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TECNOLOGIA

Controle da tecnologia do concreto é a chave para produção no país

Redação EC - 15 de setembro de 2020 1418 Visualizações
Controle da tecnologia do concreto é a chave para produção no país

“Quarenta anos depois de começarmos a utilizar o concreto auto-adensável (CAA), ainda estamos lutando para aprender a controlá-lo. Quando dominarmos isso, outras tecnologias entrarão no mercado, tais como o concreto de pós-reativos e de ultrarresistência”. Essa é a afirmação da engenheira Patrícia Ribeiro Brandão, gerente técnica regional da concreteira Supermix.

Patrícia foi uma das palestrantes do I Seminário Online em Pré-Fabricados de Concreto, promovido pelo Instituto IDD, instituição de ensino e pesquisa nas áreas de Engenheira Civil, Arquitetura e Urbanismo, com o apoio daAssociação Brasileira de Construção Industrializada em Concreto(ABCIC) e a Diretoria Regional doInstituto Brasileiro do Concreto(IBRACON) do Paraná.

Durante o Seminário, que ocorreu na quarta-feira (09/10), a especialista falou sobre a importância de se ter o controle de qualidade do concreto autoadensável na criação de estruturas pré-fabricadas e também sobre o controle de um processo padrão, que deve ser adotado pelas indústrias do setor.

A união dessas características, segundo a especialista, resulta no que é chamado de “controle tecnológico do concreto” que, quando bem explorado pela indústria concreteira do Brasil, poderá permitir que novas tecnologias construtivas se desenvolvam no país.

Para chegar no ideal do que seria o controle tecnológico, Patrícia defende duas vertentes principais: a primeira é o desenvolvimento de um concreto de qualidade, desde a criação do seu traço; e a segunda o controle rígido e padronizado no processo de fabricação deste concreto. Ao seguir as etapas previstas nessas duas vertentes, o resultado é um produto com alta qualidade e que permite um bom acabamento – neste caso, Patrícia foca no CAA, cuja aplicação em pré-fabricados é indicada.


Desenvolvimento do Concreto

Na primeira vertente, a do controle de desenvolvimento do concreto, o engenheiro responsável pelo projeto precisa pensar no objetivo do seu produto e na região em que ele está sendo desenvolvido. “Há concretos em que 80% de sua composição é areia e brita. E temos que lembrar que há locais do país em que predomina a areia natural, por exemplo, enquanto em outras regiões, a areia artificial é a predominante. O mesmo vale para aditivos minerais que eu possa incluir na minha fórmula”, explicou Patrícia.

E este é só um exemplo. Entre as possíveis variações que precisam ser levadas em consideração no projeto, a engenheira destaca a resistência do cimento utilizado, a quantidade de água, os tipos de agregados, o tempo de mistura, a cura do concreto, os procedimentos de ensaios (testes) e até mesmo os equipamentos utilizados. Cada detalhe conta na hora de criar um produto adequado.

No que tange ao controle tecnológico no processo de fabricação, cinco etapas demandam a atenção dos envolvidos na produção:

  1. Recebimento dos materiais: saber escolher os materiais que irão compor o concreto é crucial. “Se a maior parte do produto é composta por agregados, como areia e brita, precisamos nos atentar a granulação desses materiais e o formato de suas partículas”, diz a engenheira.
  1. Mistura: existem vários tipos de misturadores na indústria. Há os de eixo vertical, mais indicados para a produção de concretos mais secos (como o CAA) e os de eixo horizontal, indicados para a produção de concretos convencionais, plástico e autonivelantes. De acordo com Patrícia, independentemente do tipo de misturador, deve-se ter bem definido o tempo de mistura do concreto para que ele não segregue e não incorpore ar, o que o faria perder resistência.
  1. Transporte do concreto dentro da indústria: o engenheiro precisa controlar em como transporte o concreto ali mesmo na fábrica. No transporte, a distância, a velocidade e trepidação no trajeto interferem na qualidade do produto.
  1. Produção/cura/deforma do concreto: neste item, cabe ao engenheiro considerar a altura de queda do concreto (quanto menor a altura de queda, menor a segregação do material); na sequência de sua aplicação (aplicá-lo no centro de uma superfície e deixar que ele se espalhe ou aplicar em vários pontos em menores quantidades, por exemplo); no desmoldante a ser utilizado (que pode ser a base de óleo mineral ou biodegradável e isso interfere no acabamento final) e, por fim, no processo de cura do concreto, que pode ser feito de forma natural ou no processo de secagem a vapor.
  1. Treinamento e capacitação: nessa etapa, as palavras de Patrícia são claras. “É importante capacitar quem está na base, quem está no pátio recebendo os materiais precisa ter parâmetros bem definidos de qualidade para que ele saiba dar a importância a isso. O material que ele recebe ali no início vai interferir na qualidade do produto final. Isso é um exemplo, o treinamento tem que ocorrer em todas as etapas do processo”, diz.

Unindo essas etapas de maneira padronizada e bem pensada, a indústria do concreto poderá se desenvolver e aumentar sua representatividade perante a sociedade. De acordo com Iria Doniak, presidente da ABCIC, a industrialização deste produto deve potencializar a retomada de crescimento do Brasil após a pandemia de Covid-19, que tanto influenciou o país economicamente. “A construção de grandes obras de infraestrutura, como BRTs, obras de eventos como os da Copa do Mundo e das Olímpiadas, se deram porque nosso setor se mostrou com capacidade de atender esses momentos”, diz. “Quando retomarmos, estaremos aqui novamente e a pré-fabricação será protagonista no desenvolvimento pela qualidade e rapidez que proporciona”, complementa.

Saindo da “caixinha” com a pré-fabricação

Para comprovar a versatilidade do concreto pré-fabricado, os engenheiros Alex Alves, superintendente de operações da Protendit Construção de Estacas e Pré-Fabricados, e Marcelo Cuadrado, diretor de engenharia da Leonardi Construção Industrializada, enaltecem exemplos de aplicações desse tipo de produto.

“Com o pré-fabricado, você consegue resolver desafios de engenharia que geralmente são encontrados nos canteiros de obra, só que dentro de um ambiente controlado”, conta Alves. “Você faz os cálculos, pensa na logística de transporte, operação, mão de obra...”, complementa.

Para ele, é preciso desmistificar a ideia de que o uso do pré-fabricado é limitado, uma vez que além de poder ser adotado em diversos tipos de projetos, ele também torna a obra mais limpa e segura. Como exemplos de aplicação do pré-fabricado, Alves destaca barreiras, contenções, marquises (geralmente trabalhadas em metal), grandes vigas para suportas vários pavimentos de prédios, entre outros. “Tudo demanda um desafio de engenharia, um cálculo mais avançado, mas é possível criar tudo isso no ambiente fabril”, conta ele.

Nesse sentido, Cuadrado finaliza explicando que o projeto de engenharia para o uso de pré-fabricados precisa considerar as interações da estrutura com outras partes da obra, minimizar o número de ligações e de tipos de elementos, além de utilizar os elementos da mesma faixa de peso.