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Projeto de trem que se locomove por levitação deixou de ser sonho no Brasil

Texto de Silas Scalioni - 05 de fevereiro de 2014 1371 Visualizações
Projeto de trem que se locomove por levitação deixou de ser sonho no Brasil
 
Trens flutuantes que podem viajar a 400 km/h ligando grandes cidades ou se locomovendo a velocidades menores funcionando como transporte coletivo urbano e a um custo de implantação significativamente menor do que o investimento necessário para uma linha convencional de metrô. Isso pode até parecer ficção ou projetos na pauta só de países de Primeiro Mundo. Entretanto, em breve pode ser uma realidade aqui mesmo no Brasil, que vem desenvolvendo um programa capaz de revolucionar o sistema de transportes no país.
A novidade responde pelo nome de Maglev Cobra, o primeiro trem brasileiro de levitação magnética, que finalmente começa a sair do papel. Desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) e pela Escola Politécnica por meio do Laboratório de Aplicações de Supercondutores (Lasup), o projeto já apresenta a construção de uma estação que liga dois centros de tecnologia do câmpus da UFRJ, que servirá como teste final para o funcionamento do veículo. A implantação se dá graças a um convênio entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O protótipo do Maglev Cobra terá capacidade de transportar até 30 passageiros em quatro módulos.
De acordo com os responsáveis pelo programa brasileiro, o trem não emite ruído nem gases poluentes. Também não haveria risco de o campo magnético do trilho afetar a saúde dos passageiros. A emissão magnética do veículo medida em laboratório é bem menor do que a emitida por um fone de ouvido ou celular . “O Maglev Cobra põe o Brasil em um nível de destaque no mundo das tecnologias de levitação”, afirma o coordenador do Laboratório de Aplicações de Supercondutores da UFRJ e coordenador do projeto, Richard Stephan. Segundo ele, além de ser sustentável, o trabalho infraestrutural do Megalev chega a ser 70% mais barato do que as obras de um metrô subterrâneo. Como comparação, basta dizer que a construção de uma linha de metrô no Rio de Janeiro tem custo avaliado em cerca de R$ 100 milhões por quilômetro. Já no caso de um trem por levitação magnética, o preço da obra por quilômetro seria somente R$ 33 milhões. 
Por ser uma novidade ainda com poucos exemplos de uso, há muitas dúvidas sobre o projeto, respondidas na página oficial do Megalev. Uma delas é de o trem descarrilar se houver interrupção de energia. Na verdade, o trem tem autonomia para um dia inteiro de operação. Enquanto os criostatos estiverem com nitrogênio líquido, ele não se descola da linha magnética. E, claro, o sistema de segurança passará por homologação antes de entrar em operação.
Solução?
Só na década de 80 foi possível obter supercondutores de alta temperatura crítica. Embora a ciência soubesse das propriedades de levitação dos supercondutores desde o século 19, foi necessário o desenvolvimento tecnológico em diversas áreas para que se tornasse possível a construção desse veículo. O Laboratório de Aplicação de Supercondutores da UFRJ (Lasup) dedica-se a aperfeiçoar e estudar a aplicação da tecnologia dos supercondutores. Foi por meio dos estudos do Lasup que a tecnologia maglev mostrou-se uma solução urbana factível. 
Possivelmente, novos sistemas urbanos para transporte usando a levitação irão surgir na próxima década. Muitas pessoas que creditam o aquecimento global à poluição veicular acreditam que o Maglev é a solução para todos os problemas. Mas os responsáveis pelo projeto ressaltam que não é. Eles acreditam, sim, que o Maglev Cobra será um passo significativo para a redução das emissões de gases poluentes para a atmosfera. 
Para saber detalhes sobre o projeto, visite o site www.maglevcobra.com.br/
Como funciona
No caso brasileiro a versão escolhida é a levitação magnética supercondutora, bem simples: uma placa de cerâmica supercondutora, ao ser resfriada com nitrogênio líquido, produz o efeito de levitação sobre um imã de neodímio – feito a partir de uma composição dos elementos químicos neodímio (Nd), ferro (Fe) e boro (B). Trata-se da mais moderna tecnologia nesse segmento, o que justifica ainda não haver uma linha de teste em escala real. No projeto brasileiro foram realizados testes de bancadas com os componentes isolados e a finalização deles é justamente montar o veículo e testar todos os componentes interligados, formando assim o sistema Maglev Cobra. Inicialmente, o programa implantará uma linha curta de testes, mas depois contará com outra, bem mais completa, dentro da UFRJ, capaz de transportar 20 mil alunos por dia, o que dará a aprovação final ao sistema deixando-o, então, pronto para uso comercial.
De onde vem?
Grande parte do ar que nós respiramos é nitrogênio. O nitrogênio líquido é obtido em indústrias de gases como um subproduto decorrente da fabricação do oxigênio líquido, necessário para indústrias e hospitais. O nitrogênio fica líquido a uma temperatura de -196 graus centígrados. Ao aquecer, ele torna-se gás novamente e volta para a atmosfera. Sem poluição alguma.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
/ 
 . Richard Stephan
. coordenador do projeto MagLev Cobra
No que se baseia e quais são os objetivos do projeto?
A primeira intenção é ligar pontos estratégicos, como aeroportos, para em seguida fixar paradas no meio do percurso até fazer conexão com as principais linhas de metrô nas grandes cidades. A tecnologia propõe um veículo com várias unidades curtas, assemelhando-se a uma cobra, permitindo curvas e rampas mais acentuadas, e velocidade de até 70 km/h. Esses materiais foram disponibilizados no final do século 19 e até hoje não há sistema do tipo em uso comercial. Um motor linear dá a tração. Como a propulsão só precisa de energia elétrica, o Maglev Cobra tem um efeito poluente baixo. Com mínimo nível de emissão de ruído, o veículo pode ser executado em cidades, em estruturas elevadas. 
Quais tipos de tecnologias são usadas e quanto tempo para viabilizá-lo?
O veículo proposto tem uma aparência futurista, incorporando alta tecnologia, design moderno e os requisitos ambientais e sociais. Acreditamos que a partir de 2015 a tecnologia estará madura para o início da comercialização. A intenção é substituir as rodas por sistemas de levitação. A tecnologia pode ser aplicada de diferentes maneiras (levitação eletrodinâmica, eletromagnética e supercondutora) e é baseada nas propriedades de supercondutores de alta temperatura (HTSS) e o campo magnético de Nd-Fe-B imans. A tecnologia de ponta utilizada no Maglev carioca é à base de nitrogênio super-resfriado em cápsulas e a sua proximidade com os trilhos magnetizados por meio de poderosos ímãs provoca o efeito de levitação. O primeiro desses módulos já foi testado nos laboratórios da UFRJ e suportou muito bem o peso de seis adultos.
Já existe algo semelhante no mundo?
A tecnologia Maglev vem sendo pesquisada há mais de 40 anos na Alemanha e no Japão. No entanto, em uso comercial, há atualmente apenas duas linhas: uma em Shanghai e outra conhecida como HSST (www.hsst.jp), inaugurada para a Expo 2005, no Japão, num trecho de aproximadamente nove quilômetros objetivando o transporte de baixa velocidade.