Quando falamos sobre sustentabilidade, o primeiro pensamento que surge em nossa mente se refere à reciclagem e à redução do consumo. Porém, há uma área da engenharia que está intimamente ligada ao tema e muitas vezes não é considerada: a geotecnia.
Responsável por realizar estudos de solos e das rochas, o especialista é capaz de preservar lençóis freáticos, problemas com lixo e contenção de ocupação de encostas.
Por meio de estudos de geotecnia, é possível mensurar o impacto do comportamento humano no terreno, as alterações causadas por ações humanas e a melhor forma de mitigá-las.
Segundo o Manual de Geotecnia do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), quando se identifica problemas referentes ao período de chuvas anual com antecedência é possível não só contribuir para a segurança da população, mas também adotar soluções rápidas e econômicas.
Em 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU) considerou o Brasil como o sexto país que mais sofre com catástrofes climáticas. O cenário não é muito diferente agora, pois há uma falta de investimento crônica em infraestrutura. No caso da aplicação em projetos e obras de geotecnia, além de garantir uma maior segurança para os moradores de uma determinada região, o repasse de recursos geraria bons resultados no descarte correto de resíduos e na preservação de grandes pontos de água.
Sem dúvida, a conservação dos córregos e rios traz efeitos imediatos. A recuperação evita que grandes tragédias para o meio ambiente ocorram, como vazamentos de produtos químicos diretamente no solo e que a degradação gere deslizamentos. Como exemplo, cito um trabalho que desenvolvi em 2017 em Atibaia, no interior de São Paulo.
Na ocasião, por uma má condução das águas pluviais, havia um grave problema erosivo que impactava diretamente na vida daquela população. A ação geotécnica, por meio de intervenções da engenharia, serviu para impedir que o solo fosse danificado ao ponto de se tornar irrecuperável.
No âmbito do meio ambiente, a geotecnia também permite resolver alguns problemas de sustentabilidade, como estabilização e a recuperação de encostas. A partir do estudo do local, há um mapeamento para a requalificação da qualidade de vida habitacional, proporcionando redução de riscos para moradores e, desta forma, autorizando a construção de moradias no local, sem riscos.
Infelizmente, ainda não há, no Brasil, o investimento necessário para resolver os problemas relacionados à infraestrutura de terrenos. O comum é uma atuação já tardia, ou seja, o início de obras em períodos chuvosos, durante os quais não há a possibilidade de execução de um ciclo completo. Ou então, o poder público somente direciona a devida atenção ao tema quando ocorre uma tragédia.
*Luciano Machado é engenheiro civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especialista em administração com MBA pela FGV e sócio da MMF Projetos. Hoje é um dos únicos líderes negros a frente de uma empresa de engenharia de infraestrutura.