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Logística sustentável

Paulo Guedes - Revista Mundo Logística - 13 de março de 2014 937 Visualizações
 Logística sustentável
Apesar de sua dimensão continental, o Brasil conta com uma matriz de transportes majoritariamente rodoviária, segundo pesquisas do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS).
E quando a análise é feita segundo os custos do transporte, a participação do modal rodoviário é ainda maior, alcançando cerca de 88% do total dos gastos realizados com transporte de cargas. 
Em 2012, segundo pesquisas realizadas pelo ILOS, mais de R$ 275 bilhões foram gastos no transporte rodoviário de cargas.
Apenas para que se tenha uma ideia do que significam esses valores, do total dos gastos logísticos realizados no ano passado (R$ 507 bilhões ou I 1,5% do PIB brasileiro), 61,5% são com transporte de cargas e, destes, 88,2% com transporte rodoviário de cargas! Ou seja, o transporte rodoviário de cargas representa gastos equivalentes a 6,26% do PIB. Dados do ILCS.
Por outro lado, segundo relatório do Ministério do Meio Ambiente, divulgado em 2011, o consumo de energia do setor de transporte, em 2009, foi equivalente a 56%, se comparado com a indústria, o setor não energético e outros setores. Mas a tendência é que esse percentual aumente ainda mais. Projeções do próprio Ministério indicam que esse consumo alcançará 62% do total.
Em outra pesquisa, agora sobre emissões de CO² por categoria de veículos, o Ministério mostra que os caminhões e os comerciais leves (equipamentos para transporte de carga) foram responsáveis, em 2009, por 39% das emissões no Brasil. Impressionante é notar que, ao invés de diminuir; as projeções para 2020 são de que essa participação aumentará para 41 % do total.
O modal rodoviário, como sabemos, apresenta menor capacidade de carga e maior consumo energético por quilometro em relação ao ferroviário, hidroviário ou marítimo. Entretanto, como estes ainda não contam com estruturas abrangentes ou serviços regulares, é imprescindível desenvolver soluções que reduzam os impactos ambientais do transporte rodoviário.
Há que se considerar; também, que o tema sustentabilidade é algo recente e que ainda não está enraizado na cultura dos responsáveis brasileiros pelas atividades logísticas, principalmente pelos operadores e usuários do transporte rodoviário. Especificamente, no transporte rodoviário de cargas, o nível de competição, às vezes até predatório, não tem permitido a inclusão de técnicas mais modernas de controle e diminuição dos níveis de poluição em suas atividades.
Porém, é fundamental que as empresas de logística, notadamente aquelas que operam com o transporte rodoviário de cargas - e com motores a diesel - desenvolvam projetos que minimizem os impactos negativos ao meio ambiente, decorrentes de suas operações.
É verdade, também, que são crescentes as pressões do governo, dos clientes e da sociedade, para que as empresas busquem soluções mais concretas para melhoria do meio ambiente e alcancem índices cada vez menores de poluição. Os prestadores de serviços logísticos, um dos principais atores na integração da cadeia de suprimentos, precisam estar alinhados a essa busca.
Diante desse cenário, alguns desafios precisam ser colocados. Podemos citar os seguintes:
1. Adequar-se às políticas ambientais existentes, adiantar-se a elas sempre que possível e atender as exigências dos clientes nesse mister;
2. Aumentar os níveis de eficiência dos processos operacionais e a produtividade dos equipamentos operados direta ou indiretamente;
3. Desenvolver novas práticas e procedimentos operacionais que tenham como principal objetivo a diminuição dos níveis de poluição em quaisquer atividades da empresa;
4. Estimular todos os seus fornecedores, notadamente os prestadores de serviços de transporte, a: (I) observarem corretamente a política ambiental estabelecida; (II) adotarem as melhores práticas operacionais que, entre outras exigências, devem contemplar aumento de produtividade, maior eficiência energética e respeito às normas e procedimentos instituídos.
Evidente que, para realizar as tarefas que possam superar esses desafios, o gerenciamento deve estar vinculado diretamente à alta direção das empresas, pois como se trata de programa fundamental e, por que não, prioritário, é preciso que todos entendam esse sinal.
Obvio, também, que certificações ISO, notadamente a 14.001, e a realização de inventários de emissões de gases de efeito estufa (só se melhora o que se mede), são instrumentos importantes e que proporcionam o desenvolvimento de um plano de ação consistente e abrangente.
Neste Plano de Ação, alguns projetos, específicos, são fundamentais: I) softwares de roteirização, visando criar viagens com distâncias menores e que consumam menos combustível ou que aproveitem melhor a capacidade dos equipamentos de transporte; 2) equipamentos que transportem maiores volumes; 3) redução da idade média da frota dos equipamentos de transporte e utilização de equipamentos que consumam e poluam menos; 4) vistorias veiculares periódicas para impedir a circulação de veículos fora dos padrões aceitáveis de emissão de CO²; 5) reuniões de sensibilização, estímulo e incentivo para que os motoristas da frota própria, as transportadoras terceirizadas e os motoristas agregados participem ativamente do programa de sustentabilidade; 6) reconhecimento dos melhores fornecedores da empresa, tendo a sustentabilidade como item fundamental de medição; 7) programas de treinamento e sensibilização junto aos gestores das transportadoras subcontratadas; 8) monitoramento e controle de execução dos planos e projetos implementados.
Com planos de ação semelhantes - por que não mais inovadores - temos certeza que é possível transportar mais poluindo menos e contribuir para a realização da Sustentabilidade, conforme cita o Relatório Brundtland (documento elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), publicado em 1987: Sustentabilidade é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades.
(Paulo Guedes - Atualmente é o diretor-presidente da Veloce. Foi consultor na área de logística e planejamento estratégico (2007 - 2009), diretor-superintendente da Armazéns Gerais Co/umb/o (2002 - 2007), diretor de Atendimento o Clientes e Operação da Tegma Logística SA. (2001), diretor de Transporte Internacional da Ryder (1998 -2001), diretor financeiro e vice-presidente do Cio. Comercio/ e Transportadora Translor. E formado em Economia, pós-graduado e mestre em Administração de Empresos pela EAESP-FCV.)