A inteligência artificial não vai eliminar empregos da noite para o dia, mas afetará certas categorias sociais mais do que outras. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) prevê que 2,4% dos empregos no mundo serão impactados pela IA, em especial aqueles com funções administrativas – ocupados, em sua maioria, por mulheres. Porém, quando se analisa os países do Sul Global, a porcentagem chega a 5%. Ou seja, a IA vai aprofundar as disparidades no trabalho entre homens e mulheres e entre países do Norte e do Sul.
“Precisaremos preparar os trabalhadores [para a IA] e realizar a transição para que ela seja a mais justa possível. Em segundo lugar, a maior parte dos empregos automatizados serão empregos em que a maioria é de trabalhadoras mulheres. Os empregos que acabarão vão aprofundar ainda mais a diferença entre homens e mulheres no mundo do trabalho. Vamos precisar construir uma formação de competências contínua”, disse Gilbert Houngbo, diretor geral da OIT, durante o evento Sommet pour l’action sur l’intelligence artificielle (Cúpula para a ação sobre inteligência artificial, na tradução livre), que acontece nesta segunda-feira, 10, e terça, 11, em Paris e pode ser visto no Youtube.
OIT e o mercado informal; IA e o lado do trabalhador
Gilbert Houngbo, diretor geral da OIT. Imagem: reprodução de vídeo
Houngbo lembrou também que 60% da economia resta informal em muitos países e que o impacto da IA neste nicho ainda é um mistério. “Os dados que temos sobre IA não refletem necessariamente o que se passa no setor informal. Consequentemente, é muito difícil prever o que vai acontecer neste caso”.
O painel contou também com Guillaume Faury, CEO da Airbus, Christy Hoffman, secretária-geral da UNI Global Union, federação sindical global, e Denis Machuel, CEO do grupo suíço Adecco. Com isso, o debate girou em torno de dois pontos: a defesa pela tomada de risco e o diálogo social.
Hoffman deu sua visão preocupada com os trabalhadores e apresentou algumas iniciativas para proteger os empregos. Entre elas: incentivar as empresas a manter seus funcionários; reduzir a jornada de trabalho; e apoiar os trabalhadores prejudicados.
A federação representa 20 milhões de trabalhadores do setor de serviços em 150 países, e sua representante enfatizou a importância do diálogo social para que todas as partes possam “negociar” sobre o tema. “Os ganhos de produtividade gerados pela IA só vão aprofundar as desigualdades se não tivermos essa conversa desde o início.”
Christy Hoffman, secretária-geral da UNI Global Union, federação sindical global. Crédito: reprodução de vídeo
“Os trabalhadores de uma maneira geral estão convencidos de que a IA é algo positivo, mas as pessoas estão preocupadas com o seu futuro. E eles têm uma certa razão por que o sistemas não estão prontos para serem transformados por IA. Os trabalhadores não estão certos se as empresas vão incluí-los na maneira como a IA será usada e que seus trabalhos estão seguros ou que eles terão a chance de aprender as habilidades que serão importantes no futuro”, disse Hoffman. Para ela, os trabalhadores precisam ser incluídos nesta discussão.
IA e o lado do empregador
Guillaume Faury, CEO da Airbus. Crédito: reprodução de vídeo
Faury, CEO da Airbus, contra-argumentou o discurso da sindicalista. “Esse diálogo social não é mais uma negociação. Precisamos levar todos para um mesmo futuro e aceitar correr riscos”, afirmou.
O executivo explicou que a Airbus usa inteligência artificial há 30 anos para uma série de atividades, como desenvolvimento de voos autônomos e otimização de softwares de gestão de recursos. A companhia integra um grupo de 60 outras empresas com o objetivo de transformar a Europa em líder global no setor de IA. A coalizão defende simplificação na regulação e explicou que no mundo da concorrência, não é possível esperar. “Se não entrarmos na IA, os concorrentes entrarão”.
Demitir ou não
Denis Machuel, CEO do grupo suíço Adecco. Crédito: reprodução de vídeo
Machuel, CEO do grupo suíço de recursos humanos Adecco, lembrou de uma pesquisa realizada por sua empresa com 35 mil empregados e empregadores que aponta que 46% das companhias pensam em não demitir seus funcionários cujas funções poderão ser automatizadas. O executivo considera o número alarmante e reforça a necessidade de capacitações em larga escala dos trabalhadores. Ainda de acordo com o estudo da Adecco, 58% dos trabalhadores brancos têm acesso a aprimoramento de habilidades e requalificação programas.
Para o executivo, é importante que todos pensem em educação para os trabalhadores. “Temos que focar em educação adulta. E acreditamos que as empresas podem proativamente fazer um programa de formação bem adaptada”, comentou.