Quando pensamos em obras, algumas preocupações passam pelo planejamento, como os valores a serem gastos e o tempo que as construções vão levar. No Brasil o prazo para uma casa totalmente finalizada – incluindo projeto, liberações em órgãos competentes, planejamento do canteiro de obras, condições climáticas e mão de obra – fica entre oito meses e um ano. Logo, até que se chegue à moradia ideal, algumas pedras no caminho podem surgir.
Diante disso, metodologias construtivas industrializadas surgem como alternativas para agilizar os processos construtivos, bem como se ter um resultado com um maior controle de qualidade. Muito utilizadas em países desenvolvidos como Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Suíça, Japão e China, as construções industrializadas trazem o que há de melhor no mundo em tecnologia construtiva.
No Brasil, por cultura, sempre se deu preferência a metodologia convencional de construção, utilizando concreto armado ou estrutural, tijolos de cerâmica e blocos. Cenário esse que começou a mudar a partir da regulamentação e normatização de tecnologias industrializadas no país, ocorrida em julho de 2023.
A normatização permite as novas tecnologias como Light Wood Frame (LWF), Light Steel Frame (LSF) e Lightwall, serem utilizadas para construções comerciais industriais e residenciais, utilizarem de financiamento bancário em suas execuções e serem incorporadas a programas habitacionais financiados pela CAIXA e outros bancos, como no caso do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV).
De acordo com Junior Bergamin, engenheiro civil e um dos fundadores da Hauss Brasil (empresa pioneira no uso de casas industrializadas no país), a normatização de metodologias industrializadas faz com que o país se desenvolva com muita velocidade para conter o déficit habitacional Brasileiro, que em 2022 passou de 6 milhões de unidades habitacionais.
– A industrialização da construção demorou para ser normatizada no país, e hoje podemos dizer que a população tem acesso ao que há de melhor no mundo em tecnologia construtiva. A construção off site, permite que casas sejam construídas em 48 horas e estejam prontas para serem habitadas em 72 horas. Uma construção seca é mais sustentável, tem melhor acústica e traz um conforto térmico no mínimo duas vezes superior aos métodos convencionais, isso tudo com um custo final igual ou inferior aos métodos convencionais - aponta Bergamin.
O engenheiro ainda reforça a ideia de que, apesar de haver normas claras para as moradias industrializadas no país, o que atrapalhou até aqui é a demora ne processo. “A falta da normatização dos materiais aqui no Brasil limita o acesso da população e a difusão das metodologias, pois sem a normatização não era possível financiar as construções e tão pouco essas tecnologias serem inseridas em programas sociais como o MCMV e outros. Mesmo sendo utilizada há mais de 100 anos em outros países – que inclusive vivenciam condições climáticas adversas, como furacões, tornados ou períodos de extremo inverno”.
Light Wood Frame, Light Steel Frame e Lightwall: qual utilizar?
Para cada construção, é importante conhecer o material ideal para ser utilizado. O Light Wood Frame e o Light Steel Frame, por exemplo, são bem parecidos. Enquanto o LWF usa estruturas de madeira tratadas em sua composição, o LSF opta por trabalhar com aço em sua formação. Eles inclusive possuem placas cimentícias, OSB (painel composto por tiras de madeiras na mesma direção), membranas hidrófugas para contenção da umidade externa e gesso como integrantes dos painéis.
– Por usarem materiais com o mesmo conceito, possuem velocidade construtiva cinco vezes superior aos métodos convencionais, são consideradas OFF SITE, pois mais de 70% das operações são feitas fora do canteiro de obras, além de serem vantajosos no quesito de sustentabilidade: gastam 95% menos de água na construção e geram 80% menos de resíduos sólidos. Como desvantagens, requerem mão de obra especializada nas montagens e um custo maior para projetos personalizados, porém em projetos escaláveis como habitação popular, pode ter o custo até menor que o convencional – analisa Bergamin.
Já o Lightwall é uma tecnologia desenvolvida na China e reproduzida no Brasil. Utilizam um sistema de painéis com tamanho de 60x300cm e composição de poliestireno expandido, além de cimento de alta resistência. As estruturas são autoportantes e, para residências térreas, não necessitam de pilares em sua execução.
– Apesar de serem menos resistentes que a madeira e o aço para construções acima de dois andares, o Lightwall tem a vantagem de ser fácil de instalar e menor custo, podendo ser executado em projetos personalizados. Também oferecem bom isolamento térmico e acústico, além de alta resistência ao fogo. No entanto, precisa de um maior trabalho em canteiro de obras para a construção, essa metodologia apesar de ser industrializada é considerada também ON SITE, pois se faz em sua maioria no canteiro de obras– completa.
Alternativas para o déficit habitacional no Brasil
Em 2022, o déficit habitacional no país atingiu 6 milhões de domicílios, representando 8,3% do total de habitações ocupadas no Brasil. As informações foram divulgadas pela Fundação João Pinheiro (FJP), em parceria com a Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades. Os principais motivos que contribuíram para esse déficit foram o aumento no valor dos aluguéis (16%) e da casa própria (3,5%).
– Antes da tragédia do Rio Grande do Sul, já tínhamos uma grande demanda por moradias. Com os acontecimentos do ano passado, este número se tornou muito mais alto. O modelo de construção industrializada surge como uma alternativa mais eficaz para resolver esse déficit, até porque quem precisa, tem muita pressa – acrescenta Bergamin.
A escolha pelas casas industrializadas se torna, dessa forma, uma alternativa que visa a sustentabilidade e agilidade em operação. Projetos para o programa “Minha Casa, Minha Vida (MCMV)” podem ser utilizados como solução para o desafio, uma vez que propostas em escala ajudam a tornar o custo menor se comparado às casas tradicionais. E os modelos também são beneficiados pelo prazo de entrega reduzido, além do conforto térmico e acústico que as moradias oferecem, junto ainda da sustentabilidade.