Será que existem Estados-nação amigos? Ou todos os países consideram os demais seus adversários? Diante da revelação de que vinha sendo espionada pelos Estados Unidos, a primeira ministra da Alemanha, Angela Merkel, afirmou: não se faz isso entre amigos. De fato, entre os amigos existem certas normas não escritas que devem ser sempre obedecidas, senão perdemos o amigo. Mas será que existem Estados-nação amigos? Ou todos os países consideram os demais seus adversários? Quando eu me declaro nacionalista econômico, muitas vezes as pessoas se surpreendem. Não seria o nacionalismo uma atitude política ou uma ideologia superada? Não viveríamos em uma sociedade global na qual os Estados-nação perderam relevância? Estas são perguntas originárias da ideologia neoliberal e globalista que foi hegemônica no mundo entre 1979 e 2008. Viveríamos em um mundo sem fronteiras. Na verdade, tratava-se de mera estratégia de dominação. Em sua qualidade de potência imperial do nosso tempo, ou de Hegemon, como seus ideólogos preferem, os EUA propagaram a tese de um Ocidente democrático e amigo que teria que enfrentar alguns inimigos necessários --antes, a União Soviética (o que fazia algum sentido), hoje, a Rússia e a China. A espionagem realizada pela NSA é uma evidência do quão absurda é essa tese. Revela mais uma vez o nacionalismo dos americanos e seu governo. Os EUA estão voltados para seus próprios interesses --os de sua segurança nacional, que justifica tudo, e os interesses das grandes empresas, a base de sua riqueza. Diante da espionagem americana revelada por Edward Snowden (um traidor, segundo os EUA), os demais países, principalmente os europeus, supostamente os amigos íntimos, se declararam indignados. Mas nada fizeram, diferentemente da presidente Dilma Rousseff, que cancelou sua visita de Estado aos Estados Unidos. Nada fazem porque sabem qual é a regra do jogo. Esta regra é a do interesse nacional, do realismo, que justifica inclusive a espionagem generalizada. Quando a competição entre os Estados-nação é uma relação entre iguais, a expressão realismo é suficiente. Quando é entre o poderoso e o fraco, precisamos falar de imperialismo por parte do dominante e de nacionalismo por parte daquele que está ameaçado de dominação. Os grandes países europeus pensavam-se iguais aos Estados Unidos. Na verdade, sempre que a relação é entre o forte e o fraco, há imperialismo, e a única forma de contê-lo é o nacionalismo: é a nação se unir diante das pressões da potência imperial; é a nação não se submeter ao mais forte. Hoje só existe uma potência imperial mundial: os Estados Unidos. As demais são regionais. A França é imperial em relação ao Norte da África e ao Oriente Médio. O Brasil e a Argentina são imperiais em relação ao Paraguai e à Bolívia. O imperialismo de uns e o nacionalismo necessário de todos não impede a colaboração entre as nações e a construção de instituições internacionais sólidas. A regra não é apenas competir; é competir e colaborar. Mas a solidariedade necessária entre os seres humanos não pode ser confundida com dependência ou subordinação. |