No momento de escolher um curso superior, observar as oportunidades de mercado é importante para que o estudante conheça as perspectivas para a profissão. Além do cenário na cidade ou país em que reside, analisar vagas no exterior pode ser uma estratégia para quem está disposto a investir numa carreira internacional.
José Marcos Tavares, graduado em Engenharia Civil pela Universidade de Fortaleza (Unifor), foi em busca de novas perspectivas em Portugal, ainda durante o período da graduação. Com diplomas tanto da instituição de Fortaleza quanto da europeia, o jovem atualmente trabalha no processo de restauro da Sé Catedral, construção com quase 500 anos, na cidade de Portalegre (a cerca de 200 km da capital Lisboa). Apesar da distância da família e amigos, o engenheiro comenta que as oportunidades no mercado estrangeiro são reais e que há espaço para profissionais brasileiros.
O início da trajetória de Marcos foi recheado de dúvidas, como é natural no período do fim do ensino médio. Dividido entre a Engenharia Civil e a Mecânica, um fator inusitado que auxiliou na decisão final foi: a reforma do banheiro no apartamento em que Marcos morava. O que para muitos poderia ter sido uma situação incômoda, tornou-se interessante para o estudante que aproveitou o período para observar os processos da reforma.
Aliado a esse ponto, durante a infância e juventude, Marcos costumava viajar de carro de Fortaleza até o Paraná, onde vivem membros da família, o que também despertou curiosidade pelo estudo de estradas, rodovias e afins. Apesar desse incentivo, logo no primeiro semestre, o então aluno não foi bem em uma atividade que envolvia a construção de uma ponte feita de macarrão. “Enquanto todo mundo tinha pontes super resistentes, a minha, na hora que colocou um prato, ela caiu. Então pensei: ‘se eu não consigo fazer uma ponte de macarrão, imagine uma de verdade’”, relembra.
Apesar desse episódio, Marcos persistiu e se destacou na disciplina de Desenho Técnico, na qual se tornou monitor no 2º semestre do curso e teve a primeira experiência com a docência e com a publicação de artigos científicos.
Após passar dois anos como monitor e perceber o interesse de continuar os estudos para a prática de docência, e já com planos de fazer mestrado, Marcos decidiu investir em uma dupla diplomação. Assim, acabou aprovado na seleção do Instituto Politécnico de Bragança, em Portugal, no qual passou um ano.
Após retornar à Unifor, deu continuidade aos estudos da graduação, o que o levou a entrar em um grupo de estudos e a publicar um artigo que foi premiado em 3º lugar no Encontro de Práticas Docentes da Unifor.
Legenda: A Unifor conta com laboratórios equipados para todas as etapas da graduação em Engenharia Civil
Foto: acervo pessoal
“Nesse meio tempo, comecei a estagiar numa empresa italiana, ainda no Brasil. Quando terminei a faculdade, eles quiseram me mandar para a Itália. Os projetos são desenvolvidos lá e vêm pra cá porque precisam ser refinados. Então, precisavam de alguém que entendesse da legislação brasileira na Itália para diminuir esse vaivém de projetos. Como eu já tinha graduação na Europa, eu podia trabalhar lá tranquilamente”, explica. Contudo, por conta da pandemia de Covid-19, Marcos não conseguiu o visto a tempo.
PERSPECTIVA INTERNACIONAL
Após receber a proposta de uma empresa portuguesa, Marcos acabou sendo aprovado no processo seletivo para trabalhar no projeto de restauração da Sé Catedral, na cidade de Portalegre. “Por já ter muita documentação por ter ido estudar em Portugal, meu processo de visto foi muito mais rápido. Consegui e vim trabalhar aqui. Cheguei em setembro de 2021.”
De acordo com Marcos, no mercado cearense, as principais oportunidades são voltadas para o segmento da infraestrutura, com projetos de terraplanagem, pavimentação, implantação de rede coletora de esgoto, drenagem, entre outros. Dessa forma, o primeiro contato com um trabalho de restauração em Portugal foi surpreendente, mas o jovem garante que a experiência está sendo de muito aprendizado.
Em relação às oportunidades de trabalho no exterior, Marcos detalha que, somente na empresa em que trabalha, há 17 brasileiros contratados, todos engenheiros, e que existe falta de mão de obra na área. “Aqui ganho quatro vezes mais do que no Brasil. Com o dinheiro que ganho aqui, apesar de ser pouco comparado aos salários normais, consigo fazer muito mais coisa que no Brasil. Em termos de salário, está valendo muito a pena.”
Além disso, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), órgão responsável em nível nacional pela fiscalização dos profissionais da engenharia, possui parceria com a Ordem dos Engenheiros de Portugal, o que garante que os profissionais brasileiros consigam trabalhar no país europeu.
NOVOS APRENDIZADOS
Em Portugal, Marcos trabalha com o ramo de restauração, segmento da engenharia civil que ainda não havia explorado. “É uma igreja de 1500, muito antiga e estava bem deteriorada. A gente está fazendo a restauração e tem uma parte nova que está sendo construída. Toda essa parte de reboco, a parte de piso, pavimento vai ser refeita, está sendo aplicado mármore. Meu trabalho é acompanhar na parte de planejamento e gestão de obra”, explica.
ENGENHARIA CIVIL NA UNIFOR
De acordo com José Marcos Tavares, além da estrutura de laboratórios e salas de aula da Unifor, um dos principais pontos positivos da universidade é a possibilidade de entrar em programas que expandem as possibilidades da graduação, como a dupla diplomação, intercâmbio, grupos de pesquisa, entre outros. “Os professores da Unifor foram peças fundamentais para eu conseguir meu diploma em Portugal, por terem me incentivado sempre a seguir nessa área de pesquisa.”
Atualmente, um dos focos de Marcos, além de continuar a desempenhar seu trabalho em Portugal, é validar o mestrado e seguir para o doutorado, para continuar no mercado acadêmico e se tornar professor, uma profissão que admira.