Prédios tortos de Santos: como eles estão hoje?
Edifícios construídos entre os anos 1950 e 1960 passaram a afundar na orla de Santos a partir dos anos 1970. Ao todo, 65 prédios ficaram com suas estruturas comprometidas, por causa de fundações rasas. Elas foram fincadas a menos de dez metros, para sustentar os empreendimentos em um terreno instável, onde os fragmentos mais sólidos de rocha estão a mais de 50 metros de profundidade. Resultado: com o passar do tempo, foram geradas inclinações de 50 cm a 1,80 m entre a base e o topo. Somente em 2004, com a participação do poder público, e com estudos técnicos de universidades como USP e Unisanta, pensou-se em soluções para os prédios, que continuaram habitados.
Os estudos levaram 8 anos, e em 2012 se deu um longo trabalho de recuperação que terminou em 2014. Os prédios, enfim, foram salvos. O engenheiro civil Carlos Maffei, professor-titular da USP, que atuou na recuperação de alguns edifícios – entre eles, os blocos A e B do Núncio Malzoni -, avaliou o problema como “um erro conceitual de fundação”. A cidade de Santos tem solo considerado de má qualidade para a construção de edifícios e, nesse aspecto, só perde para a Cidade do México, capital do México. Isso exige que os prédios tenham fundações profundas, ainda que o custo seja mais elevado. “Imagino que na época os construtores e incorporadores se convenceram que poderiam fazer fundações rasas. Eles sabiam que iam recalcar, mas imaginavam que ia recalcar uniformemente, o que não ocorreu”, diz Maffei.
Macacos hidráulicos
A solução para realinhar os edifícios foi usar macacos hidráulicos. No caso do conjunto Núncio Malzoni, cada prédio pesava em torno de 6.500 toneladas. Foram necessários catorze equipamentos hidráulicos para levantar as estruturas. A cada dia, elas subiam cinco milímetros. Os vãos eram preenchidos com chapas de aço, que serviram de suporte quando se alcançava o prumo e os macacos eram retirados. Em seguida, foram construídas estrutura de concreto que ligaram as vigas antigas às novas estacas – essas, apoiadas em uma camada de solo rochoso a 55 metros de profundidade. “O grande desafio era movê-los sem abalar a estrutura. Usamos também sete vigas de concreto abraçando os pilares, para que todo o bloco fosse deslocado, sem trincar”, explica Carlos Maffei.
A recuperação de cada prédio teve o custo de R$ 1,5 milhão. Antes de serem reaprumados, os edifícios se tornaram “atração turística” na orla de Santos. Alguns moradores pensaram em colocar à venda seus imóveis, mas eles chegaram a desvalorizar até 75%, o que inviabilizou a possibilidade de venda. Por serem edificações antigas, construídas há mais de 50 anos, e ocupadas em sua maioria por idosos, a melhor solução – sob o aspecto econômico e social – foi realinhá-los. “A operação foi relativamente simples, mas porque houve coordenação. Sem isso, poderia ter o superespecialista em estruturas, o superespecialista em macaqueamento e o superespecialista em solos que não iria dar certo”, estima o professorCarlos Maffei, que também já atuou em obras semelhantes em Novo Hamburgo-RS e Recife-PE.
Entrevistado
Engenheiro civil Carlos Eduardo Moreira Maffei, professor-titular da USP (Universidade de São Paulo) e responsável técnico da Carlos E M Maffei Engenharia S C Ltda
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330