terra (esquerdo) e o lado que nunca vemos daqui (direita) são marcadamente diferentes. [Imagem: NASA]
Chang'e-4
A Chang'e-4 foi lançada do Centro de Lançamentos de Satélites de Xichang no dia 7 de dezembro. A sonda chegou à órbita lunar no dia 12 de dezembro.
Com o pouso, o foco serão a exploração de um lugar chamado Von Kármán, uma cratera localizada na Bacia do Polo Sul-Aitken. Acredita-se que a cratera, com mais de 2,5 mil km de diâmetro e 13 km de profundidade, tenha sido formada por um impacto gigante.
Outro objetivo será estudar o regolito desse outro lado da lua - rochas quebradas e poeira que ficam na superfície lunar - com vistas a entender a formação da Lua.
Ilustração artística da Chang'e-4 e do seu rover. [Imagem: CNSA]
Experimentos
A Chang'e-4 está carregando duas câmeras, um experimento sobre radiação chamado LND (Lunar Lander Neutrons and Dosimetry), construído pela Universidade de Kiel, na Alemanha, e um espetrômetro (Low Frequency Spectrometer) que vai fazer observações de erupções solares.
Cientistas acreditam que o lado escuro pode ser um lugar excelente para praticar astronomia porque está protegido de ruídos da Terra. O espectrômetro vai testar essa ideia.
A sonda carrega ainda uma biosfera, contêiner com 3 kg com sementes de batatas e Arabidopsis (planta da mesma família da mostarda e da couve) - além de ovos de bicho-da-seda para experimentos biológicos.
O experimento dessa mini biosfera lunar foi criado por 28 universidades chinesas. Se os ovos eclodirem, as larvas poderão produzir dióxido de carbono, enquanto as plantas germinadas liberarão oxigênio através da fotossíntese. Espera-se que, juntos, as plantas e os bichos-da-seda possam estabelecer uma sinergia simples dentro do recipiente.