Ensinamentos para a qualidade da engenharia civil
A prioridade para a engenharia civil hoje, no campo da geotecnia e das fundações, é a excelência nos projetos básicos e executivos, nas investigações, controles e medições. Os profissionais precisam ser firmes em não realizar aviltadamente trabalhos de baixo custo e curto prazo. É o que afirma Fernando Danziger, professor da COPPE/UFRJ e engenheiro civil especializado em mecânica dos solos, que abordou o tema Fundações: relação entre projeto, execução e controles em palestra realizada em 21 de setembro, no Clube de Engenharia.
Qualidade é fundamental
Para além de mostrar as melhores técnicas nos trabalhos com fundações, tanto em termos de novas obras quanto medições e manutenção de antigas, Fernando Danziger apresentou alguns aspectos atuais do exercício profissional do engenheiro a serem combatidos. Citou, por exemplo, o fato de os profissionais que vão executar obras não receberem dos projetistas detalhadas especificações a respeito da execução. Quanto mais o projetista entender de obra e o engenheiro de obra entender de projeto, melhor vai ser para todo mundo, informou. Mensagens fundamentais foram transmitidas: não vale a pena economizar em investigação geotécnica e em projetos; é um erro que um mesmo departamento de compras faça orçamento de projeto de obra e pequenos itens; e que a investigação geotécnica tem um custo pequeno em relação ao custo global mas tem peso fundamental no resultado do empreendimento. Danziger foi categórico: Com a melhor investigação possível e o melhor projeto possível, a obra vai dar certo.
Modernização
Outro ponto apontado pelo professor foi a necessidade de atualizar as normas brasileiras e os próprios profissionais a respeito das novas técnicas, equipamentos e materiais. Um exemplo são os equipamentos de sondagens a percussão automatizados, que têm diferenças conceituais em relação aos manuais, ainda muito utilizados no Brasil, e que, portanto, podem dar resultados diferentes nos ensaios. Faz-se necessário, então, atualizar as referências utilizadas pelos engenheiros para as medições, como a norma NBR 6484. Segundo Danziger, a engenharia brasileira ainda deve passar algum tempo fazendo tradução de um ensaio para outro, para adquirir maior confiança no uso dos automatizados. Referenciando o engenheiro austríaco Terzaghi, o professor diz que só é possível aplicar experiência prévia em uma nova estrutura se essa tiver condições semelhantes às anteriores. O óbvio precisa ser dito, afirma, e traz como exemplo os novos materiais utilizados em obras, como o gesso cartonado que, em alguns casos, vem tomando o lugar da alvenaria. Com diferente capacidade de redistribuir deformações, é preciso mudar as metodologias e atualizar as tabelas e referências.
Valorização da engenharia
Por fim, Fernando Danziger deixou algumas mensagens aos presentes, principalmente aos estudantes. Primeiro, a respeito das oportunidades do país: Nós temos um país para construir. Para a engenharia civil, aqui é uma mina de ouro, afirmou, mencionando o déficit habitacional, problemas de transporte, esgoto, aeroportos e metrô. A respeito da crise pela qual passa o Brasil, afirmou que não basta construir, há que se transformar a nação. Por fim, ressaltou a importância de os profissionais terem coragem de recusar a execução de obras em más condições, sejam financeiras, de prazo, etc, e voltou a falar dos projetos detalhados. A chance de uma obra dar certo sem um projeto decente e um executivo decente é quase nenhuma, concluiu.
Palestra Milton Vargas
A palestra do professor Fernando Danziger foi a 12ª palestra Milton Vargas da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), que a cada ano conta com um palestrante de destaque escolhido pela diretoria nacional da associação, o qual faz a apresentação itinerante em diversas partes do país. Segundo Manuel Martins, chefe da Divisão Técnica de Geotecnia, trata-se de uma palestra bastante relevante para estudantes, pesquisadores e engenheiros em geral. O evento homenageia o professor Milton Vargas, ícone da engenharia geotécnica, um dos primeiros a lecionar mecânica dos solos no país, no início dos anos 40, e um dos fundadores da ABMS. Milton Vargas, que faleceu em 2011, publicou diversos livros, tanto sobre engenharia quanto ciências e filosofia, além de dezenas de artigos em revistas.