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Caminho para despoluir é por trilhos

Texto de FERNANDA BALBINO, Porto e Mar, foto de Bruno Miani - 30 de outubro de 2013 1196 Visualizações
Caminho para despoluir é por trilhos
 
Exibir em notas fiscais os valores gastos com o transporte das mercadorias. Esta é a proposta feita pelo escritor José Manoel Ferreira Gonçalves, autor do livro Despoluindo Sobre Trilhos, que será lançado na próxima segunda- feira, às 19 horas, na Estação da Cidadania, em Santos. A ideia tem como objetivo mostrar aos consumidores quanto é gasto em fretes no Brasil, país que prioriza o modal rodoviário, sabidamente, ineficiente e mais poluente.
Gonçalves é engenheiro civil, jornalista e advogado. Seu livro reportagem faz parte de uma tese de mestrado, por isso aponta soluções e propõe o projeto de lei de iniciativa popular para que os consumidores saibam exatamente como o transporte de cargas é ineficiente no País.
A ideia é que um grupo composto por empresários de vários setores e universidades elaborem cálculos para se chegar ao valor unitário do frete. O projeto seria aplicado primeiro, em fase de teste, na cidade de Curitiba (PR).
Após morar por um tempo em Santos, na década de 80, Gonçalves viu que não conseguiria apagar as lembranças do transporte ferroviário quando partiu para a Capital. “Existe uma razão logística e afetiva com os trens para que eu tenha começado a escrever a tese e este livro”, declarou.
Os aspectos ambiental e logístico, além das reações populares que motivaram manifestações em junho último são os três pilares da obra que trata o modal ferroviário como a saída mais eficaz para o transporte de mercadorias com origem ou destino no Porto de Santos.
Grande parte do pequeno investimento em ferrovias no País se deve à priorização do modal rodoviário que, por anos, foi incentivado pelo governo. Agora, as obras que estão em andamento apenas cobrem o atraso de anos sem intervenções no setor ferroviário.
As vantagens da utilização dos trilhos já são conhecidas. No entanto, a impressão que se tem é que pouco é feito para a mudança na matriz de transporte no País. “Não houve planejamento.”
Vemos isso aqui, em cidades como Santos e Guarujá, e parece que nada é feito para reverter essa situação. “Estamos andando para trás”, afirma o escritor.
No Porto de Santos, a concorrência com o modal rodoviário ainda não é a que os especialistas esperam, já que uma parcela de 69% dos produtos exportados utilizam os caminhões para a chegada ao cais santista. O ideal é dividir o transporte de cargas utilizando uma média de 30% para as ferrovias e 35% para as rodovias.
Para se ter uma ideia da eficiência do modal ferroviário, um vagão é capaz de transportar de 80 a 100 toneladas de grãos. Isso significa que cada um pode substituir até quatro caminhões. Uma composição leva de 6,5 mil toneladas a 8 mil toneladas de mercadorias de uma só vez, retirando das estradas 320 veículos de carga.
FALTA ATITUDE E AUTORIDADE “Acho que é preciso um choque de vergonha. A região (Baixada Santista) precisa falar grosso e unir a sociedade civil e as autoridades para exigir uma solução.
“Ela só irá surgir quando forem exigidas por esses atores”, destacou o engenheiro.
Para ele, a implantação de centros de concentração e distribuição de cargas é a saída para a tão sonhada intermodalidade.
A ideia é fazer com que as cargas percorram pequenas distâncias de caminhão, sempre das zonas produtoras até os terminais ferroviários.
Já os longos percursos devem ser todos feitos de trem.
“Fico me perguntando onde estão os conselhos de desenvolvimento que temos aqui na Baixada Santista. A impressão que se tem é de que eles estão dormindo enquanto veem os prejuízos se acumularem”, afirmou o escritor.
Ele acredita que a pressão de associações, prefeitos e deputados por resultados concretos pode fazer com que os congestionamentos verificados na região não se repitam nas próximas safras. No início deste ano, o grande volume de grãos em direção ao Porto de Santos causou o colapso no sistema viário e prejuízos no setor, já que cargas foram desviadas para o porto de Paranaguá (PR) pela dificuldade de acesso ao Porto de Santos.
De acordo com Gonçalves, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as empresas paulistas perdem R$ 50 bilhões por ano com despesas relacionadas ao transporte de mercadorias.