A história baiana aliada à sua dimensão e localização geográficas sempre foram favoráveis ao exercício profissional nos diversos ramos da engenharia. Apenas para efeito de constatação, é possível citar grandes empresas nos setores da construção civil, agropecuária, energia, automobilística e, sobretudo, petroquímica que, com o Polo de Camaçari, propiciou o desenvolvimento industrial da região e a criação de marcos importantes, colocando o Estado em posição de destaque em nível nacional. Nesse contexto, deve-se frisar o papel que a universidade tem no atendimento da demanda por esses profissionais. Em particular, a Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), na qual atualmente estão implantados 11 cursos de graduação, tradicionalmente direciona suas especialidades e áreas de conhecimento para as necessidades de mercado. Entretanto, na esfera científica, os resultados ainda eram pouco expressivos, mesmo quando comparados apenas com aqueles da região Nordeste. Comumente, recém-formados, interessados em atuar também na pesquisa e obter uma maior qualificação, eram e ainda são motivados a buscar cursos de pós-graduação do tipo Stricto Sensu, principalmente, no eixo sul-sudeste do país. Embora a Escola Politécnica pudesse contar com pesquisadores renomados, a sua defasagem estrutural, a falta de divulgação e interesse da sociedade como um todo colocavam os programas de pós-graduação em engenharia em uma disparidade competitiva com as grandes instituições brasileiras. Contudo, alguns fenômenos do mundo moderno contribuem fortemente para a atividade de pesquisa. O desenvolvimento econômico e o número elevado de informações cada vez mais rápidas mediante diversas vias de comunicação promovem o intercâmbio do conhecimento entre pesquisadores das instituições nacionais e, inclusive, internacionais. Assim como deve ser em outras áreas, hoje, as especialidades da engenharia indicam uma mera formalidade. Necessita-se, dessa forma, um conhecimento mais amplo, e não estritamente específico. Seguindo essa filosofia, foi criado em 2007 o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial (PEI) da Ufba. O PEI partiu de uma estratégia inovadora na Bahia, compreendendo uma pluralidade nos temas de engenharia que envolvem linhas de pesquisa tanto para a atividade acadêmica quanto para o desenvolvimento de soluções tecnológicas para a indústria. Com um corpo docente de mais de 20 doutores mesclados em engenharias distintas, o Programa quebra um paradigma da comunidade científica, a de que os pesquisadores devem estar concentrados em suas respectivas áreas de conhecimento nos programas de pós-graduação. Decerto, há grupos de pesquisa afora que adotam esse procedimento descentralizador, já muito bem experimentado nos países europeus e da América do Norte. Sem embargo, ainda é uma minoria no Brasil, dado o conservadorismo e corporativismo, encontrados frequentemente nos ambientes universitários. O fato é que com seu caráter multidisciplinar, o PEI conquistou um resultado inédito na Bahia. Pela primeira vez na história, um programa baiano de pós-graduação em engenharia foi colocado no patamar das elites nacionais na última avaliação trienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Com quase 20 teses de doutorado e mais de uma centena de dissertações de mestrado desde sua criação, os números são bastante significativos em termos de produtividade científica: são mais de 100 artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais de impacto relevante; mais de 200 publicações e apresentações em eventos e mais de 10 patentes depositadas. Outrossim, o PEI consolida sua importância regional e de liderança na pós-graduação em engenharia da Bahia, manifestando oficialmente seu apoio aos programas do Estado, implantados por meio de parcerias entre a Ufba, governo estadual e diversas instituições públicas e privadas da Bahia e do Nordeste. Ante o exposto, embora os pesquisadores do PEI estejam cada vez mais engajados no que concerne às suas produções científicas e técnicas, sabe-se que Ciência só é bem justificada quando claramente traz benefícios à sociedade. No entanto, as perspectivas são bastante promissoras se forem utilizadas como referências as bem sucedidas parcerias de cooperação entre os programas de pós-graduação da elite nacional e os polos industriais. Certamente, contribuir para o avanço tecnológico, qualificação de recursos humanos, desenvolvimento econômico e, portanto, geração de emprego e renda é uma maneira eficiente de efetivar mais um marco importante para a engenharia da “Boa Terra”. *Marcus V. Americano da Costa Filho é professor-doutor da Ufba e pesquisador do PEI |