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“Antes de produzirmos aeronaves, precisamos produzir engenheiros”. A frase, atribuída ao Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho, que liderou a criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1950, é lembrada até hoje como um mantra pelos corredores da Embraer, que, além de fabricar aviões, também investe pesado na formação e especialização de engenheiros.
Foi sob este ideal que a fabricante brasileira criou o Programa de Especialização em Engenharia (PEE), um dos mais longevos modelos corporativos de desenvolvimento intelectual e tecnológico do Brasil. Com 20 anos recém-completados, o PEE tem uma função vital na oxigenação dos quadros de engenharia da fabricante brasileira, que requer profissionais de alto nível e “apaixonados pela aviação”, como disse Carlos Alberto Griner, vice-presidente de Pessoas e Sustentabilidade da Embraer, em entrevista aoCNN Business.
“É um programa extremamente estratégico. Uma empresa como a Embraer não consegue ser competitiva se ela não tiver uma oferta de talentos qualificados, e o PEE é a espinha dorsal dessa fonte. O PEE atende nossa demanda por engenheiros, que é muito grande, e ainda cria um ecossistema de desenvolvimento de educação”, diz Griner, que trabalha na Embraer há quatro anos. “Infelizmente, eu não passei pelo PEE.”
O PEE é direcionado a profissionais recém-formados em diversas áreas da engenharia para atuação no setor aeronáutico. O programa une um Mestrado Profissional do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica)com um curso de preparação dos engenheiros para atuação em equipes de trabalho multidisciplinares na Embraer. A grade inclui aulas ministradas por professores do ITA, profissionais da empresa e consultores. “É a principal porta de entrada para engenheiros recém-formados na Embraer”, afirmou o executivo.
“Procuramos engenheiros que tenham atitude, de perfil mais colaborativo, com muita energia e paixão pela tecnologia. Esses são, inclusive, os pilares da própria Embraer. Procuramos nos candidatos valores que são alinhados aos da empresa, com espírito de equipe, foco no resultado, abertura e transparência. Também estamos atentos ao tema da diversidade. Trazemos engenheiros do Brasil inteiro, independentemente do gênero, raça ou condição social. Nos últimos 20 anos, passaram pelo PEE engenheiros formados em mais de 100 universidades de 20 estados do Brasil”, contou Griner. “A efetivação desses alunos na Embraer é enorme: de 96%.”
Fábrica de engenheiros
A primeira aula do PEE aconteceu no dia 19 de março de 2001, na Unidade da Embraer em Eugênio de Melo, em São José dos Campos (SP), em instalações construídas especialmente para esse propósito educacional. Desde então, mais de 1.600 engenheiros de diversas áreas passaram pelo programa. A fabricante conta atualmente com 742 funcionários que ingressaram na companhia pelo programa, sendo 59 deles formados na primeira turma.
O curso segue em evolução constante, de acordo com os avanços da indústria aeronáutica. Recentemente, a grade de ensino passou a abranger temas como Indústria 4.0, Ciência dos Dados e Prototipação de Projetos em Impressora 3D.
“Além da parte teórica, que é muito rica e forma algumas habilidades necessárias para a engenharia aeronáutica, os alunos também aprendem muita coisa na prática. O programa tem um foco muito grande na identificação e no entendimento do avião. Eles aprendem até a pilotar planadores”, contou o VP de Pessoas e Sustentabilidade da Embraer.
O PEE também atua no desenvolvimento das competências pessoais, relacionadas a condutas e inteligência emocional que promovem o trabalho em equipe, flexibilidade, comunicação, liderança, empatia e outras habilidades comportamentais importantes para o ambiente de trabalho na Embraer.
O programa tem 2.324 horas de treinamento (aulas) e mais 695 horas de trabalho prático (projeto de aeronave), sendo realizado em 18 meses. Nesse período, os alunos recebem da Embraer bolsas de mestrado, cartão alimentação, convênio médico, seguro de vida e um notebook. O investimento anual da companhia no PEE é de R$ 5 milhões.
Como participar do PEE?
São elegíveis ao PEE engenheiros com inglês avançado, graduados nas modalidades de engenharia aeronáutica ou aeroespacial, ambiental, automobilística, civil, computação, controle e automação, elétrica, eletrônica, energia, física, materiais, mecânica, mecatrônica, metalúrgica, naval, produção, química e sistemas.
O processo de seleção do programa parece uma mistura de vestibular com entrevista de emprego. Os inscritos são submetidos a testes de inglês, provas de conhecimento e entrevistas dinâmicas de grupo e individuais.
A média de candidatos por edição do PEE é de 5.000 pessoas por ano. Em 2020, houve um registro recorde de 8.227 inscrições. O número de vagas é variável e acompanha a necessidade estratégica da companhia. As últimas turmas tiveram média de 17% de mulheres, de acordo com a Embraer.
“Todo o processo seletivo é realizado sem a visualização de gênero, nome ou universidade de formação, para evitar vieses. Acontece um pouco às cegas. Com isso tentamos oferecer o máximo de diversidade nesse processo”, explica Griner.
As universidades com mais alunos no PEE ao longo dos últimos 20 anos são: USP-Poli (8%), UFMG (8%), Unicamp (7%), UFSC (6%) e UFRJ (4%). A maioria dos participantes do programa vem dos Estados de São Paulo (43%), Minas Gerais (17%), Rio de Janeiro (10%), Santa Catarina (6%) e Paraná (6%).
“A Embraer é a Disney dos engenheiros. É um espaço de aprendizados, desafios e de crescimento muito grande. Engenheiro gosta disso. É possível ter empresas brasileiras competindo num ambiente de altíssima tecnologia, como é o caso da aviação, desde que se planeje e invista em educação e na formação de bons profissionais, como fazemos de forma constante há 20 anos. Não é à toa que entregamos 20 projetos em 20 anos. É um ganha-ganha para a própria sociedade, pois elevamos o padrão de nossos engenheiros. É um ciclo muito construtivo”, finaliza Griner.