Segundo a McKinsey, o setor de construção contribui com quase 40% das emissões globais de CO2 e 25% das emissões de gases de efeito estufa, considerando combustível fóssil, carbono operacional e incorporado de sua cadeia de suprimentos. Da mesma forma, a indústria de AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção) utiliza 50% dos recursos naturais do planeta.
Enquanto as transformações estão ocorrendo em toda as indústrias comprometidas com a sustentabilidade – uso do hidrogênio para produzir aço, adição de aditivos de baixo carbono ao cimento - também existem outras possibilidades mais básicas e acessíveis que valem a pena reconhecer para corrigir o que os economistas hoje chamam de "falha de mercado", referindo-se aos recursos naturais que deixaram de ser ponderados na estrutura de preços de produtos e serviços, por terem sido considerados simplesmente disponíveis.
Torna-se evidente, dadas as consequências da exploração e produção exagerada de resíduos, que devemos conseguir incorporar cada vez mais nos processos industriais, a compreensão dos ciclos naturais, herdando deles a sua circularidade e eficiência como veículos para o desenvolvimento de uma infraestrutura cada vez mais resiliente.
Do ponto de vista da indústria, é importante ficar claro que a circularidade é o principal facilitador da sustentabilidade e da mesma forma, a transformação digital é o principal facilitador e acelerador da circularidade, pois graças a ela podemos visualizar e implementar soluções eficientes e eficazes, a serem dimensionadas, sem expor o capital natural ou o capital econômico para uma efetiva e eficiente execução das obras.
A transformação digital implica no uso de ferramentas e processos ágeis: modelos BIM na indústria AEC e na fabricação de conceitos de engenharia e design assistido por computador (CAD, CAM e CAE), que se entrelaçam com a gestão da vida útil dos produtos, PLM na sigla em inglês. Mas quando se trata de sustentabilidade, seria claramente pretensioso pensar que a tecnologia resolve tudo, pois soluções holísticas implicam em andar de mãos dadas com a natureza considerando fundamentos que até agora parecem ser ignorados.
Com muita força, surge uma campanha global para Salvar o Solo, liderada por Sadhguru com o apoio de importantes entidades internacionais como a ONU, o Fórum Econômico Mundial, a Organização Mundial de Alimentos, governos de mais de 25 países, cientistas, líderes da indústria e milhões de pessoas, observando a conexão entre os renomados desafios globais que afetam as indústrias e a desertificação acelerada que o planeta está sofrendo.
A ONU (Organização das Nações Unidas) alerta que até 2045 produziremos 40% menos alimentos para uma população 25% maior que a atual, ou seja, quase 2 bilhões a mais de pessoas. Assim, esse movimento busca que 3,5 bilhões de pessoas exijam de seus governos a elaboração de leis que estimulem a restauração do solo, para que, usando a janela de tempo que os cientistas alertam de 10 a 15 anos, a desertificação possa ser revertida, aumentando a matéria orgânica entre 3% e 6% para restaurar as propriedades do solo, sob pena de que em 2050 a vida no planeta deixe de ser como conhecemos hoje.
Por isso, quando temos desafios de construção em nossa mesa para receber a migração de pessoas para grandes cidades, o desenvolvimento de redes de serviços para o fornecimento de água potável ou o desenvolvimento de conectividade multimodal com baixa pegada de carbono, devemos buscar soluções holísticas que, além de fornecer a infraestrutura também possa melhorar as condições do entorno, única maneira de obter resiliência na infraestrutura com um real senso de serviço para a vida.
O Fórum Econômico Mundial, por exemplo, convida ao desenvolvimento de Cidades-esponja - cidades com uma camada orgânica que absorve e retém a umidade. Um solo saudável consegue regular o ciclo da água, retendo-a, filtrando-a e alimentando as bacias, evitando enchentes, erosões e secas, além de preservar a biodiversidade e fornecer segurança alimentar para uma população crescente com índices de desnutrição que estão avançando mesmo em países tropicais onde poderia haver colheitas permanentes. O solo é a entidade com maior potencial de sequestro de carbono do planeta depois dos oceanos e hoje, sua desertificação está liberando mais carbono na atmosfera do que a mesma frota de combustíveis fósseis.
Neste direcionamento, vale ressaltar empresas líderes na região da Colômbia, como a Empresa de Desenvolvimento Urbano de Medellín, que trabalha há mais de cinco anos na transformação social por meio da formulação, execução, assessoria e consultoria de projetos urbanos que contribuam para o desenvolvimento do território e a melhoria da qualidade de vida. Outro exemplo bem sucedido é a empresa Alexandre Furcolin de São Paulo, cujos projetos civis e arquitetônicos estão vinculados à bibliotecas Revit (software BIM para arquitetura, urbanismo, engenharia e design) que classificam espécies vegetais endêmicas para serem usadas no planejamento urbano e paisagístico, harmonizando ambientes que atraem saúde, biodiversidade e mitigam o superaquecimento.
Já a BlueBird Coffee da Colômbia mapeia variáveis das lavouras de café, correlacionando-as com as condições meteorológicas para o melhoramento de grãos, projetando um potencial inumerável para novos casos de uso onde, a convergência de indústrias permite o desenho, construção e gestão de corredores verdes, apoiados por sua escalabilidade em sistemas de informação georreferenciados como ESRI e Infraworks que permitem combinações inovadoras de projetos tradicionais de construção como: moradias populares, escolas ou obras de infraestrutura com agricultura regenerativa, soluções para abastecimento de água ou planejamento de cidades-esponja.
O desenvolvimento de infraestrutura resiliente é essencial para fechar lacunas na região da Colômbia, envolvendo cooperação interdisciplinar e uma visão abrangente do meio ambiente. Com a adoção da metodologia BIM (Modelagem da Informação da Construção) e ambientes de dados comuns, a gestão da informação pode ser viabilizada de forma oportuna, unificada e segura, permitindo que os diferentes grupos de interesse contribuam e visualizem melhorias com transparência, sendo a única forma para conciliar a economia com a ecologia na velocidade e custos que respondam de forma holística aos desafios globais, na busca por paz, prosperidade e progresso.