São José dos Campos, capital do Vale do Paraíba
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21 de julho de 2015
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A história de São José dos Campos começa pelas mãos dos jesuítas no século XVI. A cruz dos religiosos, de certa maneira, é um resumo geoestratégico da cidade ao considerarmos o mapa das rodovias que passam pelo município. A combinação da Ayrton Senna com a Carvalho Pinto permite atingir a capital paulista num trajeto de 108 km. A Presidente Dutra, por sua vez, reduz a distância em cerca de 15 km e tem a vantagem de posicionar São José dos Campos entre as duas principais metrópoles brasileiras. Com ela, o Rio de Janeiro fica a 340 km. Transversalmente, outra importante estrada, a Dom Pedro, faz a ligação até Campinas e, de lá, a outras partes do rico interior paulista. A Tamoios, por sua vez, dá acesso ao litoral norte do Estado e funciona como uma extensão da Dom Pedro. A Monteiro Lobato, fecha a malha viária que faz de São José dos Campos um centro entre os três Estados mais importantes do país, ligando a cidade – e sua região - ao Sul de Minas.
O papel de hub – ou centro – da região não se restringe às rodovias. Aliás, a mais importante delas para São José dos Campos, a Dutra, passa a ser integrada de forma inteligente ao sistema de transporte urbano da cidade com o avanço do projeto de BRT (Bus Rapid Transport), que começará a ser implantado em 2016. Com essa integração, a famosa rodovia deixa de simplesmente dividir a cidade e reforça seu papel como marco da fase de desenvolvimento que ocorre a partir de 1950. É impossível entender São José dos Campos sem a rodovia. Mas é possível compreender a cidade a partir dela – e agora das outras estradas. Além dos caminhos físicos – caso da Monteiro Lobato, que traz o fluxo de consumidores sul-mineiros para o polo de compras que o município se transformou – há a estrada do futuro. São José dos Campos funciona como hub efetivo de uma região com mais de 2 milhões de habitantes. Dados da Fundação Seade/IBGE indicam que o município tinha cerca de 640 mil habitantes em 2012, o que representaria quase um terço da população do seu entorno.
Trata-se de um grupo de habitantes que desfruta de uma qualidade de vida diferenciada em relação ao país, apresentando um dos maiores Índices de Desenvolvimento Humano do Brasil (0,814). Os locais também fazem parte do Grupo 1 do Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS). Estar nesse patamar significa que a cidade apresenta bons indicadores de riqueza, longevidade e escolaridade. Em termos estritamente econômicos, São José dos Campos tem o oitavo maior PIB (Produto Interno Bruto) do Estado de São Paulo e o vigésimo primeiro do País. Em 2012, de acordo com o IBGE, o município gerou nada menos do que R$ 28 bilhões em bens e serviços finais. O montante já seria impressionante visto sozinho, mas há outro aspecto a se destacar: enquanto o Brasil manteve sua balança comercial com o reforço das exportações de commodities, notadamente minério de ferro, a cidade tem um perfil extremamente diferenciado.
São José dos Campos não só faz parte dos maiores exportadores brasileiros como embarca produtos de alto valor agregado para o exterior: em 2012, os dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) indicavam que SJC era o quinto município que mais exportava, tendo totalizado US$ 6,3 bilhões. No ano seguinte, apesar do cenário de crise mundial, a cidade totalizava US$ 5,4 bilhões e, em 2014, os números atingiram US$ 4,6 bilhões.
O recuo é resultado da crise mundial, mas é importante destacar que as importações da cidade foram de US$ 3,2 bilhões em 2014, o que coloca a cidade como superavitária em termos de balança comercial. E mais: a comparação com o maior município exportador brasileiro – Paraupebas (PA) – comprova a diferença. A cidade paraense, vizinha da maior mina de ferro do mundo (Carajás), desfruta do envio dessa commodity. Embora o valor de SJC seja praticamente metade da cidade paraense, as exportações da cidade paulista estão fortemente centradas em indústrias de alto valor agregado e tecnológico: aeronáutica, eletrônica, automóveis e autopeças, para ficar no grupo maior. A Embraer, sediada na cidade, é a sexta maior exportadora entre as empresas brasileiras.
A presença da maior fabricante de jatos comerciais do mundo também espelha a vocação tecnológica da cidade. Assim como no caso da rodovia Presidente Dutra, a década de 1950 trouxe o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), hoje incorporado ao DCTA. Mas não a única no setor industrial. A cidade possui mais de 1,6 mil indústrias, empregando quase 48 mil pessoas. Mais do que isso, sendo um cluster de alta tecnologia, SJC atraiu vários segmentos afins como o setor aeroespacial e o segmento eletrônico, afora a indústria de telecomunicações e tecnologia da informação (TIC). O círculo virtuoso iniciado pela área aeronáutica e aeroespacial também atraiu respeitados institutos como INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e a vocação high tech foi consagrada com a criação do Parque Tecnológico. Ator social ativo em SJC, o Parque também é incubador de várias startups (empresas que apresentam um modelo de negócio repetível e escalável, mesmo em momentos de incerteza, como define a revista Exame).
O ambiente industrial avançado está sinergia com a área de serviços, pois SJC conta com grandes shopping centers, além da área central da cidade. O planejamento urbano, por sua vez, considera esses fatores, tendo como bússola o Plano Diretor da cidade. Ao mesmo tempo, a qualidade de vida – mapeada pelos índices já citados – reflete a qualidade da educação – em vários níveis – e a infraestrutura de saúde, incluindo-se os altos índices de saneamento urbano. O capítulo educação, por si só, indica o quanto SJC tem avançado. Trata-se do segundo principal investimento do orçamento de R$ 2,4 bilhões da cidade em 2014. A rede municipal tem projetos arrojados, inclusive com a instituição da política de um tablet por aluno.
Em nível superior, a cidade tem a presença, inclusive recente, de instituições como a Fatec e um campus da Universidade Federal de São Paulo. Elas complementam o papel destacado do ITA e das várias iniciativas de Pesquisa e Desenvolvimento. Em vários casos, nota-se o perfil de cursos focados no chamado STEM, acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, cujo DNA tem sido o impulsionar do crescimento dos países desenvolvidos. Da cruz dos jesuítas, São José dos Campos mantém o a pluralidade de convergir diferentes indústrias, mercados e desenvolvimentos, mas concentrando uma população com alto nível educacional e qualidade de vida acima da média nacional e do próprio Estado de São Paulo.
Para conhecer São José dos Campos, o anuário vai apresentar – em seus dois primeiros capítulos - os dados econômicos e a infraestrutura física que suportam a cidade. Na sequência, mostraremos a organização política que indica os caminhos de desburocratização do município. As associações e entidades de classe formam o outro capítulo, mostrando como funciona a dinâmica do município. Outros assuntos merecem capítulos específicos: a história, a estrutura de educação, cultura e comunicação, o quadro de turismo, lazer e esporte. No quadro final, trazemos um banco de dados com informações geográficas e climáticas.