Os rastros dos aviões são autênticas "nuvens artificiais", que acabam aquecendo o planeta.
[Imagem: imagii/Pixabay]
Rastros de aviões
Depois de décadas de aprimoramento tecnológico para que os aviões consumam menos combustível e se tornem menos ambientalmente agressivos, o esforço parece ter saído pela culatra: Os aviões mais modernos estão contribuindo mais para o aquecimento global do que os aviões antigos.
O problema é que os aviões estão criando rastros de vapor mais duradouros, que funcionam como nuvens, aprisionando o calor na atmosfera. Como os jatos particulares e os jatos modernos e com baixo consumo de combustível voam mais alto do que os jatos das gerações passadas, seus rastros de vapor demoram mais para se dissipar.
O balanço geral é que, apesar de seus motores emitirem menos poluentes, os aviões mais modernos podem estar causando ainda mais aquecimento do que anteriormente, contribuindo ainda mais para as mudanças climáticas.
Os rastros, ou trilhas de condensação, são finas faixas de nuvens criadas pelos gases e particulados que saem do escapamento das aeronaves. Elas contribuem para o aquecimento global ao reter o calor na atmosfera. Embora o efeito exato do aquecimento causado por esses rastros dos aviões seja difícil de ser medido, os cientistas calculam que ele é maior do que o aquecimento causado pelas emissões de carbono do combustível de aviação.
"É do conhecimento geral que voar não é bom para o clima. No entanto, a maioria das pessoas não entende que os rastros e as emissões de carbono do combustível de aviação causam um duplo aquecimento do clima. Este estudo joga um balde de água fria na indústria da aviação. As aeronaves mais recentes estão voando cada vez mais alto na atmosfera para aumentar a eficiência do combustível e reduzir as emissões de carbono. A consequência não intencional disto é que estas aeronaves que voam sobre o Atlântico Norte estão agora criando mais rastros de vida mais longa, retendo calor adicional na atmosfera e aumentando o impacto climático da aviação.
"Isso não significa que aeronaves mais eficientes sejam ruins - longe disso, pois elas têm menores emissões de carbono por passageiro-quilômetro. No entanto, nossa descoberta reflete os desafios que a indústria da aviação enfrenta ao reduzir seu impacto climático," disse o professor Edward Gryspeerdt, do Colégio Universitário de Londres, na Inglaterra.
Os cientistas monitoraram a emissão dos rastros de vapor dos aviões usando imagens de satélite.
[Imagem: Edward Gryspeerdt et al. - 10.1088/1748-9326/ad5b78]
Menos fumaça para produzir menos vapor
Os pesquisadores usaram aprendizado de máquina para analisar dados de satélite de mais de 64.000 rastros de uma série de aeronaves sobrevoando o Oceano Atlântico Norte.
Para reduzir o consumo de combustível, os aviões modernos são projetados para voar em altitudes mais elevadas, onde o ar é mais rarefeito e com menos arrasto aerodinâmico, em comparação com a altitude que as aeronaves comerciais mais antigas voavam - aviões como Airbus A350 e Boeing 787 voam a cerca de 12 km de altitude, cerca de dois mil metros acima dos aviões comerciais das gerações anteriores.
Curiosamente, apesar de serem menores e queimarem menos combustível, os jatos particulares criam rastros semelhantes aos de aeronaves comerciais muito maiores, aumentando as preocupações sobre o uso excessivo dessas aeronaves pelos super-ricos - os jatos particulares voam ainda mais alto do que os aviões comerciais.
A saída para o problema, dizem os pesquisadores, está na redução da quantidade de fuligem emitida pelos motores das aeronaves, produzida quando o combustível queima de forma ineficiente.
"A partir de outros estudos, sabemos que o número de partículas de fuligem nos gases de escape das aeronaves desempenha um papel fundamental nas propriedades dos rastros recém-formados. Suspeitamos que isso também afetaria o tempo de vida dos rastros. Nosso estudo fornece a primeira evidência de que a emissão de menos partículas de fuligem resulta em rastros que caem do céu mais rapidamente, em comparação com rastros formados em partículas de fuligem mais numerosas de motores mais antigos e mais sujos," concluiu o professor Marc Stettler, coautor do estudo.