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Engenharia de obras

Texto de ALEXANDRE ANTONIO DE CASTRO ROSA - 12 de fevereiro de 2014 1271 Visualizações
Engenharia de obras
 
A Engenharia é uma ciência experimental por natureza. Remonta há uns cinco mil anos atrás e já desde aqueles tempos o homem repetia tudo aquilo que dava certo e descartava as ideias que não funcionavam. Os mais experientes ensinavam os seus ajudantes, e os mais curiosos e ousados aprimoravam as diversas formas de fazer a mesma coisa. Criou assim as “Rotinas de Serviço”, que acompanham os serviços técnicos de Engenharia até os dias de hoje.
As “Normas Técnicas” foram introduzidas para disciplinar as atividades de construção; Assim a Engenharia passou a ser uma Ciência Técnica também. Os modelos Matemáticos sustentam as teorias de Estabilidade e Segurança das Obras, tornando-as confiáveis, seguras e duráveis.
As exigências do mundo moderno obrigaram a Engenharia a desenvolver duas técnicas para atender aos serviços de Obras: O Planejamento e a Logística. O engenheiro de Obras tem um desafio diário: manter todos os serviços, inclusive administrativos, funcionando simultaneamente e ainda ficar atento quanto à qualidade do serviço em geral. Tem também que dimensionar e coordenar os serviços de seus auxiliares, que igualmente devem ser experientes, cada qual em sua atividade. 
Nenhuma destas atividades acima descritas, e das muitas Rotinas de Serviço de uma obra, pode ser ensinada em um curso de Engenharia sem a presença do Professor e dos alunos na Obra. Esta impossibilidade é que confere a importância diferenciada do Profissional de Obras. Engenheiros de Obra tem que ter Currículo e não cursos de Mestrado (MS) e/ou de Doutorado (PHD).
A importância destes outros Profissionais, professores mestres ou não, são relativas e restritas às especialidades por eles escolhidas, mas a experiência de Gerência de Obras e Gestão de Contratos é única, e confere ao mesmo a referência necessária para diferenciá-lo, assim como um curso de Pós-Graduação ou Doutorado. A experiência é fundamental para o engenheiro de Obras. 
Todos os índices de produtividade dos Equipamentos e da Mão de Obra dos serviços de Engenharia são auferidos nas Obras. Portanto quando quisermos falar em prazos e custos de Obras devemos nos reportar ao Engenheiro de Obras. É também da experiência do Engenheiro de Obras, na administração dos canteiros, alojamentos, refeitórios e oficinas de campo que saem as bases para se determinar os custos indiretos das obras.
Sabemos que nada disto pode ser transmitido em salas de aula e que apenas os conceitos de produtividade, produção e de logística macro são teorizáveis. Os muitos programas de Planejamento de Obras, tipo MS Project, só funcionam bem se houver a inserção de dados confiáveis e a adequação deles a uma específica obra. Não basta saber tudo sobre os programas e o computador. Alguém tem que saber o que deve ser informado ao programa, e para que serve aquilo que vem pronto do computador. Somente engenheiros de Obra podem relacionar todas as atividades necessárias de uma planilha de serviços, quais serviços serão executados primeiro e quais podem ser executados paralelamente, quais equipamentos são os mais adequados e dimensioná-los para as diversas tarefas.
Grandes obras como Usinas Hidroelétricas, Ferrovias, Rodovias, Portos etc., dependem de três recursos técnicos imprescindíveis para serem executadas dentro de parâmetros razoáveis de custo e tempo: Engenheiros experientes neste tipo de obra, um bom Projeto e um bom Planejamento. Não se admite erros, as exigências normativas são rígidas e a fiscalização rigorosa. Além dos altos investimentos necessários, as consequências de uma ruptura beiram uma catástrofe.
É bom a gente ter tudo isto sempre em mente, porque atualmente existe uma enxurrada de denúncias e reclamações com relação às grandes obras que não acabam nunca e custam o dobro do que foram contratadas. Tribunais de Contas e Controladorias atiram para todos os lados procurando responsáveis pelos supostos crimes mas, ninguém procura o engenheiro de Obras para opinar sobre o assunto. A Engenharia, como um todo, vem sendo atrelada a crimes e criminosos injustamente exatamente porque aqueles que acusam não sabem do que estão falando. De outro lado, não vemos as instituições que supostamente representam a área técnica fornecer informações adequadas à mídia.
Por exemplo, os Tribunais de Contas e Controladorias insistem em dizer que todas as Obras tem que ter o menor preço, caso contrário já é tratada como “sobre preço” e consequentemente existe corrupção e deve ser aquela Obra paralisada. A Lei de Licitações fala em vantajosidade para a administração pública e não apenas em menor preço. A expressão “asfalto sonrisal” retrata bem esta questão do mais barato, e o país do jeitinho está se tornando também o país do baratinho. Quando se lê alguns acórdãos do TCU, confirma-se a inexperiência em Obras dos Engenheiros analistas dos tribunais, que são mais preocupados com a lei do menor preço, do que com as Normas Técnicas e as boas práticas da Engenharia de Obras.
Eles solicitam aos Construtores e às Empresas estatais a composição de preços dos item que eles desconfiam estar acima de um valor comparativo por eles determinados. Após aprenderem como se faz uma composição de preços eles insistem com seus “mestres” que aqueles preços ainda estão acima de uma média ou mediana comparativa com outras obras semelhantes.
Os índices de produtividade de equipamentos e mão de obra são dados sigilosos das empresas por motivos óbvios. Tem o mesmo tratamento dos segredos industriais das diversas empresas mundo afora; todos estes dados são frutos de anos de pesquisa de cada empresa em diversas áreas. Algumas empresas são mais competitivas que outras em alguns serviços, mas não em todos. Muito confuso e inútil os questionamentos do Tribunal, eles servem apenas para negociar preços com as Construtoras. O que o Tribunal deveria exigir das Estatais é um orçamento bem feito, antes da assinatura dos contratos.
As Licitações, conforme art. 4º da Lei nº 8666, são públicas e abertas às Empresas capacitadas a executá-las; Se existem desconfianças, o próprio ritual da Licitação já permite a intervenção de qualquer órgão público ou não. Qualquer processo licitatório demora em média seis (6) meses até a assinatura do contrato. Tempo mais do que suficiente para que haja uma fiscalização prévia e, se for o caso, a paralisação do certame. Com isso evita-se o maior prejuízo de todos – paralisar uma grande obra. Deveria haver uma Lei proibindo tal iniciativa, seja por qualquer motivação. Finalizando, modificar projetos, papéis, programas de computador é fácil e não custa nada; paralisar uma grande obra custa milhões e não resolve problema algum, ao contrário criam-se dezenas de novos problemas.
(Alexandre Antonio de Castro Rosa, especialista em execução de grandes obras: UHE Marimbondo, UHE Itumbiara,UHE Itaipu, outras, Ferrovia Norte-Sul, pós-graduado na Michigan Tecnological University-USA em Mecânica dos Solos e Fundações)