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A arquitetura do amanhã será feita com madeira

- 18 de outubro de 2021 757 Visualizações
A arquitetura do amanhã será feita com madeira

Evento realizado pelo Imaflora debateu o uso de madeira legal na arquitetura | Foto: Pixabay

Frases como ‘floresta sem uso é floresta no chão’ e ‘é preciso conservar e, ao mesmo tempo, usar os recursos florestais da melhor forma possível’ foram mencionadas por convidados do encontro “Arquitetura do Amanhã 2: Construindo Negócios Sustentáveis”, que aconteceu no último dia 07/10, no canal do YouTube do Instituto de Manejo e Certificação Florestal (Imaflora), organizador do evento.

Logo na abertura, Leonardo Sobral, gerente florestal do Imaflora, e Monica Aprilanti, arquiteta da associação civil Núcleo da Madeira, ressaltaram o potencial do material em diferentes aspectos. Entre eles, destacaram a qualidade de armazenar carbono em aplicações de uso prolongado na construção civil e o crescimento de novas tecnologias com madeira engenheirada, como madeira laminada colada (MLC) e madeira laminada cruzada (CLT).“Para ampliarmos esse uso, é preciso acabar com o preconceito de que usar madeira contribui para o desmatamento. Também temos que trabalhar para ampliar o G de Governança (na sigla ESG) em todos os setores e fomentar políticas públicas e pesquisas em universidades”, disse a convidada Monica Aprilanti.

Madeira para transformar vidas

No primeiro painel, mediado pela comunicadora Mariana Moraes, da iniciativa Verdes Marias, o designer Marcelo Rosenbaum contou sobre seu trabalho em comunidades tradicionais do ‘Brasil profundo’. “Vejo essas comunidades como universidades de saberes, vou para ouvir e aprender com as pessoas. Quando a gente entrega para elas uma casa de madeira e tijolo de terra, e não um prédio de concreto, isso também é educação, é a arquitetura valorizando a cultura desses lugares”, defendeu o designer.

Ele contou sua experiência no projeto premiado das Moradias Infantis Canuanã, no Tocantins, uma escola-fazenda da Fundação Bradesco com 540 crianças, que participaram ativamente das definições básicas da construção do novo prédio que hoje habitam. Rosenbaum também compartilhou um pouco do trabalho de criação de bancos com madeira de manejo (vendidos na Dpot) por um grupo de marceneiros no Baixo Rio Negro. “Temos que incluir essas pessoas como protagonistas, trazer valor para essas peças que contam um realismo fantástico representativo desse Brasil profundo”, disse.

Para ele, é preciso provocar essas novidades, incentivar políticas públicas que favoreçam a logística, reduzam os impostos e tudo que envolve esses projetos que falam de identidade, sustentabilidade e impactos positivos que voltam para as comunidades.

Madeira plantada em prédios verticais

Logo após Rosenbaum, foi a vez de Nicolaos Theodorakis, CEO da Noah Wood Building Design, contar por que é entusiasta da madeira em edifícios verticais. “O setor da construção é responsável por 38% das emissões de CO2 em todo o mundo. Quis buscar um método construtivo diferente desse que gera tantos impactos”, explicou. “A madeira é um material renovável e sustentável na essência e quero desenvolver esse mercado de madeira engenheirada aqui no Brasil, mostrando que ela pode otimizar tempo e recursos na obra. Não vejo hoje outro material mais potente do que a madeira para fazer essa transformação necessária no setor, reduzindo os impactos que ele hoje representa no planeta”, frisou.

Origem legal, vantagens e novas espécies

No segundo painel, o engenheiro agrônomo Cristiano do Valle, fundador da Tora Brasil, especializada em móveis de madeiras nativas certificadas pelo FSC, foi o moderador do papo com três especialistas da área: a arquiteta Tatiana Tibiriçá, do escritório Ipê-Amarelo Arquitetura, que participou do projeto da sede do Imaflora, à base de madeiras certificadas; o pesquisador do Laboratório de Produtos Florestais (LPF), Fernando Gouveia; e a arquiteta e pesquisadora do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), Kátia Punhagui.

“Cada tipo de madeira, seja nativa ou plantada, tem seu próprio valor. A grande graça é essa diversidade, que precisamos saber aproveitar. Acredito na harmonia entre preservar a floresta e usar os recursos de forma sustentável”, disse do Valle. “O mais importante é saber se vem de origem correta. É como os filmes que assistimos: embora seja tudo igual, é preciso saber se são cópias legais ou piratas”, complementou.

A arquiteta Tatiana Tibiriçá concorda e reforça que os profissionais precisam sempre checar a origem da madeira. Para ela, optar pelas certificadas é sempre a melhor escolha. “A madeira traz benefícios de conforto termoacústico, fortalece o design biofílico, é um material natural, renovável (se usado corretamente) e de muita beleza”, avaliou.
Em relação às pesquisas científicas, Fernando Gouveia ressaltou a importância de ampliar as espécies demandadas pelo setor. “Nosso foco maior é a caracterização tecnológica da madeira e a redução da superexploração de espécies consolidadas no mercado. Fazemos isso a partir do levantamento de informações sobre madeiras alternativas, com propriedades semelhantes, que ajudam a combater o risco de extinção das mais requisitadas. Em nosso site temos muito material disponível para quem quiser consultar”, informou o pesquisador.

Cadeias produtivas com impactos diferentes

A pesquisadora Kátia Punhagui, última palestrante do encontro, compartilhou informações sobre os impactos relacionados à madeira em três diferentes cadeias produtivas: madeira plantada (pinus e eucalipto), madeira nativa de florestas com manejo sustentável e madeira nativa extraída ilegalmente – que, infelizmente, ainda é algo significativo no Brasil. “Já usamos muita madeira no setor da construção, mas informalidade é ruim em qualquer cadeia. Além disso, nem sempre usamos com boa aplicação. Usar madeira nativa serrada de forma transitória, como nas fôrmas de concretagem, é ruim, porque essa madeira poderia ter um uso mais nobre, e é por isso que temos que conhecer a origem e estudar toda a cadeia produtiva para reduzir seus impactos”, comentou. Exemplificando, ela contou que para cada três casas de alvenaria construídas, o volume de madeira serrada que é descartada daria para levantar uma casa inteira de madeira.

“Para mudarmos essa realidade, precisamos entender que floresta sem uso é floresta no chão. E torná-la protagonista nos projetos, em aplicação finalística. Para isso, precisamos de um conjunto de ações que envolve entender o que o mercado está pedindo, fortalecer normas e fiscalização e conscientizar cada vez mais o consumidor para que pressione pela origem legal”, analisou a pesquisadora.

O público inscrito no encontro participou com perguntas ao longo de todo o evento, enviadas pelo chat da plataforma. Ao final, eles fizeram um tour virtual pela sede do Imaflora e puderam conhecer um pouco sobre os edifícios sustentáveis construídos pela entidade.