Não é novidade o ceticismo com que são vistas as ações de sustentabilidade das empresas. No Brasil e no mundo, nota-se certa desconfiança – justificável, aliás – de que, pelo interesse de associar as suas marcas e reputações a um tema visto com simpatia pela sociedade, as corporações exageram nos discursos e economizam nas práticas. Com a intenção – pouco nobre – de parecerem mais responsáveis do que são. Confesso que este tipo de julgamento sempre me incomodou em seu aspecto de generalização. Mais de 15 anos trabalhando em consultoria para a sustentabilidade empresarial, vi de tudo um pouco: de empresas claramente resistentes ao tema – aquelas que o repudiam por julgá-lo custo extra e desvio de finalidade – a empresas genuinamente interessadas em fazer a mudança para a sustentabilidade, ainda que numa velocidade inferior à que seria desejável, dados os alertas da ciência sobre as mudanças climáticas e o esgotamento de recursos naturais. Esse desconforto foi, sem dúvida, uma das razões pelas quais decidi criar em 2011 a Plataforma Liderança Sustentável. E, a partir dela, registrar, com base na narrativa de CEOs, as histórias de empresas que estão fazendo a transição para um modelo de negócios mais sustentável, mostrando como pensam, agem, tomam decisões e em que valores acreditam os seus “líderes sustentáveis”. Mas por que focar em narrativas de líderes e não em business cases tradicionais? A liderança costuma ser um fator fundamental de sucesso para o tema da sustentabilidade. Isso ficou evidente quando, em 2010, depois de um longo estudo – que resultou no livro Conversas com Líderes Sustentáveis (Senac-SP/2011) –, constatei que a sustentabilidade avança mais em companhias nas quais é vista como oportunidade, está inserida na estratégia de negócio, existe uma preocupação de envolver públicos de interesse e, sobretudo, há um ou mais representantes da alta liderança envolvidos com o tema e com o desafio de incorporá-lo à cultura da empresa. Documentos mais recentes produzidos no âmbito do Pacto Global das Nações Unidas tratam da necessidade de um novo tipo de líder para os desafios do século 21. Mais do que um gestor diferenciado, ele deve ser capaz de operar estratégias de negócios que resultem em benefícios econômicos, ambientais e sociais, influenciando na transição para uma nova economia, menos intensiva em carbono, mais eficiente no uso de recursos naturais e inclusiva. Segundo nossa experiência, esse “líder sustentável” – ainda uma exceção no Brasil e no mundo –, distingue-se do perfil convencional por quatro aspectos básicos: (1) acredita nos valores que estruturam o conceito de sustentabilidade e os pratica, com rigor, nas suas decisões cotidianas; (2) não aceita mais como legítimo nenhum lucro obtido em prejuízo do planeta e da sociedade; (3) tem coragem para promover mudanças em modelos mentais forjados na velha economia; (4) enxerga a sustentabilidade a partir da ótica da oportunidade e trabalha, com incrível energia, para inseri-la no core business. Integram a Plataforma Liderança Sustentável 30 líderes de grandes empresas brasileiras, entre as quais algumas emblemáticas em sustentabilidade. São os casos de Guilherme Leal (co-fundador) e Alessandro Carlucci (presidente), da Natura, empresa que fabrica cosméticos com respeito à biodivesidade e à cadeia de valor. Fazem parte também do movimento Carlos Fadigas, Paulo Nigro, Franklin Feder e Carlos Terepins, presidentes respectivamente de Braskem (líder global na produção de plástico verde), Tetra Pak (cuja embalagem hoje é 100% reciclável), Alcoa (que realizou em Juruti, no coração da Amazônia, uma das mais ricas e documentadas experiências de mineração responsável do planeta) e Even (a primeira construtora a certificar ambientalmente parte dos seus empreendimentos residenciais). São dignas de nota ainda as experiências de Britaldo Soares, presidente da distribuidora de energia AES Brasil, que incluiu desafiadores temas de sustentabilidade no planejamento estratégico da companhia, e de Marcos Madureira e Roberto Setúbal, líderes respectivamente de Santander e Itaú, bancos reconhecidos internacionalmente por suas práticas e compromissos de sustentabilidade. É justo se perguntar: o que fazem líderes como estes, e outros de companhias como Promon, Fibria, Unilever, PepsiCo, Whirlpool, Masisa, IBM, Votorantim Metais, Duratex, Samarco, Itaipu e Schneider Electric num movimento como a Plataforma Liderança Sustentável? Suas histórias ajudam a educar jovens líderes de negócio para a importância e urgência de liderar com valores. Contribuem, enfim, para provar que lucro e sustentabilidade devem caminhar juntos. Ricardo Voltolini é uma dos primeiros consultores em sustentabilidade empresarial do Brasil. É diretor-presidente da Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade, idealizador da Plataforma Liderança Sustentável, e autor dos livros “Conversas com Líderes Sustentáveis” (Senac-SP/2011) e “Escolas de Líderes Sustentáveis” (Elsevier/2014). |