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Algas podem transformar gases de efeito estufa em biomoléculas

Fonte Jornal da USP - 31 de janeiro de 2019 1383 Visualizações
 Algas podem transformar gases de efeito estufa em biomoléculas
Uma equipe multidisciplinar do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) está estudando microalgas com potencial para a produção de bioprodutos a partir de gás carbônico e metano provenientes do gás natural. Os cientistas coletaram amostras na região da Baixada Santista (Cubatão e Guarujá) e isolaram 24 microalgas diferentes. Destas, quatro produziram tanto lipídios como biopolímeros. Sob a orientação da professora Elen Aquino Perpétuo, bióloga e coordenadora dos projetos 17 e 18 da instituição, o grupo também está selecionando bactérias para a produção específica de PHB (um biopolímero de alto valor agregado) a partir de metanol.

“A pesquisa com as bactérias está um passo à frente, porque já sabemos quais são as mais promissoras na produção de PHB. No caso das microalgas, ainda estamos identificando aquelas com maior potencial produtivo para dar o próximo passo, que é a otimização dessa produção”, resume Bruno Karolski, biólogo e aluno do Pós-doutorado em Engenharia Química na Escola Politécnica (Poli) da USP.

Segundo ele, a ideia inicial era usar o gás natural diretamente na cultura de microalgas para que o gás carbônico presente no gás natural fosse captado por elas, mas o grupo agora estuda se vale mais a pena separar o gás natural em CO2 e CH4 e ministrar às microalgas apenas o CO2.

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Da esquerda para a direita: prof. Elen Aquino Perpetuo, pós-doutorando Bruno Karolski; prof. Cláudio Augusto Oller do Nascimento; doutoranda Letícia Oliveira Bispo Cardoso; pós-doutoranda Louise Hase Gracioso
 
“Das 24 microalgas que isolamos, quatro apresentaram rápido crescimento, alta concentração celular, produção de lipídios e também indícios de produção de PHB. Dessas quatro, identificamos três: duas cepas de Chlamydomonas sp., com características produtivas diferentes, mais a Didymogenes sp. Nossos dados preliminares indicam que para duas delas é possível obter esses bioprodutos concomitantemente, mas ainda não sabemos quais são as condições em que elas produzem mais lipídios ou mais PHB. O que sabemos é que, ao colocar as quatro microalgas selecionadas nas mesmas condições, duas se destacam porque uma produz mais PHB e a outra mais lipídios”, afirma Karolski. Ele lembra também que os lipídios produzidos pelas microalgas, ácidos graxos de cadeia longa e com alto potencial energético, são úteis, por exemplo, para a fabricação de biodiesel.

Segundo Letícia Oliveira Bispo Cardoso, química e doutoranda no Programa de Pós-graduação Interunidades em Biotecnologia da USP, há relatos de produção eficaz de PHB por microalgas, porém apenas quando modificadas geneticamente. “Em nosso caso, estamos explorando a diversidade de microalgas de um ambiente da Baixada Santista, visando encontrar as capazes de produzir PHB e também grandes concentrações de lipídios”, esclarece ela.

Bactérias e plástico
 
Os cientistas conseguiram extrair PHB produzido a partir de metanol de cinco das 180 cepas de bactérias com que trabalharam: Methylobacterium extorquens, Methylobacterium rhodesianum, Methylopila oligotropha, Methylobacterium radiotolerans e Methylobacterium populi.

“A Methylobacterium extorquens foi a que deu melhores resultados até agora: utilizando-se metanol como substrato, as bactérias chegaram a produzir 40% de PHB em 72 horas. A porcentagem de PHB é equivalente à relatada na literatura e agora estamos explorando maiores concentrações de oxigênio, testando agitação e diferentes concentrações de metanol para ver se conseguimos otimizar essa produção”, diz Letícia.
 
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Bactérias Chlamydomonas sp (à esquerda) e Methylobacterium extorquens (à direita) – Foto: Wikimedia Commons

Os pesquisadores também relatam resultados bastante positivos com a Methylopila oligotropha. “Há poucos relatos na literatura de produção de PHB com essa bactéria e, no entanto, conseguimos uma produção de 25% de PHB. Isso é bastante promissor”, ressalta Karolski.

Letícia salienta que não se produz muito PHB no mundo a partir de metanol, pois a fonte de carbono mais comum do PHB é o açúcar. De acordo com ela, a oportunidade que a pesquisa possibilita, neste caso, é baratear a fonte de carbono para produção de PHB. “O açúcar é uma matéria-prima cara para se fazer plástico e acaba afetando o valor final do biopolímero. Esse é um dos fatores economicamente relevantes que pode ajudar a ampliar a participação do PHB no mercado de plásticos, entre outros”, revela a pesquisadora.

Karolski lembra que o RCGI tem projetos que visam à produção de metanol a partir de metano e dióxido de carbono. “Ou seja: estamos tentando usar gases de efeito estufa (GEEs) para formar metanol e, a partir dele, produzir um plástico biodegradável. Assim, estaremos mitigando GEEs e, ao mesmo tempo, obtendo bioprodutos de alto valor agregado.”

O grupo conta ainda com a bióloga e aluna de pós-doutorado em Engenharia Química na Poli, Louise Hase Gracioso, e com Bruna Bacaro Borrego, que está se graduando em Engenharia Ambiental na Unifesp. O professor Cláudio Augusto Oller do Nascimento também integra as equipes dos 17 e 18 do RCGI.