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Agricultura, energia e saúde foram os principais eixos de debate da sétima edição dos Diálogos Brasil-China para a Tecnologia e o Desenvolvimento, que aconteceu entre os dias 8 e 11 de abril na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), integrada à V Conferência Nacional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação e como evento paralelo do G20 Grupos de Engajamento – T20 (Think Tanks) e S20 (Ciência). O encontro discutiu tendências e rumos para políticas de inovação e tecnologias disruptivas, seus impactos e oportunidades para o desenvolvimento dos países.
Sob coordenação e mediação de Ana Célia Castro, diretora da Escola Brasileira de Altos Estudos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os debates entre cientistas brasileiros e chineses mapearam questões estratégicas nas quais os países precisam avançar, divididas em três temas principais: fronteiras tecnológicas e sociais da agricultura; fronteiras na medicina e desafios das políticas públicas; transição energética e sustentabilidade: horizontes e alternativas.
Ao final de três dias de debate, foi recomendada a criação de um ecossistema de prospecção de futuro, para definir planos, programas e projetos estratégias ligadas às questões sociais, políticas, ambientais e econômicas e promover um desenvolvimento justo, inclusivo e sustentável.
Tecnologia e inovação na agricultura
A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, participou da conferência de abertura e destacou o trabalho em cooperação internacional para um novo ciclo de desenvolvimento, ancorado em ciência, tecnologia e inovação, a fim de fazer frente aos novos desafios globais como mudanças climáticas, segurança alimentar, sustentabilidade e transição digital. Ela demonstrou como o Brasil tem aplicado conhecimentos científicos e inovações tecnológicas desenvolvidas pela Embrapa e seus parceiros na agricultura, por exemplo, com adoção de sistemas produtivos de baixo carbono como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), bioinsumos e bioprodutos, edição gênica (CRISP), robotização, automação, internet das coisas (IOT) e inteligência artificial no campo. “Esta parceria com a China pode estabelecer caminhos e fazer avançar a agricultura nos próximos 5 ou 10 anos, que cada vez mais se apresenta de forma sustentável, multifuncional e digital”, afirma Massruhá.
Para Marcelo Morandi, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da Embrapa, a importância da aproximação entre Brasil e China se dá, especialmente, porque ambos possuem fortalezas complementares e desafios semelhantes em termos sociais, econômicos e ambientais no que tange a agricultura, além de integrarem um bloco que reúne países com economias emergentes. A China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil e integra os BRICS, a parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Além disso, tornou-se um protagonista na área de tecnologia e inovação e o fortalecimento desta cooperação com o Brasil pode trazer benefícios para ambos os países”, ressalta.
Cenários futuros
No caminho da prospecção de cenários futuros foram apresentadas experiências brasileiras pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), BNDES, Petrobras e Embrapa. Petula Nascimento, assessora do PAC-Embrapa e de Articulação com o Poder Executivo e SNPA (APACEX), abordou o processo de macrointeligência estratégica da Embrapa, e como tem atuado a fim de captar sinais, tendências e dados de inteligência, a fim de subsidiar estratégias de PD&I na Empresa e de políticas públicas governamentais. Atualmente, a Embrapa é um dos pilares da previsão de cenários futuros (foresight, em inglês) no Brasil, produzindo periodicamente o documento “Visão do Futuro do Agro Brasileiro”, a partir de seu Sistema de Inteligência Estratégia (Agropensa).
Em um painel de discussão sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) foi apresentado como Brasil e China estão avançando no cumprimento de metas ligadas à redução da fome e da pobreza, preservação do meio ambiente e dos recursos naturais, dentre outros temas. Os debates indicaram que a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável estabelece indicadores e aponta caminhos robustos para se pensar e planejar o futuro das próximas décadas, além das ferramentas institucionais já estabelecidas.
O futuro da agricultura
Na sessão sobre “Fronteiras tecnológicas e sociais da agricultura” foram abordados desafios atuais e futuros relacionados às mudanças climáticas, sustentabilidade, transformação alimentar, propriedade intelectual e agricultura digital. Ocorreram diversas apresentações e intervenções de especialistas brasileiros e chineses, cujos resumos serão compilados em um documento político (policy paper, em inglês) a ser divulgado posteriormente.
Marcelo Morandi, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da Embrapa, destacou em sua intervenção que os sistemas agroalimentares com base em uma abordagem científica fazem parte da solução para enfrentar as alterações climáticas. “Os investimentos em ciência e tecnologia devem promover adaptação aos impactos das mudanças climáticas e reduzir a vulnerabilidade da agricultura tropical e das pessoas mais pobres às adversidades atuais e futuras inerentes ao impacto destas mudanças”, destaca.
Também participaram desta discussão os pesquisadores da Embrapa, Décio Gazzoni, Christiane Amâncio, Eduardo Romano, Sibelle Silva e Petula Ponciano; os professores da Universidade de Campinas (Unicamp), Antônio Márcio Buainain e José Maria da Silveira; da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), John Wilkinson, Georges Flexor, Fabiano Escher e Sérgio Pereira Leite; do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA/UFPa, Nírvia Ravena, do AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, Jean Marc von der Weid e da Southeast University (China), Xu Zhuqing.