O Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou nesta quinta (13) a assinatura de um convênio com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) para estudar potenciais localizações das novas usinas nucleares brasileiras.
E completa: “como fonte de energia limpa e firme para a base das matrizes energéticas, a geração termonuclear vem ganhando cada vez mais espaço no mundo por conter o avanço do aquecimento global e seus impactos no meio ambiente”. É verdade.
Está claro desde o início do governo que o ministro Bento Albuquerque é um entusiasta da fonte.
Mas o avanço do planejamento para construção de novas usinas — no que pode ser o último ano do governo Bolsonaro — acontece no mesmo momento em que a nuclear volta a ser fortemente apresentada como uma solução para transição energética sem choques de oferta de energia.
Isto é, a promessa de uma energia gerada sem emissões, despachável, capaz de sustentar o aumento de potência intermitente das renováveis. Até aqui, sem novidades nos atributos.
O que mudou foi a política: “vamos, pela primeira vez em décadas, relançar a construção de reactores nucleares no nosso país e continuar a desenvolver energias renováveis”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, em novembro de 2021…
… Declarações feitas a esteira da COP26 sediada em uma Europa em crise energética, com lideranças globais como o próprio Macron e o presidente Joe Biden, dos EUA, cobrando dos fornecedores internacionais o aumento da oferta de petróleo e gás para conter a inflação.
Nuclear também permaneceu na política energética americana: tanto no governo de Donald Trump como de Biden (eleito sob uma “agenda verde”), é apresentada como solução para a expansão de renováveis. Conta inclusive com dinheiro público no desenvolvimento de novas tecnologias, como os reatores modulares de pequena escala (em inglês).
E recentemente, fez parte do controverso lançamento na Europa de uma consulta para enquadrar o gás natural e a nuclear na categoria de investimentos verdes para transição energética.
Aliás, podemos apostar com alguma segurança que, na conversa pública, o dilema da garantia de acesso à energia vs transição para fontes de baixa e zero emissão, começará cada vez mais a ser enquadrado sob o termo greenflation, a inflação verde – se ela veio para ficar ou não, contudo, depende do interlocutor.
E o que já temos, até aqui? Além da escolha da próxima locação, temos a indicação que o próximo Plano Decenal de Energia (PDE) vai trazer mais detalhes sobre a expansão da nuclear, rumo aos próximos leilões da fonte. No PNE 2050 são de 8 GW a 10 GW.
“É possível que haja leilões para nuclear a partir de 2023, 2024, 2025… Mas já entra no plano de geração e transmissão”, disse Bento Albuquerque à epbr, ano passado, em Glasgow.
Temos também a indicação do ministro que o Rio de Janeiro, sede das usinas Angras 1, 2 e 3, é um “forte candidato”. Avaliações passadas haviam demonstrado que Itacuruba, em Pernambuco, era o local “preferencial” para a instalação de uma nova usina.
O Rio será também a sede da ENBpar, nova estatal criada para assumir o controle do setor pós-privatização da Eletrobras. A empresa foi ativada recentemente e está em estruturação pelo MME.
E é preciso, claro, terminar Angra 3, que será um gancho aqui para falar mal da nuclear, pelo mero exercício do debate. E vamos além do problema do rejeito e do desastre que é um acidente radioativo.