A nova mão de obra do Porto de Santos
“O Porto ainda é um mistério para a Cidade e as pessoas também não conseguiram identificar o potencial que lá existe. Da mesma forma, sabemos que o trabalhador braçal não está em extinção, mas não tem a mesma força de antigamente por causa das novas tecnologias. Então, como equilibrar? Investir em qualificação e estar preparado para o novo porto que está em plena construção”.
O conselho é do especialista em Recursos Humanos (RH) Carlos Roberto dos Santos, que atua há mais de 19 anos no complexo portuário santista e, atualmente, é coordenador de RH na Libra Terminais Santos.
De forma lúdica, ele acredita que a evolução da mão de obra do setor, processo iniciado com a antiga Lei dos Portos, a 8.630, de 1.993, vive fases semelhantes àquelas da Revolução Industrial, iniciada em meados do século 17, na Europa.
“A predominância pública (service port ou porto de serviço) foi mesclada repentinamente com a iniciativa privada (no modelo landlord port, com o porto tendo um proprietário que arrenda suas áreas). E os reflexos (dessa mudança) na área de mão de obra são sentidos até hoje”, afirma Santos.
Nessa mudança, a chegada de novas tecnologias foi decisiva para que o perfil do trabalhador portuário de Santos fosse alterado. A cultura que já existia, porém, foi e é a maior resistência.
A dificuldade de encontrar mão de obra qualificada para assumir postos de trabalho na área pode ser, com isso, comprovada, garante Santos. Para ele, houve um “apagão de qualificação” que só agora, nos últimos cinco anos, está sendo revertido. Foi preciso convencer de que é preciso atualizar conhecimentos para poder atender ao mercado, cada vez mais exigente e competitivo.
O especialista lembra que o ambiente portuário visa inquestionavelmente lucro: maior produção com menor custo. A industrialização portuária, com a chegada dos terminais privados, portanto, foi o fator decisivo para a quebra do paradigma. Mas o empecilho para o desenvolvimento pleno – entre outros fatores – está no não acompanhamento do próprio trabalhador.
Mudança
Carlos Santos, ao tratar sobre o assunto, faz uma alusão à relação do ponto de ônibus, que sempre fica parado; do passageiro, que espera um tempo para poder entrar no coletivo; e do próprio ônibus, que sempre está circulando, para sintetizar o raciocínio. “O porto está se transformando tão rápido e se você ficar parado um pouco mais pode ser prejudicial. É um caminho sem volta”.
O especialista em RH, que na última semana esteve na EscolaSuperior de Administração, Marketing e Comunicação (Esamc) de Santos para ministrar uma palestra sobre o assunto,ressalta ainda a chegada do novo marco, a Lei 12.815 de 2013. Nela, a questão da qualificação do trabalhador avulso para se tornar um trabalhador contratado ficou mais evidente.
“Não achamos um equilíbrio, pois ainda estamos estudando esse contexto”, diz. Ele afirma, comparativamente, que o Porto de Santos aproximou-se ou atingiu a segunda fase da revolução industrial, principalmente com a chegada definitiva de terminais de uso privado (TUP) – instalações que ocupam áreas privadas e são operadas por empresas, diferentes dos terminais públicos, que também são explorados por firmas, mas ficam em áreas da União – e com o aperfeiçoamento das novas tecnologias utilizadas.
Carlos Roberto, que além da experiência em gestão de pessoas, é filósofo, crê que o segredo para o futuro esteja na busca constante pelo equilíbrio no ambiente do trabalhador portuário, seja aquele da área administrativa como a do operacional. “Na Antropologia, o estudo constante do homem em seu meio é fundamental. A luta e a resistência da classe sempre vão existir, mas as transformações também”, afirmou.