O modelo pode trazer muitos benefícios, tanto físicos como psíquicos, como a melhora na qualidade de vida, a flexibilidade e a possibilidade de interação com a equipe nos dias em que você está no escritório – Foto: Firmbee/Pixabay
O trabalho híbrido, que mistura o trabalho presencial e o remoto e que ganhou muita força entre as empresas recentemente — principalmente na América Latina —, melhora a satisfação no emprego, não afeta a produtividade e reduz demissões de funcionários, como indica estudo publicado na revista Nature. Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo, explica que, em 2017, a reforma trabalhista introduziu um novo artigo na CLT, que permitiu o trabalho a distância e, consequentemente, a flexibilização do controle da jornada. A mudança criou uma tendência ao trabalho remoto entre as empresas, mesmo que ainda muito incipiente, e foi essencial para o momento vivido na pandemia causada pela covid-19, já que as empresas tiveram que se adaptar instantaneamente, e tudo que era feito nos escritórios passou a sê-lo a distância.
“Os trabalhadores gostaram, as empresas também gostaram, porque representou uma economia para elas. Se gastava menos energia, aquelas despesas de funcionamento de um escritório grande se reduziram e o trabalho continuou a ser feito. O problema que as empresas se queixavam é que elas não tinham a capacidade de garantir que a produtividade fosse mantida. Quando a pandemia acabou, dada a necessidade da empresa de poder controlar e manter aquele contato presencial, surgiu a ideia do trabalho híbrido, alguns dias da semana em casa e alguns dias na empresa. Isso definitivamente é uma tendência”, comenta ele.
Segundo Zylberstajn, a nova fórmula de trabalho criou novos aspectos a serem analisados, como o direito à desconexão durante os momentos remotos de trabalho, o que possibilita ao trabalhador definir sua jornada e limitar sua disponibilidade ao horário de trabalho. Outra questão é o custo extra que o trabalhador tem ao fazer suas funções de casa, seja com energia, internet ou equipamentos, o que faz muitas empresas entrarem em negociações com os empregados para assumir esses custos. Contudo, ele conta que as características são diversas, já que cada empresa adota um sistema diferente — em alguns casos, as empresas optam pela maior parte dos dias como presenciais, enquanto outras dão preferência pelo trabalho remoto.
Prós e contras
A psicóloga Larissa Silva, pesquisadora e mestre pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP, afirma que o trabalho híbrido pode trazer muitos benefícios para as pessoas que têm um ambiente familiar considerado saudável, o espaço propício em casa para realização das tarefas e trabalham em uma empresa que respeita os horários de jornada de trabalho. Dessa forma, o modelo pode trazer muitos benefícios, tanto físicos como psíquicos, como a melhora na qualidade de vida, a flexibilidade e a possibilidade de interação com a equipe nos dias em que você está no escritório.
“A pessoa está economizando o tempo de ida e volta do trabalho, que pode ser utilizado para uma atividade de lazer, uma atividade física, cozinhar e ter uma alimentação mais saudável, ou para passar mais tempo com a família. Esses aspectos são fatores importantes, que afetam a autoestima da pessoa que, com uma autoestima elevada, acaba se sentindo melhor, oferecendo o melhor desempenho. Então é um benefício tanto para a pessoa como também para a organização, mas nem todo mundo tem esse ambiente familiar adequado”, explica.
Nesse sentido, a especialista ainda declara que as vantagens e desvantagens do trabalho híbrido variam, inclusive com algumas pessoas se sentindo mais produtivas ao trabalhar em casa, enquanto outras preferem o trabalho no escritório. Assim, apesar dos possíveis benefícios da adoção desse modelo, este também pode ser responsável por potencializar e ocasionar doenças mentais — como depressão, ansiedade, estresse e burnout — em alguns trabalhadores, caso não seja bem implementado, de forma pensada e cautelosa. Alguns exemplos das desvantagens são o acúmulo de funções que algumas pessoas, especialmente mulheres, podem ter, e a mistura do convívio familiar com as atividades laborais, necessitando o desenvolvimento da habilidade de gerenciamento do tempo.
“Nós podemos ter a falha na comunicação, a sensação de estar sempre trabalhando e não conseguir desligar, a má gestão do tempo, que pode afetar nas entregas e nos resultados, pressionando e frustrando a pessoa, a menor relação interpessoal formal e informal e o isolamento social, profissional e político. Inclusive, no futuro, pode haver uma mudança cultural na sociedade, em que a parte da socialização pode ficar muito comprometida. Por isso é importante não só olhar como desvantagens, mas fatores que merecem atenção, para pensarmos em formas estratégicas de fazer dar certo”, complementa.
A pesquisadora entende que, para o modelo de trabalho híbrido ser algo benéfico aos trabalhadores, é importante que estes busquem e desenvolvam a sua inteligência emocional — capacidade de identificar e lidar com as emoções e sentimentos pessoais e de outros indivíduos —, o que aprimora características como adaptabilidade e fácil relacionamento, além de tornar possível uma melhor dinâmica organizacional. “Essas mudanças significativas se tornam mais evidentes quando você tem um controle das suas emoções, tanto pessoal quanto profissional. Pode ser um desafio, no modelo de teletrabalho, já que a inteligência emocional envolve também a comunicação com o outro, então relacionamento interpessoal, conseguir se relacionar com a outra pessoa, ter empatia, se conhecer, conseguir lidar com a gente mesmo”, conclui.